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França a votos, também pela Europa. Por estes dias, há muito em causa para o nosso futuro. No trabalho, na sustentabilidade das sociedades contemporâneas, há desafios que exigem compromisso e clareza de valores.

05 de Maio de 2017 às 13:00
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debate. Há muito não se via um debate tão acalorado. Emmanuel Macron e Marine Le Pen frente a frente não terão cativado os indecisos, mas consolidaram decerto as suas bases de apoio. Ficou clara a maior agressividade e a maior impreparação de Le Pen. Igualmente clara a segurança de Macron face ao ataque continuado da sua opositora. No final, a ela, chamaram-lhe "candidata da indignação". A ele, "candidato das soluções". Duas faces da França, de uma França muito fragmentada, como se vai ver nas legislativas que se seguem às presidenciais. Não é absolutamente seguro que Macron ganhe. Até porque, ao contrário do que aconteceu há 15 anos com o embate Jacques Chirac - Jean-Marie Le Pen, os que se opõem à extrema-direita estão divididos. Há alegados democratas na esquerda e na extrema-esquerda que são indiferentes à xenofobia e ao populismo. O Charlie Hebdo pergunta esta semana, em letras garrafais, na primeira página: "É mesmo preciso fazer-vos um desenho?". Agradou-me a tranquilidade frontal do olhar de Macron. Talvez seja um bom prenúncio para uma Europa à beira de um ataque de nervos.

trabalhador. Será que o trabalho vai continuar a desvalorizar-se? E as desigualdades a alargar-se? E a precariedade será a regra? A robotização destrói emprego? As interrogações são pertinentes, mas não as ouvimos no 1º de Maio. Tão pertinentes, que exigem respostas consequentes. Desde logo, tendo em consideração que a natureza das economias e do próprio trabalho está em mudança profunda. A globalização trouxe desregulações e as condições de trabalho tornaram-se mais agressivas. Há muito não fazia tanto sentido lutar pela dignificação do trabalho, contar com sindicatos lúcidos e preparados, que defendam também os que não têm trabalho e os que são esmagados pelas novas engrenagens. Por isso, olhar hoje para o mundo do trabalho exige um olhar mais largo e uma outra atitude. Há novas formas de organização do trabalho, partilhas, colaborações… A economia tende a ser circular: produtos e serviços transformam-se e reciclam-se continuamente. Há compromissos laborais que protegem o emprego e a empresa. O futuro do trabalho passa pela qualificação e inovação permanentes e pela capacidade de colocar na agenda política a tão esquecida Europa social.

dívida. É um pesadelo que transportamos sem boa solução à vista. A vontade e a determinação não chegam para honrarmos as responsabilidades. Para sermos bons pagadores temos de ser bons produtores de riqueza. E para que isso aconteça são precisos esforço e melhores condições de pagamento. Reflectir sobre esta questão exige realismo e consciência do nosso historial. Nos últimos 13 anos, citando as contas de Bagão Félix, o aumento da dívida pública per capita foi 7,4 vezes superior ao aumento da riqueza produzida per capita. A preços constantes, o PIB de 2016 é praticamente igual ao de 2004 e 2,2% mais do que no início do século. Dá que pensar. Por isso, o contributo do grupo de trabalho do PS e do BE sobre a sustentabilidade da dívida externa é valioso. Se o relatório é a 15ª versão ou se os bloquistas se moderaram e os socialistas passam discretos pouco importa. Importa é que há ideias que devíamos colocar na agenda pública, mesmo que seja depois das eleições francesas e alemãs. Estranho que partidos de governo não encontrem melhores leituras do que o «deitar a mão às reservas» ou a «viola da reestruturação metida no saco»… Discussão responsável precisa-se.

sms. Já quase todos se esqueceram das SMS de António Domingues, o gestor da CGD que ficou mais conhecido por não querer apresentar a sua declaração de rendimentos ao Tribunal Constitucional do que pelo que fez pelo banco público. Terá havido um acordo com o ministro das Finanças e a prova disso seriam as SMS que trocou com Mário Centeno. Como o ministro negava e Domingues afirmava, PSD e CDS não se deram por satisfeitos. Nem chegava uma comissão parlamentar de inquérito. Formou-se outra para dirimir a contradição, que ficou conhecida pela comissão das SMS. Domingues voltou há uma semana ao Parlamento. Não é que nenhum deputado do PSD ou do CDS lhe perguntou pelas SMS! Apenas um deputado do PCP quis saber como Lobo Xavier tinha tido conhecimento das mensagens. Resposta: "Não partilhei SMS com ninguém [nem] lhe entreguei documentos ou mostrei". Palavras para quê... Importam-se de não brincar às comissões de inquérito?

100. Donald Trump já leva mais de 100 dias como Presidente dos EUA. O marco vem de Roosevelt ao discursar sobre os 100 dias dedicados a pôr em marcha o New Deal. E pôs mesmo, com uma vitalidade legislativa incomum. Os 100 dias de Trump não justificam muitas palavras. Nepotismo: família e negócios privados confundidos com negócios públicos. Inconsequência: revogações falhadas, ordens executivas bloqueadas. Contradição: as suas decisões de bombardear alvos na Síria e no Afeganistão eram algo que antes considerava nefasto para os interesses americanos; agora, curiosamente, são as iniciativas mais populares interna e externamente. Beligerância: Congresso, serviços secretos, comunicação social… Donald Trump vive em combate permanente, sobretudo via Twitter. Em resumo, 100 dias de reality show… na Casa Branca.

claques. Há muito que o futebol é bastante mais do que o que se passa dentro dos relvados. E que a competição entre equipas e clubes representa combates mais profundos entre tribos. Fenómenos de identificação e de pertença estendem o confronto até domínios de irracionalidade pura. Nada de novo. O que há de novo no futebol português, ou de reincidente, é a luta até à morte entre adeptos de clubes de futebol. As claques nasceram no teatro como conjuntos de profissionais contratados para aplaudir espectáculos. Depois, chegaram também aos programas de televisão em que as plateias riem disciplinadamente. Nos estádios de futebol, assumem-se como bandos de arruaceiros transportados e dispostos em grandes jaulas. Gozam da cumplicidade dos clubes, vociferam, insultam, fazem explodir petardos e convencem-nos de que o futebol é mesmo uma guerra. Não contentes com a degradação que espalham à sua volta, as claques marcam encontros para andar à porrada. E matam, como voltou a acontecer. Como os clubes e as instâncias do futebol não tomam medidas, o Estado não deve demitir-se da obrigação de garantir a segurança de todos. Quem não sabe assistir a um espectáculo, quem parte cadeiras, agride, convoca combates, usa explosivos, não deve gozar da liberdade de todos.


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