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Hortas ganham terreno nos escritórios

São várias as empresas em Portugal - desde tecnológicas até restaurantes e hotéis - que estão a plantar hortas nos seus escritórios. O reforço das relações entre colegas e a oportunidade de fazer pausas em contacto com a natureza são alguns dos argumentos.

12 de Maio de 2021 às 11:00
As hortas estão a tornar-se espaços de convívio e lazer nos escritórios. Os produtos cultivados são consumidos pelos trabalhadores ou entregues a causas solidárias. DR
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E se um espaço de convívio no escritório fosse uma horta? Microsoft, Natixis e Farfetch são algumas das empresas que alinharam nesta ideia. É entre morangos e couves que os trabalhadores têm cultivado um novo ponto de encontro que lhes traz bem-estar, afirmam as três.

"A horta é um espaço de lazer, de interação e de partilha", explica a gestora de marketing e comunicação da Natixis em Portugal, Nádia Leal Cruz. Pausas, refeições, eventos internos e trabalho colaborativo são algumas das utilizações que dão a este espaço criado em 2019. A empresa acredita que a horta contribui "para o fortalecimento da cultura" corporativa ao estimular a interação entre pessoas de diferentes equipas. "Este tipo de iniciativas ganha ainda mais importância depois de um período longo de isolamento imposto pela covid-19. Entre as equipas há uma partilha enorme de conhecimento e experiências, mesmo à distância", conta Cruz.

O retorno desta iniciativa traduz-se essencialmente no envolvimento dos colaboradores e nas oportunidades para momentos de partilha diferentes. Rita Piçarra, CFO Microsoft Portugal 

A Microsoft, que inaugurou a horta em março de 2020, concorda: "O retorno desta iniciativa traduz-se essencialmente no envolvimento da comunidade de colaboradores e na criação de oportunidades para momentos de partilha diferentes", diz Rita Piçarra, a responsável financeira (CFO) em Portugal. Isto porque, face à situação de pandemia e de teletrabalho, foi criado um grupo no Microsoft Teams com os voluntários, em que se partilha a evolução da horta - a qual ficou agora a cargo de uma equipa externa. Em paralelo, estes trabalhadores são incentivados a criar uma horta em casa.

No período de pandemia, a Farfetch também recorreu a uma equipa externa para manter a horta, além dos 20 voluntários de várias equipas que "zelaram pela continuidade desta iniciativa". O objetivo inicial era unir os interessados em agricultura sustentável, "promovendo o trabalho em equipa e estimulando momentos de bem-estar e de libertação do stress em contacto com a natureza". Nos primeiros tempos foram realizadas vários workshops com temas relacionados com as hortas em ambiente urbano, sustentabilidade, compostagem e ecologia.

5.000Horta
A Farfetch investiu 5.000 euros na criação da horta, e despende 125 euros mensais na manutenção.

A satisfação dentro da empresa é tal que a Microsoft já decidiu duplicar o espaço de horta, passando de 25 camas de cultivo para as 50 até ao verão de 2021: os 15 voluntários iniciais ampliaram para uma comunidade local de 105 membros. No escritório da Natixis, o número de voluntários tem subido todos os meses, contando agora com 70.

Já no escritório da Farfetch produzem-se cerca de 395 quilogramas a cada ano de produtos hortícolas, desde alfaces, couves e nabos até morangos, e são maioritariamente usados pela equipa da cozinha na confeção dos alimentos que são disponibilizados aos "farfetchers" de forma gratuita. Na Microsoft os produtos são distribuídos pelos trabalhadores que vão visitando, excecionalmente, o escritório da empresa, mas também já foram doados à Junta de Freguesia do Parque das Nações e à associação Re-food. Na Natixis, a totalidade dos vegetais tem como destino instituições de cariz social.

Apenas a Farfetch revelou o valor do investimento. Despendeu 5.000 euros inicialmente, aos quais soma, todos os meses, 125 euros para a manutenção.

Aposta na sustentabilidade

As três empresas - Natixis, Microsoft e Farfetch - são unânimes num dos grandes méritos do projeto em termos de sustentabilidade: a consciência ambiental que este promove entre os colaboradores. Além disto, a Noocity destaca que as suas hortas poupam até 80% no consumo de água quando comparadas com um sistema de horta convencional, e que são seguidas boas práticas de agricultura biológica e permacultura, sem recorrer a pesticidas ou químicos de síntese na produção.

A semente no pé das hortas

A Noocity é a start-up que está por trás das hortas da Microsoft, da Natixis e da Farfetch, mas também de outras 67 empresas. Os clientes vão desde hotéis, residências de co-living, até escolas e restaurantes. O Crowne Plaza Porto, o Sheraton Cascais e a Porto Business School são outros exemplos, sendo que este último cliente é aquele que possui a maior horta, com 70 camas de cultivo. Varandas, terraços ou jardins: tudo serve para instalar uma horta, que só exige uma boa exposição solar e o acesso a um ponto de água. Dela podem brotar qualquer tipo de legumes, pequenos frutos ou ervas aromáticas. Para a manutenção das hortas estão sempre disponíveis os "growers", que são agricultores experientes que fazem o acompanhamento local de cada projeto.

O escritório terá um papel cada vez mais social e de networking, e é por isso que precisa de ser cada vez mais atrativo.  José Ruivo, CEO Noocity

Esta start-up surgiu do desejo de três amigos de terem uma vida mais próxima da natureza sem abdicar da vida da cidade, explica o CEO e cofundador, José Ruivo. Inicialmente, queriam apenas permitir aos mais citadinos o cultivo dos seus próprios alimentos, mas o conceito evoluiu para chegar a empresas e condomínios.

Esta evolução, na visão de José Ruivo, faz sentido pois "o escritório terá um papel cada vez mais social e de networking na vida dos colaboradores, e é por isso que precisa de ser cada vez mais atrativo, colaborativo e um local onde se vai e quer ir para estar com outras pessoas e partilhar experiências". Paralelamente, com as novas tecnologias a imporem-se, estes espaços vêm permitir um "detox digital" e "um regresso ao mundo físico", assim como uma reorientação para um estilo de vida mais calmo, consciente e onde a natureza tem um papel mais preponderante. "As hortas são uma ferramenta para mudar. E este é o momento certo para o fazer", conclui.


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