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“O planeta está em crise e serão as crianças a suportar os maiores impactos”

Em 2021, assistimos a catástrofes decorrentes das alterações climáticas em todas as geografias do planeta. Um cenário que se vai agravar à medida que os anos passam e a temperatura global atinge valores críticos. As maiores vítimas serão as próximas gerações, que sofrerão os maiores impactos de um planeta em convulsão. A UNICEF tem as projeções.

20 de Setembro de 2021 às 16:00
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As alterações climáticas chegaram em força e afetam já todo o planeta, como confirmou o último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, divulgado no passado mês de agosto. Porém, o pior ainda está para vir e serão as crianças de hoje que irão suportar o maior fardo, quando a temperatura global do planeta alcançar ou exceder 1,5 °C de aquecimento até 2040. Por essa altura, haverá aumento das ondas de calor, estações quentes mais longas e estações frias mais curtas. No caso de a temperatura do planeta aumentar 2 °C, fenómenos extremos de calor poderão levar ao limite a tolerância crítica em termos de saúde e atividade agrícola.

No âmbito da talk "Economia Circular: reinventar os modelos de negócio", organizada pelo Jornal de Negócios a 16 de setembro, naquele que é o segundo ciclo de talks do jornal sobre sustentabilidade, Gautam Narasimhan, conselheiro sénior para o clima, energia e meio ambiente na UNICEF, alertou para o fardo que estamos a deixar às nossas crianças. "O planeta está em crise e serão as crianças que irão suportar os maiores impactos. A única saída é dar-lhes as ferramentas para um mundo sustentável. Um mundo onde sustentabilidade ambiental e crescimento económico possam andar de mãos dadas."


A crise climática é uma crise de direitos das crianças.
Gautam Narasimhan, conselheiro sénior para o clima, energia e meio ambiente na UNICEF

Na sua apresentação, o conselheiro da UNICEF defendeu que, para ajudarmos as crianças, precisamos de novas abordagens e de novos modelos de negócio. Modelos onde se cuida do planeta em vez de se esperar que este absorva todos os custos da atividade humana. E esses modelos têm de ser implementados já.

"O planeta está em crise. As mudanças climáticas e a degradação do clima são a maior ameaça às crianças de todo o mundo. A UNICEF está a trabalhar há mais de sete décadas para assegurar os direitos de todas as crianças. E hoje elas estão ameaçadas pela degradação do clima. As crianças vão suportar os maiores impactos. A crise climática é uma crise de direitos das crianças", assinala Narasimhan.

Índice de Risco Climático Infantil projeta herança pesada

No passado mês de agosto, a UNICEF lançou um estudo sobre a profundidade dos impactos dos principais choques climáticos junto das crianças. E as descobertas apresentadas pelo Índice de Risco Climático Infantil "são muito chocantes", referiu.

O que os dados mostram é que dois mil milhões de crianças, quase 90% das crianças globalmente, estão altamente expostas a ar poluído, na medida em que este excede 10 microgramas por metro quadrado (10µg/m3). E isto tende a piorar, a não ser que haja uma redução de consumo de combustíveis fósseis.

90%
das crianças globalmente estão altamente expostas a ar poluído.

920
milhões de crianças, ou seja, um terço das crianças a nível global, estão altamente expostas à escassez de água.

820
milhões de crianças estão hoje em dia altamente expostas às ondas de calor.



Também 920 milhões de crianças, ou seja, um terço das crianças a nível global, estão altamente expostas à escassez de água. É provável que a situação se agrave, na medida em que a mudança climática aumenta a frequência e severidade das secas, stress hídrico, contaminação da água, assim como aumenta também a procura por água, resultando na diminuição de fontes disponíveis, prosseguiu o conselheiro da UNICEF.

De salientar ainda que 820 milhões de crianças estão hoje em dia altamente expostas às ondas de calor. E também aqui é provável que a situação se agrave, na medida em que a temperatura aumenta.

O keynote prosseguiu a explicar que perto de 400 milhões de crianças, aproximadamente uma em cada seis crianças no mundo, estão atualmente expostas a ciclones. E também aqui os fenómenos tendem a agravar-se.

"Estes problemas afetam crianças de todo o mundo, nos países ricos e pobres. Quase todas as crianças no mundo, praticamente 99%, estão expostas a pelo menos um destes grandes perigos climáticos. E 1,7 mil milhões de crianças estão expostas a pelo menos três riscos climáticos sobrepostos. E estes riscos também interagem com outros riscos políticos e de saúde, incluindo a covid-19", sintetizou Narasimhan.

Por fim, o keynote referiu que o impacto das alterações climáticas é demasiado pesado para as crianças de hoje, a não ser que se invista fortemente em adaptação, resiliência e serviços sociais.

"A única solução é reduzir a emissão de gases de efeito de estufa. Mas há mais ações que reduzem a exposição das crianças aos riscos climáticos. Por exemplo, investimentos que providenciem acesso a água, cuidados sanitários e de higiene. O investimento em educação também pode reduzir o risco para 275 milhões de crianças. Investir em educação para a sustentabilidade tem um efeito multiplicador", finalizou.

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