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Primeiro bairro solar do país estreia-se em Belas

A EDP registou a primeira comunidade de partilha de energia solar em Portugal. Uma alternativa que vem gerar poupanças na fatura dos clientes e acelerar a transição energética.

15 de Julho de 2020 às 12:00
O Lisbon Green Valley é o primeiro exemplo a nível nacional de uma comunidade de autoconsumo coletivo.
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O primeiro "bairro solar" em Portugal já está registado. É em Belas, no empreendimento Lisbon Green Valley, que vai nascer a primeira comunidade de partilha de energia solar do país.

São duas moradias as protagonistas deste projeto: estas vão poder partilhar com as doze casas que as rodeiam toda a energia que produzam, através dos seus painéis solares, mas que não cheguem a utilizar.

Quando foi legislada a questão de autoconsumo vimos que éramos um match perfeito. Gilberto Jordan
Presidente da Planbelas, gestora do Belas Clube de Campo

"Quando foi legislada a questão do autoconsumo vimos que éramos um match perfeito", explica Gilberto Jordan, presidente da Planbelas, a gestora do Belas Clube de Campo, onde se localiza este empreendimento. "Os compradores reconhecem que é um fator diferenciador."

Este é o primeiro exemplo a nível nacional de Comunidade de Autoconsumo Coletivo de Energias Renováveis (CACER), um regime que está previsto na lei desde o início do ano, e dentro do qual a EDP criou o produto "bairro solar".

A proposta da EDP é assumir o investimento dos painéis solares e instalá-los. Depois, passa a vender a eletricidade produzida pelos painéis com desconto, tanto para os produtores como para os vizinhos. A energia que não for consumida por nenhuma das partes vai ser injetada na rede. Para agilizar o processo, a EDP compromete-se a gerir a comunidade, identificando vizinhos para cada produtor. Os clientes interessados em assumir qualquer um destes papéis já se podem inscrever no site da elétrica, e ter acesso a uma simulação dos eventuais consumos.

Com os bairros, com menos instalações, podemos alimentar muito mais pessoas a energia solar. Vera Pinto Pereira
CEO da EDP Comercial e administradora na EDP 

O processo de Belas está agora nas mãos da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) e, assim que chegar a aprovação, passa a estar operacional. Depois, o objetivo é que passe a abranger 100 lares do empreendimento até ao final do próximo ano. Para já, o perímetro máximo de um bairro vai ser definido caso a caso pela DGEG, mas em Espanha o raio é de 500 metros.

Além Belas

Nos próximos cinco anos, a EDP quer espalhar cerca de 15.000 bairros solares pelo país, correspondentes a 150 megawatts. "Gostava de ter alguns para anunciar até ao final do ano", afirma a CEO da EDP Comercial, Vera Pinto Pereira. Moradias, prédios ou até empresas podem tornar-se produtores. "Já temos cerca de 90 megawatts de instalações solares em clientes em Portugal e, muitas vezes, se a empresa ampliasse um pouco a sua instalação, podia alimentar a comunidade à volta", explica Pinto Pereira. Além disso, esta lógica "dá uma resposta muito positiva aos condomínios" que, até agora, tinham no autoconsumo individual apenas a possibilidade de partilhar consumos comuns, como os elevadores.

O investimento futuro é difícil prever, tendo em conta a rápida evolução da tecnologia. Mas para já, a estimativa é que o investimento em Belas chegue aos 120 mil euros, à medida que o bairro for crescendo.

No poupar está o brilho

Os ganhos são para os clientes mas também para a sustentabilidade, realça a EDP. Os produtores vão ter direito a um desconto de 40% sobre a energia solar consumida, enquanto para os vizinhos o desconto é de 20%. Para as moradias que estreiam o bairro em Belas, as poupanças deverão rondar os 400 a 500 euros ao ano, mas este valor depende do quanto o produtor ajusta o consumo para tomar partido das horas de sol.


15000
Novos Bairros
A EDP planeia que num prazo de cinco anos o número de bairros solares no país ascenda aos 15.000, ou seja, um total de 150 megawatts.

40
Desconto
Os produtores vão ter um desconto de 40% sobre a energia solar consumida, além da isenção de custos que pesam 30% na fatura.



Além deste benefício, o Governo aprovou em junho a isenção total dos custos de interesse económico geral (CIEG) nos projetos de autoconsumo coletivo que sejam aprovados até ao final de 2021, por um período de sete anos. Estes custos pesam 30% no valor total da fatura, de acordo com o regulador da energia.

No que toca à sustentabilidade, as duas unidades de Belas devem poupar uma tonelada de emissões de CO2 por ano. "Com os bairros, com menos instalações, vamos conseguir alimentar muito mais pessoas a energia solar", realça Vera Pinto Pereira, alinhando com a meta do Governo de aumentar a produção solar no país em 7 gigawatts até 2030. "É natural e desejável que parte desta ambição seja concretizada através de energia solar descentralizada", conclui Vera Pinto Pereira.


Empresas europeias ganham 41 mil milhões com métodos mais sustentáveis

A Oliver Wyman aponta ganhos relevantes na adoção de tecnologias mais amigas do ambiente e acredita que, após a pandemia, pode manter-se a tendência.

As empresas europeias conseguiram poupar quase 41 mil milhões de euros em custos operacionais depois de terem investido 24 mil milhões de euros em tecnologias eficientes e com baixas emissões de carbono.

Os dados são de uma análise da consultora Oliver Wyman, que se debruça sobre a forma como as estratégias utilizadas pelas empresas para sobreviver à pandemia de covid-19 podem ter o efeito positivo de ajudar a combater as alterações climáticas.

A redução de custos é urgente, tendo em conta as projeções [para a retoma da economia]. Oliver Wyman
Consultora 

"A redução de custos é urgente, tendo em conta as projeções de que a economia levará vários meses - potencialmente anos - a recuperar depois de o vírus desaparecer", escrevem os autores da análise. A consultora realça que o distanciamento social ditou "mudanças radicais" na atividade das empresas que levaram a reduzir "significativamente as emissões de dióxido de carbono. Só na China, o maior emissor do mundo, estima-se que o confinamento feito de janeiro a março tenha reduzido as emissões em 25% no primeiro trimestre.

A Oliver Wyman reconhece que os valores retirados durante o tempo de pandemia são temporários, mas sublinha que esta disrupção deve servir para adaptar os planos de negócio.

As mudanças da covid-19

Um exemplo prático de mudança são as cadeias de abastecimento, que foram "substancialmente" repensadas durante o confinamento e que são "uma das maiores fontes da pegada de carbono". Face às novas condicionantes, várias empresas adicionaram fornecedores domésticos ao seu leque ou reforçaram as encomendas àquelas com quem já trabalhavam. O reforço de relações pode aumentar o poder de influência das empresas nos processos, de forma a exigirem práticas mais sustentáveis. Houve ainda casos em que foram utilizadas impressões 3D para substituir certos componentes em falta.

Outra solução avançada pela consultora para que os ganhos ambientais não desvaneçam durante a retoma é a intervenção dos governos através dos pacotes de estímulo. A sugestão é anexar algumas condições "amigas do ambiente" à atribuição dos estímulos, beneficiando, por exemplo, as empresas com modelos de negócios de baixo carbono e aquelas que canalizam investimentos para infraestruturas verdes.
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