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Os “short-sellers” começaram a apostar contra ações ligadas a matérias ambientais, sociais e de governo corporativo (ESG, na sigla em inglês). Esta aposta reflete, por um lado, a sobrevalorização das ações e pode gerar uma correção nas cotações. Apesar disso, pode acabar por ajudar a identificar casos de “greenwashing”, segundo o presidente da direção do Instituto Português de Corporate Governance (IPCG), João Moreira Rato.
As vendas a descoberto, também conhecidas por vendas curtas, permitem tirar partido da queda das ações (operação designada por “short-selling”) e, segundo dados compilados pela Bloomberg, este tipo de investidores têm-se virado para as ações ESG, à medida que os investidores estão cada vez mais preocupados que os vários estímulos climáticos estejam a sobrevalorizar as ações.
“Penso que [os grandes ‘short-sellers’ que têm reforçado posições neste mercado] estão a tentar identificar situações de pouca materialidade ou seja algumas delas que se poderiam chamar de “greenwashing”, diz ao Negócios o presidente da direção do IPCG, à margem da conferência anual sobre ESG.
O especialista em governo corporativo explicou que os investidores estão, de certa forma, a perceber que as ações de determinadas empresas que este tipo de ativos sustentáveis estão sobrevalorizadas. “Isso pode ser devido, por exemplo, a excesso de publicidade sobre medidas ESG que, na realidade, podem ter pouca materialidade”, considera João Moreira Rato.
Questionado sobre se esta tendência poderia ter consequências ao nível da transição das empresas para uma estratégia mais verde, o responsável rejeita. “Pelo contrário”, diz. “Isso poderá aumentar a disciplina sobre as empresas na maneira como tratam esta informação e como tentam que esta informação de ESG seja o mais fiável e robusta possível”, considera.
S é o menos desenvolvido dentro da sigla ESG
“Penso que em Portugal, e no mundo, o social é provavelmente a categoria menos desenvolvida dos três [ambiental, social e governo corporativo]”, refere o responsável pelo IPCG.
Por um lado, é mais difícil de medir, sendo tendencialmente limitado a critérios qualitativos que permitam a comparabilidade dumas empresas com as outras. Por outro lado, “há uma urgência ambiental que é maior”, enquanto em questões de governança também tem havido trabalho a ser desenvolvido.
“O caminho a percorrer é exatamente na criação de métricas que permitam comparar diferentes empresas, para que os acionistas e os outros ‘stakeholders’, incluindo os clientes e os financiadores, consigam aferir bem o seu contributo social ou, pelo menos, para que seja possível comparar as diferentes empresas em termos da sua contribuição social”, explica.
A regulação pode ajudar? João Moreira Rato considera que o papel que a regulação possa ter prende-se com o acompanhamento das empresas e que possam incentivar a que haja um “standard” que permita uma certa comparabilidade entre as várias empresas, “não precisam de oferecer um pacote completo”, remata.
Presidente da direção do Instituto Português de Corporate Governance