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Em entrevista ao Negócios, Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, acredita que, na questão da sustentabilidade, "a principal mudança de atitude é de mentalidade".
Quais é que julga que vão ser as tendências estruturantes para o turismo nos próximos tempos?
Acho que já nem são tendências, acho que já é um dado adquirido: a componente da sustentabilidade vai ser cada vez mais presente. Não vou dizer que nos vão exigir, mas a responsabilidade que temos do ponto de vista de gestão de um destino obriga-nos a que sejamos ainda mais sustentáveis a nível ambiental e também social. Isto é algo que não digo que os consumidores vão passar a exigir mas...
A incorporar na altura de fazer uma escolha?
Sem dúvida, até numa ótica de compensação com aquilo que é a nossa localização geográfica. Porque se para chegar a Portugal têm de vir de avião, então têm de perceber que a oferta que utilizam em Portugal é uma experiência que também devolve ao planeta e à comunidade. Acho que essa é uma componente essencial. A segunda tem a ver com a componente tecnológica e digital, não apenas numa ótica de comunicação com os outros mas também de eficiência das operações. Acho que vamos sentir isso muito mais por parte também do consumidor que nos vai obrigar a que sejamos ainda mais tecnológicos e digitais.
Que mudanças as questões relacionadas com a sustentabilidade irão exigir aos empresários?
Acho que a principal mudança de atitude é de mentalidade, é de percebermos que a sustentabilidade não é só ambiental, é também social. E tem a ver com uma componente de diversidade, de inclusão, de colaboração com os meus vizinhos mais próximos mesmo que tenham um produto semelhante ao meu. Mas, principalmente, esta componente de preocupação com as pessoas que trabalham na empresa que eu acho que é cada vez mais essencial.
Portanto, do pilar social do ESG [critérios ambientais, sociais e de governação corporativa]?
O pilar social é, até por afinidade com a nossa atividade, um dos mais importantes dentro do ESG. Mas acho que estão a ser dados passos muito importantes. É importante esta mudança de atitude em toda a linha. Aliás, há um estudo internacional feito às 100 maiores empresas do setor das viagens e do turismo que concluiu que mais de 60% da força de trabalho são mulheres, mas só 17% dos cargos de administração são ocupados por mulheres e só quatro são presidentes das empresas. Isto não é sustentável.
E como é que se muda? Por decreto ou por exemplo?
Tem de haver maior responsabilidade, por isso é que falo sempre nesta mudança de atitude.
As novas tecnologias, como o metaverso, não poderão fomentar a experiência de viajar sem sair de casa?
Eu acho que podem ser muito utilizadas por empresas numa ótica de mostrar ou fazer uma [demonstração] prévia daquilo que o destino tem. Agora, nada substitui uma experiência no local.
Acha que as pessoas nunca vão deixar de querer vir ao local em vez de acharem que o metaverso poderá ser um substituto?
Vão ter impacto numa ótica de chegarmos à procura. Mas numa ótica de deixar de viajar tenho muitas dúvidas. n SR/CF