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Para que conste, Donald Trump sente-se injustiçado. Pode despedir o director do FBI, mas não consegue nem guardar segredos nem fugir ao embaraço russo. Se pudesse, despedia boa parte dos media. Não pode. Por cá, os números da economia provocam azia à direita. Mas não chegam a perturbar o embandeiramento da esquerda. Valha-nos Salvador.

António José Teixeira 19 de Maio de 2017 às 13:00
segredos. Há uma dúvida que paira desde a eleição de Donald Trump. Até que ponto o Presidente dos EUA está nas mãos da Rússia? Na aparência, pelo menos, nunca um presidente americano pareceu tão embaraçado por um líder russo. São demasiados os indícios de ligações a Moscovo da entourage de Trump e da sua família. Algo impensável na história americana. Negócios e política cruzados antes e depois das presidenciais. O despedimento do director do FBI, quando decorre uma investigação ao envolvimento russo no processo eleitoral, foi um tiro no pé que o pode fazer cair. A revelação de que Trump pediu para se fechar a investigação e de que passou informação «altamente secreta» sobre o Daesh a dirigentes russos só reforça a ideia de que tem algo a esconder e a temer. Donald Trump é tão indomável como irresponsável. Não distingue nepotismo de serviço público nem entende os limites do exercício do poder. A erosão da credibilidade e da autoridade americanas é uma evidência que nem os mísseis e as bombas conseguem esconder. Mais Trump é sempre demais.

crescimento. Não vale a pena embandeirar em arco, diz Marcelo. A expressão é marítima e aplica-se ao engalanar dos navios em dias festivos. Serve o embandeiramento para manifestar regozijo e saudar outras embarcações. Os 2,8% de crescimento económico no primeiro trimestre, estimados pelo INE, podem dar azo a embandeiramentos, como nos navios mais alegres. E compreender-se-ão, tendo em conta as baixas expectativas que rodeavam esta governação. Houve quem prognosticasse o pior, o diabo até. As reversões de políticas só poderiam dar naufrágio, novo resgate, o preço a pagar pela alteração do rumo da governação. Nos últimos meses, boa parte dos indicadores fundamentais melhoraram, da taxa de desemprego ao défice, da confiança dos consumidores ao saldo primário das contas públicas, das exportações ao crescimento da economia. Não podendo contrariar os resultados, o PSD optou por nova argumentação. Afinal, tudo isto é fruto das políticas do anterior governo… Como? Então as reversões, o diabo e o novo resgate? Os 2,8% de crescimento não justificam embandeiramento. Devem ser estímulo à continuidade do trabalho. O peso da dívida não aconselha galhardetes, bandeiras ou cornetas. Muito menos falhas de memória e de discernimento. É preciso alimentar o crescimento e não diminuí-lo. Passe a evidência.

migrações. A sustentabilidade demográfica de Portugal é talvez o nosso maior pesadelo. Nem o da dívida será tão forte. A Fundação Francisco Manuel dos Santos encomendou um estudo sobre a evolução da população residente entre 2015 e 2060. Sem migrações, a população portuguesa vai diminuir dos actuais 10,4 milhões para cerca de 7,8 milhões, em 2060. Concluem os autores que a entrada de mais imigrantes e a redução da emigração é vital para a sustentabilidade do País, seja ao nível demográfico, do emprego ou do alívio nas contas da segurança social. Mais imigrantes e menos emigrantes não travarão o envelhecimento, mas podem desacelerar a marcha. Só para se ter uma ideia do que está em causa, basta dizer que teríamos de ter como saldo migratório mais 27 milhões de imigrantes do que de emigrantes. Só assim conseguiríamos travar o envelhecimento da população no intervalo 2015-2060. Um cenário irrealista, mas que nem por isso nos dispensa de trabalharmos nestas duas direcções: abertura à imigração e resistência a uma emigração volumosa.

ciberataque. Sabemos que a Internet é poderosa, a rede mais larga que alguma vez existiu. Mas, como tudo o que é grande, é vulnerável. Trata-se de um organismo com vida própria, capaz de albergar uma infinidade de utilizadores e de permitir conexões ilimitadas. Funciona como espaço de comunicação e de partilha, logo susceptível a contágios construtivos e destrutivos. Hoje, uma parte significativa da infraestrutura de comunicações dos estados, das empresas e dos indivíduos assenta no digital, em servidores distribuídos pelo mundo. Os ciberataques, que atingiram empresas e serviços dispersos pelo mundo, visam também a vida social e política. Pirataria, sabotagem, mas também manipulação cirúrgica. Interesses económicos e políticos como alvos privilegiados e orientados ao mais alto nível. De uma guerra mais ou menos convencional estamos a evoluir para uma guerra digital. Igualmente temível. Basta olhar para a fragilidade de um hospital ou de uma campanha eleitoral.

salvador. Fica na história da música portuguesa por um justo e inusitado impacto internacional. Salvador Sobral venceu na Eurovisão com uma canção que era tudo o que o festival não costuma ser. Venceu sem quaisquer artifícios, sem grandes campanhas, contrariando o cânone estabelecido. Venceu contra a corrente, mas não foi por isso que venceu. O que justificou o aplauso, o elogio, a admiração, a comoção até, foram a autenticidade, a beleza e a emoção que, de tão genuínas e poéticas, cativaram meio mundo. Foi bonito e não deixou ninguém indiferente. Como disse Salvador, «a música não é fogo de artifício, é sentimento». Não é que o artifício não possa auxiliar a arte, mas sem autenticidade não se chega longe. Longe e perto. Salvador tocou-nos e deixou-nos um exemplo. Nas artes, ou noutras dimensões da vida, vale a pena sermos nós próprios e darmos o melhor de que formos capazes. É bonito de dizer e possível de fazer.

tetra. Eu, benfiquista, me confesso. O tetra tomou conta das praças e alegrou muitos de nós. Juntou-se a outras alegrias, tónicos fundamentais para a dureza dos dias. Mas além da filiação futebolística, o tetra tem um simbolismo que ultrapassa qualquer clube. Há muito que Pitágoras se deixou fascinar pela série dos quatro primeiros números. A sua soma é igual a 10, um número perfeito que permite um melhor conhecimento de nós próprios e do mundo, uma harmonia, ponto de partida para todas as coisas. Os elementos terrestres conjugam-se com a união do espírito e da matéria. A série dos quatro primeiros números identifica-se com o oráculo de Delfos. O mito de Delfos ocupa-se da busca de Zeus pelo ponto médio da Terra. Para o determinar, Zeus fez voar duas águias de dois extremos do mundo. Encontraram-se em Delfos. Em resumo, um tetra que é uma série de quatro números, que perfaz 10, um número perfeito, ponto médio da Terra e ponto de encontro de duas águias. Veremos que fará o Sport Lisboa e Benfica com este tetra. Para já, saboreia-o. Fica Bem.

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