Os dados coligidos pelos Censos 2021 mostram que o número de famílias constituídas por apenas uma pessoa aumentou de forma significativa em Portugal na última década: eram 866.827 em 2011, são agora mais de um milhão (1.027.871 – uma subida de 19%). Representam quase um quarto (24,8%) dos agregados familiares e há mudanças significativas na caracterização etária das pessoas que vivem sozinhas. Os reformados continuam a ser a maior fatia deste grupo, mas há muito menos jovens (queda de 23% entre os 20 e os 40 anos) e cada vez mais pessoas na faixa etária entre os 40 e os 60 anos, com um aumento de 30%.
Este será, certamente, o dado mais interessante que se retira dos números: a quantidade de pessoas em Portugal que estão a viver sozinhas, sem que essa realidade corresponda ao início da sua fase de independência ou à perda de parceiro numa idade avançada. Mas como "ler" estes números? As dificuldades provocadas pela volatilidade do mercado de trabalho e a subida dos preços do imobiliário atrasam a saída dos jovens de casa dos pais. Os divórcios têm aumentado, o que gera novas famílias, monoparentais para quem fica com os filhos, unipessoais para quem não tem menores a cargo. Há trabalhadores deslocados, imigrantes, novos hábitos de socialização.
E sobre toda esta realidade paira uma sombra muito difícil de quantificar: a solidão. É uma verdadeira pandemia do século XXI – por paradoxal que possa parecer, nunca como nesta era de globalização e comunicação instantânea à distância, houve tanta gente a sentir-se sozinha. Em alguns países, a consciência aguda deste problema já levou mesmo à criação do Ministério da Solidão (Reino Unido e Japão são exemplos disso), em Portugal ainda se reclama atenção governamental. Citado pela CNN Portugal, em fevereiro do ano passado, Adalberto Dias de Carvalho, diretor do Observatório da Solidão, defendia a criação de uma Secretaria de Estado para essa área.