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Simon Mundy: As alterações climáticas são “a maior história do século”

O editor da plataforma “Moral Money”, do Financial Times, esteve em Portugal para participar no segundo Conselho Estratégico do Fórum ESG Jornal de Negócios. O jornalista ressalta a urgência do problema a nível global e o papel central das empresas para que a humanidade ultrapasse o seu maior desafio.

27 de Setembro de 2022 às 18:05
Pedro Ferreira
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Simon Mundy, editor da plataforma "Moral Money", do Financial Times, e autor do livro "Race for Tomorrow: Survival, Innovation and Profit on the Front Lines of the Climate Crisis" (trd: Corrida para o Amanhã: Sobrevivência, Inovação e Lucro nas Linhas da Frente da Crise Climática), esteve em Portugal para participar no segundo Conselho Estratégico do Fórum ESG Jornal de Negócios, que decorreu hoje, na Nova SBE, em Carcavelos. Com uma vasta experiência jornalística a percorrer o mundo, o editor considera que as alterações climáticas são "a maior história do século", que toca todas as áreas sem exceção. "Pensávamos muitas vezes nas alterações climáticas como sendo bastante marginais em relação aos grandes temas que cobrimos. Não eram centrais para a história económica, para a história dos negócios, para a história social, para a história cultural. Bem, agora, como todos sabemos, é absolutamente central para cada uma dessas histórias", começou por referir na sua intervenção.

Durante dois anos, Mundy percorreu 26 países e falou "com os bons e com os maus", para partilhar a história coletiva que o mundo está a viver. Nessa jornada, viu como na Mongólia, na Coreia do Sul, no Brasil, no Bangladesh, entre outros países, as alterações climáticas estão já a causar danos devastadores às comunidades, sobretudo às mais desfavorecidas, alterando o seu modo de vida "muitas vezes secular" e obrigando muitos a deslocarem-se para outras regiões. "A maior corrida da história da humanidade é a corrida para responder às alterações climáticas", destaca.

Nesta luta coletiva, o editor do "Moral Money" assinala o papel central das empresas para a necessária mudança do mundo. "Eu acho que a inovação e a estratégia inteligente dentro das empresas terão um papel crucial para que a humanidade enfrente estes enormes desafios", diz.

Por outro lado, salienta também que é preciso que as empresas poluidoras paguem os custos dos danos causados ao ambiente, que têm sido pagos pelas pessoas que sofrem com as alterações climáticas. Mundy destaca, por isso, a "insustentabilidade de um sistema que não tem preços adequados sobre o que se chama externalidades, especialmente o preço do carbono", salientando que "todos os empresários deveriam estar muito conscientes disto, porque não é sustentável". O jornalista salientou a existência do Regime Comunitário de Licenças de Emissão da União Europeia (ETS, sigla em inglês), porém terá de "haver uma mudança de algum tipo no futuro". "Penso que todos esperam que venha a haver uma fixação muito mais rigorosa dos preços do carbono ao longo da linha", assinalou.

Contudo, apesar das grandes dificuldades provocadas pelas alterações climáticas que tem testemunhado, Simon Mundy também tem visto muitos desenvolvimentos a surgirem para combater esses impactos. "Há tanta coisa que podemos fazer", destacando o papel da inovação. E exemplifica: "Vi um sistema que suga o dióxido de carbono do ar e transforma-o em pedra no subsolo, dissolvendo-o em água carbonatada. Portanto, este é apenas um exemplo dos extraordinários avanços que vi em tecnologia que pode realmente ajudar-nos a enfrentar esta crise". Porém, para que soluções desta natureza se desenvolvam, "será necessário ter um mercado de carbono eficaz", refere. "Já todos ouvimos falar de compensações de carbono, mas a grande maioria, mais 95% das compensações de carbono, nada têm a ver com a remoção de carbono da atmosfera". Por isso, Mundy salienta que "vamos precisar de repensar a forma como estes mercados funcionam, se quisermos realmente enfrentar estes desafios de uma forma séria".

O autor salienta também que economias que dependem muito do petróleo estão elas mesmas a querer fazer a transição verde. Em conversa com o príncipe Abdulaziz bin Salman, ministro da Energia da Arabia Saudita, Mundy aferiu que o país não quer depender do petróleo, por considerarem ser uma vulnerabilidade para a sua economia.

Por fim, Mundy destacou que lá por algo ser baixo em carbono não significa que seja sustentável, uma vez que a componente social da acrónimo ESG (ambiental, social e governação, na sigla em inglês) é fundamental para se atingirem os objetivos globais de sustentabilidade.

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