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Investimento sustentável: de moda a novo normal

Os fundos que seguem objetivos ambientais, sociais e de governo societário (ESG) continuam a crescer, com as gestoras a assumirem como prioridade a inclusão de critérios sustentáveis no investimento.

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Os fundos que cumprem critérios ambientais, sociais e de governo das sociedades (ESG, na sigla anglo-saxónica) estão a crescer rapidamente a nível global e nacional. E a expectativa é que no futuro todos os fundos incorporem fatores sustentáveis nas suas estratégias de investimento. Um movimento no qual as gestoras não querem ficar para trás.

O investimento sustentável tem vindo a entrar progressivamente nas estratégias de investimento nos últimos anos, mas a pandemia da covid-19 marcou um ponto de viragem, com a aposta nos fundos com preocupações ambientais, sociais e de governo das sociedades a dar um salto. Segundo dados da Morningstar, citados pela BNYMellon, o investimento em fundos ESG disparou 72% no primeiro trimestre de 2020 e, no final de junho do mesmo ano, estes produtos geriam 106 biliões de dólares. E este deverá ser o início de um novo ciclo.

"A longo prazo, a covid-19 pode revelar-se como um ponto de inversão para o investimento ESG, ou estratégias que consideram o desempenho ambiental, social e de governo societário de uma empresa além das métricas financeiras tradicionais", argumentam Jean-Xavier Hecker e Hugo Dubourg, corresponsáveis pela área de sustentabilidade da equipa de "research" do JPMorgan na Europa, numa nota.

No mercado nacional, o investimento sustentável está a crescer, mas ainda a um ritmo mais lento. De acordo com os números mais recentes da CMVM, no final de 2019 havia perto de 20 mil investidores com posições nos cinco fundos ESG, que existiam à data. No entanto, desde então juntou-se mais uma gestora nacional - a GNB - à Caixa, ao Santander AM e à IMGA, as entidades que disponibilizam fundos ESG em Portugal.

A gestora do Novo Banco converteu um dos seus fundos num produto ESG (NB Momentum Sustentável) e não vai ficar por aqui. "É objetivo da GNB Gestão de Ativos constituir-se de uma forma estruturada como uma gestora que respeita os princípios de sustentabilidade. Isso está a ser feito de acordo com o nosso planeamento tendo em conta a regulamentação relativa a estas matérias, e esses princípios vão ser visíveis nas estratégias de investimento da gestora", adiantou fonte da entidade ao Negócios, prometendo novidades para breve, "seja através da obtenção do ‘selo’ ESG para produtos já existentes e/ou através do lançamento de novos fundos ESG".

No caso da IMGA, há "um plano de transformação em curso que permitirá, no espaço de dois anos, ter a maior parte dos seus fundos a adotar critérios ESG no investimento realizado, em cumprimento com as melhores práticas de mercado e com a legislação sobre esta matéria". "Para o efeito, estão a ser realizados consideráveis investimentos no sentido de adaptar a sociedade ao nível de meios e recursos para integrar nos procedimentos e processos de investimento os critérios ESG", explica Emanuel Silva, CEO da IMGA.

Apesar da crescente aposta das gestoras nacionais em produtos ESG, o interesse dos investidores é ainda pequeno. "Acreditamos que esse interesse será acentuado quer pelo caminho que o mercado está a tomar, nomeadamente pelo posicionamento da indústria de fundos, quer pela regulamentação a nível europeu no âmbito do investimento sustentável", conclui a GNB.


Quatro gestoras vendem fundos com "selo" ESG

A oferta de fundos com selo ESG no mercado nacional está a aumentar. Há atualmente sete produtos que seguem critérios sustentáveis e são responsáveis pela gestão de perto de 400 milhões de euros.


| Caixa foi pioneira na sustentabilidade

A Caixa foi pioneira no lançamento de fundos que respeitam critérios sustentáveis no mercado nacional. Quando os produtos ESG ainda eram uma miragem em Portugal, a Caixa foi a primeira a lançar um produto com preocupações sustentáveis: o Caixa Investimento Socialmente Responsável. Além deste fundo lançado em 2017, a gestora do banco estatal converteu o seu fundo de obrigações europeias num produto ESG: Caixa Ações Europa Socialmente Responsável.

De acordo com a entidade, a estratégia destes produtos é "investir em empresas que apresentam as melhores práticas em áreas como por exemplo respeito pelos direitos humanos, impacto ambiental ou gestão de recursos humanos e excluir entidades envolvidas em setores considerados controversos". O primeiro fundo sustentável da gestora pertence à categoria de fundos multiativos defensivos, a classe de ativos com maior quota de mercado em Portugal, e mantinha, no final de dezembro, um património de 135,6 milhões de euros em carteira. Já o fundo de ações europeias geria 22,2 milhões de euros.


| IMGA incorpora critérios ESG nas estratégias

A IMGA é uma das gestoras nacionais que tem na sua grelha de fundos produtos com selo ESG. Os fundos Iberia, de dívida e ações, são atualmente os únicos produtos que cumprem critérios de sustentabilidade, mas o objetivo é que, no futuro, todos os instrumentos passem a observar critérios ESG nas suas políticas de investimento.

Assim, além do IMGA Iberia Fixed Income ESG e do IMGA Iberia Equities ESG, que gerem pouco mais de cinco milhões de euros, outros deverão juntar-se a esta denominação, sendo que mesmo sem selo ESG muitos já implementam critérios de seleção de sustentabilidade. "Para uma parte significativa dos fundos geridos pela sociedade são já adotados no processo de investimento os temas relacionados com a sustentabilidade. Processo que será robustecido após ficar concluída a implementação, já em curso, de soluções internas de análise e atribuição de ‘scoring’, as quais, até ao momento, são realizadas com recurso a ferramentas externas, que não respondem de forma completa às necessidades identificadas pela IMGA", explica Emanuel Silva, CEO da IMGA.


| Santander reforça aposta ESG

Depois de o seu primeiro produto com critérios de investimento sustentáveis ter sido bem recebido pelos clientes, o Santander decidiu agora lançar um novo fundo temático com objetivos ligados ao futuro do planeta. O fundo Santander Future Wealth, lançado no final de janeiro, terá como foco de investimento três grandes tendências (sociedade do futuro, tecnologias do futuro e planeta do futuro) divididas em 18 subtemas, entre os quais tecnologia médica, robótica, transição energética e futuro dos transportes, de acordo com a informação divulgada pela gestora.

Além deste produto, a Santander Asset Management já comercializava o Santander Sustentável, um fundo com uma lógica de investimento socialmente responsável, que prevê a aposta em empresas "com as melhores práticas nesta área". De acordo com a gestora, o fundo tem 140 milhões de euros de ativos sob gestão e, em 2020, teve cerca de 26,8 milhões de euros de subscrições líquidas. Em termos de desempenhos, o fundo Santander Sustentável fechou o último ano praticamente estável (0,02%). A dois anos rende 2,85%.


| GNB estreia-se no investimento sustentável

A GNB juntou-se, no final de 2020, à lista de gestoras nacionais que disponibilizam fundos sustentáveis. No decorrer de um processo de incorporação do fundo NB Ações Europa no NB Momentum, a gestora decidiu que o novo fundo se passaria a denominar NB Momentum Sustentável. De acordo com a política de investimento, o fundo "privilegia o investimento em empresas que adotam as melhores práticas ao nível de critérios ESG (ambientais, sociais e de ‘governance’ corporativo). Assim, pelo menos 75% da componente de investimento direto deverá ser realizado em empresas com uma classificação ESG atribuída pela Eikon acima de 50 pontos". Inserido na categoria de ações internacionais, o produto fechou 2020 com uma valorização de 7,6%, segundo a Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Património (APFIPP). O fundo mantinha um volume de ativos sob gestão superior a 85 milhões de euros, no final de dezembro do ano passado e é um dos fundos da gestora com maior património, sendo apenas superado pelo NB Capital e pelo Obrigações Europa.

BlackRock vai reportar impacto climático dos fundos A sustentabilidade é um tema que tem vindo a mudar as decisões e o próprio reporte de informação das gestoras de ativos. Mas esta transição está a ser realizada a ritmos diferentes, com a Europa a liderar o movimento. Mas o investimento sustentável concluiu uma contratação de peso: a BlackRock colocou a sustentabilidade no topo das suas prioridades e a maior gestora de ativos do mundo vai passar a publicar o impacto climático dos seus fundos.

O compromisso foi assumido pelo CEO Larry Fink, na sua carta anual dirigida aos investidores da gestora, na qual adiantou que, além da divulgação do impacto climático dos fundos, vai incluir no seu portefólio produtos verdes e índices sustentáveis, assim como incluir métricas para medir o risco climático, usando o voto dos acionistas para promover esta mudança na estratégia da BlackRock.

Apesar do peso que esta aposta tem para a indústria da gestão de ativos, dado o peso da BlackRock, a maioria das gestoras europeias, como a Allianz GI ou a Amundi, já tinha implementado medidas destas ao longo dos últimos anos e outras estão a acelerar essa mudança. Já este ano, a Schroders anunciou que passou a integrar os critérios ESG na sua análise de investimentos, concretizando o que tinha prometido em novembro de 2019.
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