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"Será possível que neste mundo ninguém possa governar tranquilo, devido àquela maldita mania que os povos têm de querer estar sempre melhor do que estão?!!" Quino

António José Teixeira 28 de Abril de 2017 às 13:00
sustentável. Diz Marcelo que a flexibilidade do nosso sistema político o torna mais sustentável e mais estável do que os de muitos outros nossos parceiros europeus. Isto é, funciona. Até a benefício da diversidade da representação. Por isso, acrescenta, resistimos à vaga populista que percorre o mundo. Há um ano, o Presidente da República estava preocupado com a coesão e com os "consensos sectoriais de regime". Tinha dúvidas sobre a durabilidade da solução política que suporta o Governo e, por isso, queria outros entendimentos: na saúde, na justiça, na segurança social, no sistema político e no sistema financeiro. Não houve entendimentos. Falhou. Não falhou a "geringonça". Com o seu amparo. Mais confiante, Marcelo coloca agora pressão no Governo quanto ao crescimento económico, o que não invalida a sua convicção de que não haverá alternativa até ao final da legislatura. Realista, baixou a fasquia das expectativas. Percebeu que os consensos não se conseguem só porque o Presidente os enuncia. Se o País continuar a crescer, há um seguro de vida entre Belém e São Bento.

tensões. Virado para o primeiro-ministro, Jerónimo de Sousa diz que há uma contradição entre o cumprimento das metas da União Europeia e a necessidade de crescimento económico. António Costa garante que não. Prefere falar em tensão. Catarina Martins, por seu lado, diz que há contradição e tensão. A semântica pode ser até retórica na circunstância, mas é reveladora da génese da "geringonça". Os acordos à esquerda fundaram-se num mínimo denominador comum. Há indesmentíveis contradições, mas não foram, até ver, impeditivas do cumprimento das metas europeias e dos compromissos internos. Contradições e tensões evidentes. São da própria natureza da solução política. Vão ser ainda mais visíveis com o aproximar da discussão do próximo Orçamento do Estado. Nem por isso serão inultrapassáveis.

primárias. A ideia de abrir os partidos a simpatizantes quando se trata de fazer escolhas fundamentais, como é o caso das lideranças, é sedutora. Favorece sobretudo os desafiadores do poder estabelecido e garante mais participação e mais visibilidade nos processos eleitorais. Foi assim com António Costa quando desafiou António José Seguro. Poderia ser assim com a discussão do poder no PSD depois das autárquicas. É curioso que surja Miguel Relvas a dizer que "está na hora" de discutir eleições primárias. O bandeirante da ascensão de Pedro Passos Coelho a presidente do PSD, há sete anos, aparece agora a acenar com Luís Montenegro como "rosto do futuro". Será cedo para decretar a morte política de Passos Coelho, mesmo que venha a ser nítida uma derrota nas autárquicas. Talvez por isso o fidelíssimo Relvas esteja apenas a provocar os adversários do líder.

palavras. Agora que Emmanuel Macron e Marine Le Pen vão disputar a segunda volta das presidenciais francesas, vale a pena revisitar os seus discursos de campanha. Cécile Alduy, professora de Literatura em Stanford e autora do recente livro "Ce qu'ils disent vraiment - Les politiques prix aux mots", fez para o "L'Obs" um levantamento das palavras mais usadas pelos candidatos. A conclusão é elucidativa. Macron fala sobretudo em Nós, Vós, Eu, Sim, Esperança. Le Pen prefere: França, Franceses, Povo, Nacional, Mundo. "Nem de esquerda nem de direita", a receita Macron passa pela afectividade, pelas emoções positivas e apolíticas. Há ideias interessantes, mas a retórica de sedução é tão vaga como motivadora. Desiludidos com os partidos tradicionais, há eleitores disponíveis para embarcar numa renovação optimista. Ao contrário, Le Pen recorre a símbolos mais identitários, sublinha a soberania nacional face à globalização selvagem. "Candidata do povo", tira partido do descontentamento e da revolta dos que se sentem a ficar para trás. Olhando para a escolha das palavras, não podiam ser mais diferentes. Nos próximos dias acentuarão ainda mais o contraste.

vacina. Espantoso que em pleno século XXI se questione a necessidade da vacinação. Parece que a vacinação se está a tornar uma questão de opinião. A ciência tornada impressionismo, petulância de ignorantes atrevidos. Depois de séculos de combate eficaz a epidemias que dizimaram populações, cidadãos irresponsáveis desafiam os progressos na saúde da nossa sociedade. Em doenças altamente contagiosas e mortais, como o sarampo, é inaceitável que a vacina se torne opção. A saúde individual e de grupo não pode ficar ao sabor de "escolhas" irresponsáveis. Estamos perante surtos epidémicos de sarampo na Europa, frutos de ignorância encapotada de alegadas "alternativas". Como se não bastassem o atentado e o prejuízo, ainda temos de levar com paladinos do disparate, armados de palpites. Tempos estranhos estes.

quino. Joaquín Lavado é o nome daquele que quase todos conhecem por Quino. Argentino, filho de imigrantes andaluzes, ganhou renome mundial com a irrequieta Mafalda, que ocupou 50 anos de banda desenhada e continua ainda a ser reimpressa. O mundo do humorista não é apenas este. Há um antes e um depois de Mafalda. E podemos vê-los em Vila Franca de Xira, na Cartoon Xira 2017. Aí encontramos 100 desenhos de 60 anos de humor: do primeiro trabalho - "La naturaleza y la calle" -, de 1954, até obras dos últimos anos. A condição humana, a massificação das sociedades, os poderes, a morte… são os temas de sempre do seu universo céptico. No Celeiro da Patriarcal de Vila Franca de Xira, além de Quino, está patente uma selecção de cartoons portugueses de 2016: obras de António, José Bandeira, Brito, André Carrilho, Cid, Cristina Sampaio, Vasco Gargalo, António Jorge Gonçalves, Maia, Rodrigo de Matos e Cristiano Salgado. A não perder.

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