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Procura por produtos financeiros ESG está a aumentar

A pressão regulatória é um dos principais motores que estão a levar ao “aumento exponencial” de produtos financeiros sustentáveis. Com o mercado a virar-se para os produtos ESG, cresce também a necessidade de escrutínio do curso desses investimentos.

26 de Janeiro de 2023 às 17:00
Pedro Ferreira
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Foto em cima: O debate sobre Produtos Financeiros ESG contou com a participação de Isabel Ucha, Carlos Mourisca, Jorge Sousa Teixeira e Mário Pires. A moderação foi feita pela jornalista do Jornal de Negócios, Leonor Mateus Ferreira.



O painel de debate "Produtos Financeiros ESG - Muita procura para pouca oferta?" deixou bem claro que existe um crescente interesse por produtos financeiros com características de sustentabilidade. "Há uma procura exponencialmente crescente e com uma tendência futura que se continuará a acentuar, por causa da componente regulatória, nomeadamente a taxonomia, pela pressão dos cidadãos, sobretudo mais jovens, na aplicação dos seus investimentos e também pela própria legislação, que vai continuar a pressionar os setores mais carbono-intensivos ou onde há mais problemas de natureza social", contextualizou Isabel Ucha, CEO da Euronext, no início do debate.

As autarquias também podem ser emitentes de obrigações ESG para financiarem projetos de natureza ambiental e social. Podem ter fontes de financiamento alternativas.
Isabel Ucha
CEO da Euronext
Enquanto entidade produtora de índices, a CEO confirmou que a Euronext tem registado este aumento de atividade na medida em que "os investidores querem indexar os seus investimentos a índices que reflitam estes critérios". Porém, reconheceu que esta é também uma transformação no mercado "extraordinariamente exigente" e que tem "um longo caminho" a fazer. Isabel Ucha evidenciou ainda a complexidade à volta da temática ESG (ambiental, social e governação, sigla em inglês), sublinhando que "um dos grandes desafios é explicar aos investidores o que estão a comprar", uma vez que "é dramática tanta sigla". A taxonomia, invariavelmente, é um dos grandes motores da transformação do mercado, mas Isabel Ucha destacou que esta é "uma regulamentação extraordinariamente complexa, enorme, difícil de compreender, portanto, é preciso explicar o que vai acontecer". Por outro lado, isto faz da Europa um "standard setter para o resto do mundo", pelo que Isabel Ucha defendeu que "as entidades e empresas portuguesas devem aproveitar estas oportunidades de financiamento para se transformar" e exemplificou que "as autarquias também podem ser emitentes de obrigações ESG para financiarem projetos de natureza ambiental e social. Podem ter fontes de financiamento alternativas".

A estratégia financeira tem de estar alinhada com a estratégia de sustentabilidade.
Carlos Mourisca
Direção Financeira da EDP
Carlos Mourisca, da Direção Financeira da EDP, contou que a empresa já iniciou esse caminho. "Começámos em outubro de 2018 puxados pelos investidores para emitir verde e já emitidos quase 10 mil milhões", acrescentando até que "desde 2018 só emitidos verde, porque os nossos projetos são verdes, e quanto mais investimos em projeto verdes mais obrigações vamos emitir". Por outro lado, Carlos Mourisca defendeu que a componente financeira não pode ser esquecida, referindo que "a estratégia financeira tem de estar alinhada com a estratégia de sustentabilidade". A crescente regulamentação e necessidade de reporte é também uma preocupação para o gestor, que destacou o aumento de questões feitas por investidores e bancos. No caso da taxonomia europeia, reconhecendo a sua complexidade, evidenciou, no entanto, que é um caminho a percorrer no bom sentido. "Espero que haja estandardização. Provavelmente vamos chegar a um reporte internacional para todos", acredita, defendendo ainda que, neste aspeto, "claramente a Europa está mais avançada do que os EUA".

É importante estabelecer critérios no caminho a seguir para evitar o greenwashing. Nenhum gestor quer passar por isso.
Mário Pires
Diretor do Mercado Português da Schroeders
Mário Pires, diretor do Mercado Português da Schroeders, destacou que é preciso ter muito cuidado com o greenwashing e com alguma falta de credibilidade. "O escrutínio é fundamental", referiu, defendendo que "é importante estabelecer critérios no caminho a seguir para evitar o greenwashing. Nenhum gestor quer passar por isso." Mário Pires referiu também a complexidade associada a este mercado, pelo que "quanto mais simples, melhor". Ou seja, "os produtos mais simples são os que captam mais investidores, por isso, é preciso simplificar", defendeu na sua intervenção. Acredita também que a estandardização acabará por chegar ao mercado.

Existe uma procura crescente, estrutural e sistémica que vai tender a acompanhar toda a oferta que apareça. Jorge Sousa Teixeira
CEO do BPI Gestão de Ativos e professor da Nova SBE
Jorge Sousa Teixeira, CEO do BPI Gestão de Ativos e professor da Nova SBE, também corroborou que "existe uma procura crescente, estrutural e sistémica que vai tender a acompanhar toda a oferta que apareça" de produtos com características de sustentabilidade, sublinhando até que "há um potencial maior do que há de oferta real de green bonds". Porém, na sua intervenção, sublinhou que é exigida mais informação sobre estes investimentos do que aos mais tradicionais. "Quando falamos de produtos de impacto temos de saber para onde o dinheiro está a ir. Estas emissões são monitorizadas e outras não são", acrescentou. Dada a complexidade crescente, Jorge Sousa Teixeira defendeu ainda que a banca deve ajudar as empresas neste caminho. "O trabalho tem de ser feito por nós para depois trabalharmos do lado do engagement e ajudar as empresas a reportarem", disse, sublinhando ainda que todas estas alterações exigem aconselhamento profissional.
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