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John Elkington: “Sustentabilidade é perturbação e muitos ainda não perceberam isso”

O criador do tripé da sustentabilidade considera que o mundo está apenas a começar aquela que será uma revolução sem precedentes. Para além das alterações de cariz climático, é necessário lidar também com as crescentes pressões de segurança global.

26 de Outubro de 2023 às 11:44
John Elkington, empreendedor e consultor de sustentabilidade.
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Há 50 anos a trabalhar na área de ambiente e sustentabilidade, criador do conceito de tripé da sustentabilidade, que trouxe para as empresas a responsabilidade ambiental, social e económica, empreendedor e autor de 21 livros, John Elkington acredita que "o movimento da sustentabilidade e as indústrias da sustentabilidade estão apenas a começar".





O também chamado ‘padrinho’ da sustentabilidade reconhece que a temática já se está a massificar, mas acha que ainda não existe uma compreensão do que realmente significa. "Sustentabilidade é perturbação. Trata-se de mudanças estruturais nas nossas economias, nos nossos negócios e nas nossas cadeias de abastecimento. E muitas pessoas ainda não perceberam isso", referiu o keynote speaker da conferência Ambiente do Negócios, que teve lugar a 19 de outubro, no Pestana Palace, em Lisboa.

John Elkington é também crítico do conceito ESG (ambiental social e governação, na sigla em inglês), na forma como está desenhado. Considera que "não cobre adequadamente o lado económico", exemplificando com o movimento anti-ESG crescente nos EUA, e "não lida adequadamente com a agenda de segurança, defesa, conflito e guerra", que o mundo está a ver espoletar, referindo-se à guerra na Ucrânia e ao recente inflamar do conflito em Gaza.

 

"O que estamos a começar a ver são choques sistémicos", referiu. Acrescentando que "veremos cada vez mais destes choques e também choques provocados pelo clima e pela biodiversidade". Salientou que "há pessoas na União Europeia que começam a temer que a migração, especialmente a migração forçada devido às alterações climáticas, possa minar a União. Se olharmos para os próximos 10 a 15 anos, para a escala dos movimentos dos seres humanos, penso que é correto preocuparmo-nos."

A trabalhar de perto com empresas e, através delas, com cadeias de abastecimento, acha que muito trabalho já foi feito a este nível, mas considera que muitas vezes "estamos a limpar empresas e cadeias de abastecimento individuais e depois a pô-las de volta em mercados problemáticos". Assim, "o desafio tem cada vez menos a ver com a responsabilidade corporativa e mais com a forma como se concebem os mercados para produzir os resultados que cada vez mais necessitamos".

Elkington criticou também o mercado financeiro, considerando que "em muitos aspetos, os mercados financeiros ainda não compreendem adequadamente a natureza e a escala dos desafios que enfrentamos".

Da mesma forma que sublinha que é necessário combater o greenwashing que algumas empresas fazem, na medida em que "cerca de metade das afirmações atualmente feitas na União Europeia sobre este tipo de questões não são totalmente exatas".

Na sua intervenção, sublinhou ainda a dimensão da Lei de Redução da Inflação dos Estados Unidos. "Penso que está muito à frente do que a União Europeia irá conseguir com o Pacto Ecológico Europeu", pois "as somas de dinheiro que estão a ser investidas são muito diferentes".

A nível internacional, o keynote speaker destacou também o trabalho que Itália está a fazer, nomeadamente porque, para além de olharem estatisticamente para a reestruturação que estão a atravessar em termos de descarbonização, estão também a observar os seus efeitos sociais, apurando, por exemplo, quantos empregos foram perdidos, quantas pessoas foram transferidas para novos tipos de funções, etc. "Se não fizermos isso, se não prestarmos atenção aos salários sociais, vamos tropeçar politicamente. Isto é muito importante", salientou.

Elkington reforçou, por fim, que o mundo está, e vai continuar, a atravessar mudanças "muito profundas", pois "veremos cada vez mais mudanças estruturais nos negócios, na indústria, nas cadeias de abastecimento e assim por diante".

Perante os novos desafios, a sociedade poderá recorrer à inteligência artificial como uma arma, sem a qual, diz, "não será possível gerir o planeta no futuro".

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