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Folha de assentos

Há muitas personagens que movem o nosso destino. Umas mais inspiradoras do que outras. Nomes e rostos de uma barca carregada de passado sem grande imaginação para o futuro. Talvez Robinson Crusoé ajude…

12 de Maio de 2017 às 13:00
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europa. "As pessoas saem à rua para defender a separação de poderes, não saem à rua por uma décima de PIB". António Costa sublinhava assim que a existência de regras comuns não põe em causa a democracia na Europa. O que põe em causa o projecto europeu, diz Marcelo Rebelo de Sousa, é a pouca convicção nos seus valores. Marcelo e Costa, os antigos professor e aluno e actuais inquilinos de Belém e São Bento, dissertaram sobre a Europa na Faculdade de Direito onde se encontraram há 30 anos. Em matéria europeia nada os separa, apenas parecem disputar o campeonato do optimismo, algo que falta no Velho Continente. A escassez de optimismo anda estreitamente ligada com inoperância e falta de convicções. Fez-se crer que optimismo é sinónimo de irresponsabilidade. A percepção geral é que um optimista é um irrealista. Talvez por isso, Marcelo cole o epíteto a Costa. A verdade é que o maior dos optimistas portugueses é Marcelo. É o que transparece de manhã à noite, selfie após selfie. E Costa não lhe fica atrás. Se melhorarem a autoconfiança do País bem lhes poderemos agradecer.

macron. Um dia Alain Minc perguntou a Emmanuel Macron o que faria dentro de 30 anos. Respondeu-lhe sem hesitação: "Serei Presidente da República". Nunca tinha disputado uma eleição, apresentou-se às presidenciais e tornou-se Presidente da República Francesa. Macron tem pressa. É focado. Atravessou vários mundos em pouco tempo: académico, financeiro e político, e neles deixou marcas fortes. Agora, o grande desafio da conquista do Eliseu é unir a França, hoje muito fragmentada. E para isso precisa de conseguir uma maioria política nas próximas legislativas. A sua Republique En Marche dificilmente será suficiente para uma maioria parlamentar. Mas é a grande novidade da política francesa. Quem sabe, o motor de uma renovação política à esquerda e à direita. A França precisa de acreditar em si própria e a Europa de não se iludir. Os franceses excluíram Marine Le Pen, mas não subscreveram as políticas europeias. O voto no europeísta Macron é um voto de esperança na mudança: na França e na União Europeia.

trump. Todos os dias há motivos para lamentar a má sorte da chegada de Donald Trump à Casa Branca. O despedimento do director do FBI não é apenas mais um. Já sabíamos que despedir é um prazer para Trump e se James Comey soube do despedimento pelos alertas dos jornais isso é só uma questão de estilo. O problema é a substância. Comey foi nomeado por Obama há três anos e não terá gerido bem a questão dos emails de Hillary Clinton. Abriu e fechou a investigação durante a campanha, o que só prejudicou a candidata. O seu adversário chegou a dizer que, se fosse eleito, a mandaria prender. Não mandou. Nas últimas semanas, ganhou clareza a interferência russa na eleição presidencial americana. Assim a confirmou Comey no Congresso, onde deveria voltar na próxima semana. Talvez não chegue despedir o director do FBI para estancar uma investigação que pode chegar à porta de Trump. Os democratas já propõem um procurador especial…

pizarro. Talvez tenha sido um crescendo de autossuficiência de Rui Moreira ou de ingenuidade de Manuel Pizarro, a verdade é que o divórcio entre o independente Rui Moreira e o PS, no Porto, surpreendeu os socialistas. Há quatro anos, Moreira precisou dos socialistas para ter maioria na Câmara do Porto e fez um acordo de governação municipal. Agora, não precisará. Moreira tinha o PS no bolso à custa de Pizarro, que lhe deu o seu apoio sem contrapartidas. Daí o nervosismo do aparelho socialista e as pressões sobre o autarca independente. Pairou decerto a máxima do Contra Informação: "Os independentes são muito imprevisíveis…". E também a sensação de enxovalho, de que o PS estava a ser "enxotado", como observou Passos Coelho. Não teve outro remédio Pizarro senão repetir a candidatura. Há quatro anos, perdeu copiosamente para Moreira. Agora, depois de partilhar a gestão municipal, que espaço terá para enfrentar o adversário/aliado? Uma campanha sui generis.

fátima. Muitos caminhos vão dar a Fátima ou não fosse um dos principais centros europeus de peregrinação. As visitas papais acentuam a sua capacidade de atracção e a presença do Papa Francisco reforça o acontecimento. São muitos os crentes, talvez mais os descrentes. Fátima não faz parte da doutrina católica. Será uma questão de fé individual. Haverá muitas Fátimas em Fátima. Em qualquer caso, reconheça-se a dimensão de um somatório enorme de convicções, chamamentos, de fraquezas tornadas força. Fátima já era nome religioso. De outras fés. A exploração das visões de há um século tornou-se também uma bandeira política que ajudou o salazarismo. Os "segredos" foram aliados do combate ao comunismo, nascido no mesmo ano. Seja ou não seja um dogma de fé, Fátima é uma das maiores atrações do catolicismo europeu. Que importam as dúvidas sobre as visões dos "pastorinhos"? A verdade inequívoca é que a criação de Fátima, como diz o jornalista João Céu e Silva, excedeu todas as expectativas…

crusoé. Os livros não são apenas palavras inamovíveis. São histórias que se podem desafiar. Nas palavras, na tipografia, no corpo das letras, nas fontes, nas imagens, nas cores, no papel… Manuel S. Fonseca é um dos nossos melhores editores. Diverte-se, como poucos, a fazer livros encantadores. Gosta de clássicos e, talvez por isso, chamou a sua editora de Guerra & Paz. Preocupado com o futuro do livro e com as leituras das novas gerações, lançou agora uma nova colecção de clássicos da literatura: "Os Livros Estão Loucos". Começa com "Robinson Crusoé contado tipo aos jovens", uma versão breve do original de Daniel Defoe, escrita por João Resende e pelo próprio Manuel S. Fonseca. Preserva-se o fascínio da narrativa de 1719, actualiza-se o vocabulário e encena-se a fantástica aventura. Um deslumbramento para a vista com letras que bailam, que crescem e encolhem, frases que transbordam das páginas... Uma ideia louca que cativa a leitura.


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