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Artesanato português: Manufacturar uma narrativa

A cimeira do luxo, realizada esta semana em Lisboa, mostrou o caminho aos criadores e artesãos portugueses, mas a oportunidade de ouro poderá ser perdida.

20 de Maio de 2017 às 09:00
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A Cimeira do Negócio do Luxo (Business of Luxury Summit), organizada pelo Financial Times esta semana em Lisboa, deixa, ou confirma, uma mensagem fundamental para os artesãos, criadores e designers portugueses.

Não é, de modo algum, uma mensagem nova, mas ganha especial importância porque foi transmitida no nosso canto, por alguns dos "players" mais relevantes deste segmento de topo do mercado, como é o caso do responsável da Hermès, entre outros, e porque foi disseminada com especial ardor e entusiasmo.

No essencial, a mensagem assenta na confirmação de que uma das vias mais promissoras e desejáveis para a continuação da existência de bens de luxo é a da manufactura com autenticidade e estatuto histórico. A aposta nesta via assenta em dois racionais. O aumento do poder de compra da classe média global tornou os produtos de luxo demasiado acessíveis e comuns.

A manufactura permite a criação de produtos únicos e com uma narrativa, isto é, um qualquer estatuto postulado por uma linhagem histórica, uma tradição antiga ou um produto com raízes numa comunidade. Deste modo, parece existir um horizonte de mercado fantástico para os nossos designers e artesãos, dada a quantidade de matérias-primas que sempre trabalhámos, da cortiça ao barro, passando pelos têxteis ou pela madeira, e de artes que sempre cultivámos, da cerâmica à tecelagem, passando por tantas outras.


No campo dos bens de luxo, os criadores portugueses têm uma oportunidade de ouro de passarem da obscuridade  para a liderança.


E, efectivamente, como periodicamente tem sido assinalado nestas páginas, nos últimos cinco anos têm surgido projectos fantásticos, e têm aparecido designers e artesãos notáveis, que colocam no mercado bens de topo, se tomarmos como referência os "standards" do mercado global.

No entanto, como desesperadamente tem vindo a ser assinalado de modo regular nestas páginas, a maior parte destes projectos será, e está a ser, de extinção rápida. Há um conjunto nuclear de razões para que assim seja, das quais destacamos a visibilidade, o preço e o profissionalismo. No primeiro campo, a presença dos projectos no território virtual, que é fundamental, como bem insistiram os conferencistas na cimeira do luxo, é inexistente ou totalmente amadora, assente em "templates" primários que não permitem interacção.

Ao mesmo tempo, a visibilidade dos artesãos no território físico é ainda reduzida, estando limitada a feiras ou a pequenas lojas com dificuldade de sobrevivência. No segundo campo, os artesãos e designers insistem em preços que o mercado nacional não suporta, e que são pouco concorrenciais no mercado global, o que faz com que os negócios se tornem pouco rentáveis. No terceiro campo, os criadores revelam ainda sinais gigantescos de amadorismo, como por exemplo, o de não assinarem as peças, ou recusarem projectos à medida da procura.

No campo dos bens de luxo, os criadores portugueses têm uma oportunidade de ouro de passarem da obscuridade para a liderança, mas se estes problema estruturais não forem atacados, irão certamente perder o comboio para os líderes no terreno global, os britânicos, os italianos e os escandinavos.


Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.


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