Se alguém disser que num determinado edifício residem mais de 600 pessoas, a primeira ideia é pensar que o prédio em causa é gigantesco e, provavelmente, nem sequer é em Portugal. Um erro. Há um prédio, na Reboleira, concelho da Amadora, que na primeira semana de novembro albergava 611 pessoas, na maioria imigrantes. E não é caso único. Naquela localidade há diversos outros que são como aldeias, mas com uma população superior, acolhendo gente de diversas nacionalidades, cada qual vivendo como a vida lhe permite. Até há gente que, para poder dormir um pouco, espera nas escadas pela saída dos companheiros de casa que estão a ocupar as camas.
Rua António Sérgio, Praceta da Árvore, Rua dos Cravos Vermelhos. Qualquer uma destas artérias, entre diversas outras, serve para ilustrar aquilo que bem se poderia designar como Nova Katmandu, Pequena Islamabade, Bissau 2.0, Segunda Mumbai, Cabo Verde Vezes Dois, Alô Goiânia ou tudo o mais que a imaginação permitir.
O Negócios entra na Reboleira num fim de tarde, hora de regresso de grande número de trabalhadores estrangeiros ali residentes. Saem apressados da estação ferroviária e mais apressados ainda dirigem-se para as enormes torres habitacionais construídas no início da década de 170 por J Pimenta. "Fique atento àquelas janelas. Não tarda nada e vão aparecer sete ou oito indivíduos. Vão cozinhar aquelas comidas indianas, ou paquistanesas ou lá o que é. O cheiro não fica só no prédio. Sente-se em toda a rua. E não é apenas para o jantar. Também deve servir para o almoço de amanhã para alguns deles", alerta um dos moradores da torre com o número 14 da Rua António Sérgio. Momentos depois, todo o espaço envolvente cheira a fritos, a chamuças, a especiarias. "Eu não lhe disse? Agora veja o que é ter a roupa estendida ali à volta", diz Manuel Mota.