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Durabilidade é a palavra-chave do futuro da construção

Durabilidade, adaptabilidade e redução de resíduos são determinantes para a construção. O setor avisa que é preciso capacitar empresas e trabalhadores. Já o arquiteto Gonçalo Byrne diz que novas exigências são incompatíveis com adjudicações ao preço mais baixo.

28 de Maio de 2020 às 17:00
Miguel Baltazar
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A durabilidade dos edifícios é palavra-chave no caminho da sustentabilidade do setor da construção. Mas isso não se faz com adjudicações aos preços mais baixos nem sem a capacitação das empresas e dos seus recursos humanos.

“Construir e renovar de forma eficiente em termos de utilização de energia e dos recursos” foi assumido como uma das ações principais no roteiro europeu. E se “as empresas não vão deixar de corresponder a este desafio”, Manuel Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), avisa que isso “vai exigir de toda a sociedade um esforço coletivo para investir em soluções mais sustentáveis” e aos governos o apoio “à transição para a denominada economia circular”.

O Pacto Ecológico Europeu, recorda, identifica preocupações como o combate ao risco de pobreza energética por parte de muitos agregados familiares, o apoio às famílias disponibilizando financiamento para a reabilitação ou as infraestruturas inteligentes, mas principalmente, diz, o parque imobiliário. Por essa razão, Bruxelas assumiu o objetivo de duplicar a taxa anual de renovação do edificado que atualmente se situa, à escala europeia, entre 0,4% e 1,2%, prevendo uma “onda de renovação dos edifícios públicos e privados” a qual “pode também impulsionar o setor da construção”, e contemplando também a necessidade de “dar importância à renovação de escolas e hospitais”.

Neste quadro, Manuel Reis Campos avisa que “Portugal tem de acompanhar esta estratégia europeia, com o objetivo da neutralidade climática, mas “têm de ser, paralelamente, criadas as condições de capacitação das empresas e dos seus recursos humanos”. Se o caminho está na durabilidade, adaptabilidade e redução e gestão de resíduos, “incorporar as perspetivas do edifício ‘carbono zero’ e a lógica dos ‘nearly zero energy buildings (NZEB)’ devem constar dos princípios orientadores para o investimento público e privado”, o que exige “novas competências”.

Pela dimensão deste setor, o presidente da CPCI não tem dúvidas de que vai ser “um processo necessariamente moroso e complexo”, e ainda que considere que estamos numa fase inicial, salienta que as exigências em todo o ciclo de construção e manutenção das edifícios “já são muito significativas”.

Também o arquiteto Gonçalo Byrne vê nas metas a que Portugal se comprometeu no Tratado de Paris como “um desafio gigantesco”. Em seu entender, “a durabilidade, resiliência da construção, é muito importante em termos de sustentabilidade”, mas “em Portugal é ignorada”.

Em causa, explica, estão os custos da construção, da manutenção e sobretudo da demolição. “Estes custos têm de ser repensados. A construção em Portugal só se tem preocupado com o custo da construção, os promotores imobiliários e o próprio Estado só adjudicam obras ao preço mais baixo”, afirma, considerando, no entanto, que assim “é impossível dar a volta na perspetiva da construção com pouca pegada ecológica”. É que construção a custos baixos faz disparar os custos de manutenção, de exploração e de desconstrução, avisa. “Uma obra para ser muito barata tem de usar materiais e técnicas construtivas que vão obrigar que em cinco a sete anos se tenham de fazer investimentos de manutenção”, explica.

Em seu entender, “adjudicar ao custo mais baixo é incompatível com a exigência do projeto da sustentabilidade”, defendendo que este é um critério que devia efetivamente ser “ponderado na contratação de projetistas e concursagem das obras”.

 

A economia circular é um caminho incontornável, mas têm de ser, paralelamente, criadas as condições de capacitação das empresas e dos seus recursos humanos.

 

Não obstante todo o trabalho desenvolvido, ainda estamos numa fase que podemos considerar inicial.manuel reis campos
Presidente da CPCI

 

 

A durabilidade da construção é muito importante em termos de sustentabilidade, mas em Portugal é ignorada.

 

Adjudicar ao custo mais baixo é incompatível com a exigência do projeto de sustentabilidade.Gonçalo Byrne
Arquiteto

 

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