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Donald Trump, o mais bem posicionado candidato para representar os Republicanos nas próximas eleições presidenciais dos EUA, está a fazer campanha contra a agenda climática, ameaçando eliminar regulamentos ambientais cruciais, incluindo desmantelar a Agência de Proteção do Ambiente (EPA, na sigla em inglês), o organismo federal com mais poder para enfrentar a crise climática, noticia o The Guardian.
Durante a sua primeira passagem pela Casa Branca, Trump propôs com sucesso cortar o orçamento da EPA. Centenas de cientistas e outros especialistas deixaram a agência quando a administração descartou descobertas científicas e enfraqueceu as regulamentações ambientais.
Os ataques à agência podem tornar-se ainda mais duros durante um segundo mandato de Trump, dizem os especialistas ligados ao setor. "Penso que seria devastador", disse Michael Gerrard, diretor do Centro Sabin para a Lei das Alterações Climáticas da Faculdade de Direito da Universidade de Columbia, ao jornal britânico.
Também ouvido pelo jornal, Jeff Holmstead, que dirigiu o Departamento de Ar da EPA durante o governo Bush, foi perentório: "Eles vão estar mais bem preparados para fazer coisas que realmente façam a diferença".
Segundo Holmstead, o primeiro mandato de Trump foi marcado por violações de ética e escândalos, algo que atribuiu à falta de experiência. Desta vez, os funcionários de Trump terão planos mais pormenorizados, incluindo uma longa proposta para reduzir as agências reguladoras, o que, segundo Gerrard, teria efeitos em cascata. "Assistir-se-á a uma fuga de cérebros, uma vez que menos jovens quererão trabalhar no país", afirmou. "Veríamos um esforço muito maior em todas as coisas relacionadas com os combustíveis fósseis", além de que "a perspetiva de uma segunda administração Trump já está a deixar os investidores em energia limpa nervosos."
Em entrevista ao Guardian, Mandy Gunasekara, chefe de gabinete da EPA da Administração Trump, criticou a EPA da Administração Biden, considerando-a "excessiva". "Esta administração tem usado a EPA como uma ferramenta para dificultar as indústrias e tecnologias que eles não gostam de operar. A prova é o seu desdém pelos combustíveis fósseis".
Uma segunda EPA de Trump, disse Gunasekara, promoveria relações mais estreitas com a indústria de combustíveis fósseis - um setor que os cientistas dizem que deve ser eliminado gradualmente para evitar uma catástrofe climática - e cortaria programas focados na justiça e na divulgação que não são "parte da função principal ou não cumprem a missão principal".
Isso significaria encerrar o gabinete de Justiça Ambiental e Direitos Civis, que Biden lançou no ano passado. Gunasekara descreveu o gabinete como um "braço político da EPA" que não produz benefícios tangíveis. Os gabinetes de Envolvimento Público e Educação Ambiental, bem como o Gabinete de Assuntos Internacionais e Tribais, que poderia ser substituído pelo Gabinete do Índio Americano, mais restrito, também estariam entre os primeiros a desaparecer, escreve o The Guardian.
Uma segunda administração de Trump também iria recuar nos regulamentos da EPA. Nomeadamente, seria revista a proposta para tornar mais rigorosas as normas de poluição por carbono das centrais elétricas a carvão e a gás dos EUA. O mesmo aconteceria com uma proposta da EPA e da Administração Nacional de Segurança do Tráfego Rodoviário para aumentar os requisitos de eficiência de combustível para veículos novos, conhecida como normas Corporate Average Fuel Economy (Cafe).
A última regra tornou-se um alvo principal para Trump, que também atacou os subsídios aos carros elétricos da Lei de Redução da Inflação e prometeu repetidamente revogar o "mandato insano de veículos elétricos" de Biden.