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Artesanato: Uma morada para os ofícios

Os mestres artesanais portugueses apresentam–se em força na Feira Internacional do Artesanato mas a exposição mostra, de forma inequívoca, que aquele não é o espaço indicado para eles.

02 de Julho de 2016 às 10:15
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A Feira Internacional do Artesanato (FIA), aberta até domingo na FIL, em Lisboa, mostra que mais do que nunca Portugal precisa de uma morada para os ofícios. O que o Pavilhão 1 da FIA (onde está alojada a oferta nacional) mostra é que os ofícios artesanais portugueses estão mais potentes do que nunca. Com efeito, a criação oficinal atingiu escala e virtuosismo, num vasto leque temático.

Há muita criação que se funde com arte, como é o caso das inúmeras propostas de joalharia e cerâmica, a recuperação e a criação de objectos práticos a partir de materiais antigos (como a lã, o couro e o junco), ou a utilização desses mesmos materiais, como o couro, para propostas de design, em áreas como a moda. Há ainda propostas extremamente originais nos temas do papel e da madeira, e isto apenas para nomear alguns dos pontos mais visíveis da oferta.

O grande problema é que estes ofícios e os seus mestres não têm morada. Começando pelo espaço FIL. Este é tudo menos indicado. O gigantismo dos pavilhões torna-os desoladores, a luz é má, o sistema de "uma caixa, um artesão" não permite o contacto e a observação cuidada e, acima de tudo, toda a oferta prefere, compreensivelmente, quantidade, em lugar de um "editing" minimalista, que seria o mais adequado.

Apesar de tudo o espaço FIL é quase sagrado, comparado com a maior parte dos outros que os artesãos têm disponíveis. Estamos a falar, na maior parte das vezes, de espaços ao ar livre, ocupados por feiras mais ou menos organizadas, ou os pequenos ateliês que alguns possuem, quando não produzem nas suas casas. Perante esta inadequação, poderia pensar-se que os poderes públicos, a começar pelos autárquicos, teriam já pensado numa solução que poderia passar, ao primeiro olhar, por uma grande casa-oficina dos ofícios, que tivesse capacidade para acolher os mestres. Mas, indica a experiência internacional, como também a nacional, se tivermos em conta a LX Factory em Lisboa, ou a Ferreira Borges no Porto, que os eventuais ganhos comerciais acabam por ser anulados pela massificação, gerada pela enorme intensidade da procura, que procura os locais em jeito de romaria.

Talvez a solução mais indicada, analisados mais uma vez os casos internacionais de sucesso, seja a de os poderes públicos subsidiarem o aluguer de espaços em zonas marcantes das cidades, para que o ateliê-loja possa ter tanta visibilidade como as marcas globais. De facto, o que não se entende é que poderes, agentes, urbanistas e arquitectos não desencadeiem a discussão de um tema tão importante.

Na verdade, estamos a falar de ofícios que geram o mais alto valor na escala do comércio. É que são bens únicos, de produção artesanal e criados em quantidades limitadas. Estamos a falar, claro, da construção de uma identidade e de uma distinção portuguesa.



*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.

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