Outros sites Medialivre
Notícia

O preço ambiental dos data centers

O mundo está cada vez mais interligado, com os dados a serem cada vez mais importante no quotidiano das sociedades. Mas, se isso traz muitas vantagens - ao nível da gestão eficiente - também tem o seu custo. Nomeadamente em termos de energia - usada para aquecer e arrefecer os data centers - do consumo de água e do desperdício do “lixo” informático.

06 de Dezembro de 2023 às 11:30
O mercado de data centers, em que se inclui o da Covilhã, deverá crescer à boleia da “localização estratégica” e da elevada conectividade.
Data center da Altice, na Covilhã. Temperaturas baixas ajudam a escolher a localização. Edgar Martins
  • Partilhar artigo
  • ...
Dados divulgados pela Eaton indicam que o volume de dados criados e consumidos em todo o mundo atinja 175 zettabytes até 2030. Por outro lado, a alimentação e o arrefecimento do hardware computacional necessário para gerir tantos dados deverá exigir quatro vezes mais eletricidade do que a utilizada atualmente. Feitas as contas o custo ambiental desta situação é preocupante. Os centros de dados já são responsáveis por algo entre um e quatro por cento da utilização global de eletricidade. E esta é uma situação que tende a aumentar. À medida que há um aumento da adoção de novas tecnologias a pegada de carbono de um centro de dados tenderá a aumentar. Por exemplo, os recursos computacionais necessários para treinar e executar um único modelo de IA podem gerar emissões de CO2 equivalentes a cerca de 60 voos entre Londres e Nova Iorque.

Pedro Nunes, da Zero esclarece que os centros de dados atualmente consomem cerca de 300 TWh de eletricidade por ano no mundo, o que representa cerca de seis vezes todo o consumo de eletricidade anual em Portugal, estimando-se que este valor duplique até 2030. O seu consumo de água para arrefecimento também é relevante, pois um centro de dados pode consumir dezenas de milhões de litros por dia.

Locais ventosos são uma boa escolha, porque permitem fazer arrefecimentos dos data center. Rui Costa Neto
Professor na ULHT e ISEL e investigador no IN+IST
Como aponta Rui Costa Neto, professor na ULHT e ISEL e investigador no IN+IST, os processadores dos data centres liberam grandes quantidades de calor e é por isso necessitam de climatização, tipicamente por bombas de calor acopladas a parques eólicos e solares para manter a temperatura constante dos processadores dos data centres. Razão pela qual o investigador afirma que escolher locais com temperatura média ao longo do ano baixas reduz as necessidades energéticas dos sistemas de climatização, tal como no alto de montanhas ou perto dos polos. Rui Costa Neto dá como exemplo, em Portugal, do data centre da Altice, que foi colocado na Covilhã por ser um dos locais com temperaturas médias mais baixas. "Escolher locais ventosos também é uma boa escolha, porque permitem fazer arrefecimentos convectivo dos data center reduzindo o consumo energético em climatização", acrescenta, referindo ainda que um outro bom local são os contentores estaques e herméticos debaixo de água, sendo que "a Microsoft e Google já estão a testar estas soluções passivas debaixo de água".

O "problema" não são os novos data centers, mas sim os já construídos. Como aponta Pedro Nunes, "adaptar um centro de dados já existente às melhores práticas ambientais envolve a implementação de alterações e atualizações de melhoria da eficiência energética e de redução do consumo de recursos". O ambientalista refere que deve-se proceder a uma avaliação de eficiência energética, realizando uma auditoria e avaliações periódicas para identificar áreas de melhoria. Deve-se avaliar o desempenho de servidores, sistemas de refrigeração, iluminação e outros sistemas. Por outro lado, é crucial implementar sistemas robustos de monitorização contínua e fazer relatórios sobre o desempenho ambiental. Avaliar regularmente o impacto ambiental do centro de dados e fazer ajustes conforme necessário. Já Rui Costa Neto aconselha à atualização de equipamentos, substituindo hardware mais antigo por modelos mais eficientes energeticamente; otimizar o layout através de softwares de simulação dinâmica de climatização - na prática reordenar o layout para otimizar o fluxo de ar e melhorar a eficiência do arrefecimento; levar a cabo a monitorização da gestão da energia através de auditoria energética: Implementar sistemas avançados de monitorização de energia para identificar e corrigir ineficiências operacionais; investir na virtualização por forma a consolidar servidores por meio de virtualização para reduzir a quantidade de hardware físico necessário; apostar na reciclagem e no descarte adequado de equipamentos obsoletos; e, não menos importante, investir no treino sensibilização dos colaboradores para práticas sustentáveis realçando a importância da eficiência energética.

Como ter um data center sustentável:
• Eficiência Energética: Utilizar equipamentos e tecnologias energeticamente eficientes, como servidores com eficiência energética melhorada (com classificação Energy Star elevada). Implementar sistemas de arrefecimento eficientes, como refrigeração líquida, ventilação natural ou técnicas avançadas de arrefecimento.
• Energias Renováveis: Integrar fontes de energia renovável, como solar, eólica ou hidrelétrica, geotérmica para alimentar parte ou toda ou parte do fornecimento energético do data centre. Deve ser procurada a integração da produção de energia renovável no local ou a compra de energia renovável assegurada por contratos (PPAs).
• Arquitetura Modular: Optar por uma abordagem modular que permita a expansão gradual, evitando o excesso de capacidade inicial e permitindo a adaptação à procura real de dados.
• Reaproveitamento de Calor: Utilizar o calor gerado pelos servidores para aquecer edifícios próximos ou indústrias que consuma calor, contribuindo para a eficiência energética geral da área.
• Gestão Inteligente de Carga: Implementar sistemas de gestão de carga que otimizem a distribuição de trabalho entre os servidores para maximizar a eficiência.
• Materiais Sustentáveis: Escolher materiais de construção sustentáveis e de baixo impacto ambiental para o edifício do data centre.
• Localização do centro de dados: devem ser privilegiados locais com fontes de energia renováveis e clima fresco, o que, neste último caso, faz reduzir a necessidade de sistemas de refrigeração ativos. Além disso, os centros de dados devem estar perto de infraestruturas já existentes de transporte de energia e de transmissão de dados, de forma a minimizar o impacto ambiental.
• Virtualização e consolidação: deve-se implementar a virtualização e consolidação de servidores para otimizar a utilização de recursos, possibilitando a redução do número de servidores físicos necessários.
• Eficiência hídrica: muitos centros de dados utilizam grandes volumes de água potável, o que pode ser reduzido através da recolha de águas pluviais e da reciclagem da água de processo; com tratamento adequado, mais de 70% da água de processo pode ser reciclada. A água do mar, se possível, deve ser usada como meio de arrefecimento.
• Tecnologias de arrefecimento avançadas: o arrefecimento deve ser com base em tecnologias de arrefecimento avançadas, como o arrefecimento líquido, com elevada eficiência energética. Os métodos de arrefecimento a ar têm tendência a ser menos eficientes.
• Sistemas de gestão de energia: implementar sistemas sofisticados de gestão de energia para monitorizar e otimizar a utilização de energia em tempo real.
• Gestão do ciclo de vida: devem-se implementar práticas sustentáveis de todo o ciclo de vida dos equipamentos do centro de dados, desde o fabrico à reciclagem. A eliminação adequada e a reciclagem dos equipamentos obsoletos são cruciais para reduzir o impacto ambiental.
• Conformidade regulamentar: os centros de dados devem cumprir os regulamentos e padrões ambientais, com adesão às melhores práticas e certificações do setor.
• Colaboração e partilha de conhecimentos: deve haver um espírito de colaboração na indústria, partilhando as melhores práticas e inovações de gestão sustentável dos centros de dados.
Mais notícias