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Ricardo Mourinho Félix: Não haverá transição climática sustentável se não conseguirmos mobilizar financiamento privado

Ricardo Mourinho Félix, vice-presidente do Banco Europeu de Investimento, destaca o papel deste banco como catalisador da transição climática nas empresas. O chamado ‘Banco Climático da União Europeia’ canaliza atualmente 37% do financiamento para projetos de sustentabilidade ambiental, mas o objetivo é chegar a mais de 50% em 2025.

Negócios 21 de Outubro de 2021 às 18:45
Ricardo Mourinho Félix, vice-presidente do Banco Europeu de Investimento
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"O tema das boas práticas e da sustentabilidade é bastante caro e de grande importância para o Banco Europeu de Investimento (BEI). O banco é um dos maiores financiadores de projetos de apoio à ação climática à escala global e, ao longo dos últimos anos, consolidámos a nossa posição como o banco do clima da União Europeia (UE)", começa por situar Ricardo Mourinho Félix, vice-presidente do Banco Europeu de Investimento, na talk "Finanças Sustentáveis - Boas práticas compensam", organizada pelo Jornal de Negócios, a 21 de outubro, onde participou na qualidade de keynote speaker.

Neste caminho, Mourinho Félix afirmou que o banco assumiu um forte compromisso de apoio à transição energética: "Adotámos uma política de financiamento energético que descontinuou o financiamento a projetos de base em combustíveis fósseis. Reafirmámos, então, uma ambição crescente de apoiar a ação climática e a sustentabilidade ambiental. E mais tarde reforçámos este compromisso com a adoção do Roteiro do Banco do Clima. Porque sentimos que hoje existe um real impulso político para a transição verde".

O Roteiro do Banco do Clima que o BEI publicou é uma declinação prática e operacional do Pacto Ecológico Europeu. Neste roteiro, "assumimos o objetivo de aumentar o financiamento dedicado à ação climática e à sustentabilidade ambiental para mais de 50% do nosso financiamento total a partir de 2025. Atualmente, este financiamento representa 37% do nosso financiamento. Estamos a falar de um aumento de 13% num período de 5 anos. É uma ambição significativa", salientou.

No Roteiro do Banco do Clima ficou também assumido o compromisso de alinhar todas as atividades do banco com o Acordo de Paris, algo que está em prática desde janeiro de 2021. São, por isso, aplicados critérios de elegibilidade rigorosos nas operações financiadas. O BEI também já adotou a taxonomia verde europeia, promovendo a sua crescente relevância nos mercados financeiros.

 

Financiar empresas verdes

Na transição climática, são inúmeros os desafios a enfrentar por toda a sociedade. Em termos de investimento, tanto o setor público como o privado são convocados a impulsionar esta progressão para um mundo mais verde. Neste campo, o vice-presidente do BEI considera que "temos de criar condições para mobilizar financiamento púbico e financiamento privado. A despesa pública é sem dúvida fundamental. Mas também o é criar mecanismos que incentivem ao investimento privado, que mobilizem todos os recursos necessários, porque todos os recursos serão necessários para fazer face às alterações climáticas. Para mobilizar recursos privados temos de ter boas práticas na execução de projetos e projetos de qualidade. Não haverá transição climática sustentável se não conseguirmos mobilizar um montante muito significativo de financiamento privado".

Mas como financiar a transição? "Os mercados financeiros terão um papel essencial na transição para a neutralidade carbónica. A procura por investimentos verdes tem aumentado exponencialmente. O mercado das obrigações verdes superou recentemente o limiar de um trilião de dólares. No entanto, estes progressos são pouco significativos quando comparados com o mercado obrigacionista mundial que representa cerca de 120 triliões de dólares", explicou Mourinho Félix.

No final da sua apresentação, em entrevista à diretora do Jornal de Negócios, Diana Ramos, o responsável do BEI reforçou o papel deste banco na dinamização do mercado rumo a uma economia verde, tendo lançado obrigações verdes em 2007 e obrigações sustentáveis em 2018. Para além disso, ajuda a mudar mentalidades através dos critérios de elegibilidade que utiliza para concessão de empréstimos. "Através desta forma como abordamos o mercado e como interagimos com as empresas damos condições para elas próprias certificarem o seu investimento verde e, por essa via, também atraírem investidores para cofinanciar esses investimentos", salientou. Do lado do financiamento do banco, "o grande passo e aquilo que fazemos cada vez mais é financiarmo-nos através de obrigações verdes", acrescentado que "o mercado das obrigações verdes é algo que está a criar tração e a aumentar de dimensão. O papel do BEI é dinamizar esse mercado".

Por fim, uma palavra direcionada a Portugal. O país foi, em termos de empréstimo per capita, o quarto em que o BEI teve maior atividade em 2020, representando uma atividade de 2300 milhões de euros em Portugal. Por agora, o ‘Banco do Clima’ está a desenhar soluções com intermediários financeiros portugueses para ajudar as empresas nacionais a fazerem face à transição climática. Depois de dois anos de prejuízos devido à pandemia, "é preciso que haja um esforço de capitalização e é nisso que temos estado a trabalhar com o Banco Português de Fomento. Teremos notícias em breve", finalizou.

 

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