- Partilhar artigo
- ...
A implementação de medidas ambientais, sociais e de governo corporativo (ESG, na sigla em inglês) é cada vez mais urgente para evitar casos de “greenwashing” involuntário e a ajuda do Governo e o recurso do mercado de capitais são essenciais para o sucesso da implementação.
“Quando pensamos em ESG estamos a querer conciliar a transição para uma economia mais sustentável, com fazer esse caminho sem reduzir a qualidade de vida das pessoas”, diz Luís Laginha de Sousa, presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), na conferência anual de ESG organizada pelo Instituto Português de Corporate Governance (IPCG).
Para isso será preciso mobilizar empresas, pessoas, governos e reguladores. “Precisamos de vontade e de recursos para esse processo de transição. Está sobretudo na mão dos governos. É importante incentivar as empresas, mas é igualmente importante reduzir os desincentivos”, refere o presidente da CMVM.
“Não recorrer ao mercado de capitais é não fazer a escolha certa”, adverte o líder do supervisor, sublinhando que o papel da CMVM é alinhar o caminho em direção à transição ao nível do mercado de capitais. “Se quisermos recorrer a depósitos bancários, provavelmente vai correr mal”, critica.
Isto porque a transição sai cara às empresas. Na cimeira dos países do G7, realizada em junho, os líderes dos países concordaram em mobilizar, coletivamente, até 600 mil milhões de dólares em investimentos públicos e privados para infraestruturas verdes até 2027.
A União Europeia já avançou com a implementação da diretiva que obriga as empresas a divulgar os seus passos em termos de ESG. Não se espera, no entanto, que este percurso seja feito sem percalços pela complexidade do conjunto de regras.
Além da diretiva da União Europeia relativa às obrigações para as empresas cotadas ser vista como complexa e densa, a informação está dispersa, o que dificulta a sua recolha. “O reporte é um dos maiores desafios da sustentabilidade”, o que poderia ocasionar casos de “greenwashing” involuntário, aponta Nuno Bettencourt, “partner” da Deloitte .
O administrador da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), Diogo Alarcão, aconselha, nesse sentido, as empresas a “apostarem na formação de maneira consistente”.
Pela mesma razão, Luís Laginha recomenda que as empresas comecem o mais cedo possível a fazer a transição no reporte, mesmo que ainda não seja obrigatório, dado que, se não o fizerem antecipadamente, vai acabar por ser imposto e a implementação será mais “caótica”. “O custo de oportunidade vai ser muito maior”, concluiu o presidente da CMVM.
Algumas das empresas, principalmente as cotadas, já estão a percorrer esse caminho, sendo o maior desafio o envolvimento dos investidores de retalho no processo. “Penso que muitas das cotadas em bolsa têm evoluído muito em termos de reporte e estão alinhadas com as melhores práticas, mas depois há todo um universo de empresas que não têm obrigações de reporte”, refere o presidente da direção do IPCG, João Moreira Rato, sobre as pequenas e médias empresas (PME), que compõem a maior fatia do tecido empresarial português.
Apesar de ainda não serem obrigadas a divulgar o seu progresso em termos de ESG, vão estar cada vez mais expostas a clientes, financiadores e reguladores que se interessam por estas matérias e, por isso, terão de criar as suas próprias métricas.
Esse trabalho, contudo, não pode ser feito de qualquer maneira. Manuel Mota, “partner” da EY, defende que cada empresa terá que avaliar os riscos maiores para a sua empresa e, depois de mitigados, podem então pensar em indicadores de segunda instância.