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Manso Neto: Hidrogénio e eólico “offshore” não devem ser sobrevalorizados

O CEO da Greenvolt defendeu que as tecnologias “emergentes e muito caras” podem resultar em preços de eletricidade mais elevados – que ninguém quer pagar -, devendo o novo Governo privilegiar soluções como o armazenamento em baterias, cujo leilão está para ser lançado.

07 de Maio de 2024 às 23:15
CEO da Greenvolt disse que os fundos do PRR acabaram por ter um efeito negativo “ao adiar investimentos que ficaram parados à espera de apoio”.
CEO da Greenvolt disse que os fundos do PRR acabaram por ter um efeito negativo “ao adiar investimentos que ficaram parados à espera de apoio”. Duarte Roriz
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Mais importante do que avançar rapidamente com os novos leilões para a produção de hidrogénio verde no país ou os 10 GW de energia eólica “offshore” no mar português, o novo Governo deverá, em vez disso, privilegiar o lançamento do concurso para aumentar a capacidade de armazenamento de energia renovável através de baterias. A opinião foi defendida por João Manso Neto, CEO da Greenvolt. No painel de debate dedicado ao tema da Descarbonização, da conferência Negócios Sustentabilidade 20 | 30, o responsável defendeu que as tecnologias que ainda são “emergentes e muito caras” – como é o caso, precisamente, do hidrogénio verde e do eólico “offshore” – não devem ser sobrevalorizadas nas estratégias para o futuro do setor energético “porque o cidadão não quer pagar mais” pela energia que consome.

Além da instalação de mais capacidade renovável e da eletrificação dos consumos, na visão do gestor um futuro com menos carbono também implica resolver o problema da intermitência das renováveis. O armazenamento de energia limpa, através de baterias, é assim uma das principais respostas e, como tal, o leilão que o novo Governo se prepara para lançar é visto pelo CEO da Greenvolt como uma prioridade, face a outros temas que foram deixados pelo antigo Executivo, como é o caso do hidrogénio verde e da energia eólica produzida em alto mar. No caso do gás renovável, produzido a partir da eletrólise, Manso Neto diz mesmo que a sua produção só faz sentido se servir para consumo local, sobretudo na indústria.

Empresas podem ir mais longe na descarbonização

Manso Neto acredita também que um futuro descarbonizado vai exigir diferentes soluções. “Em economias mais congestionadas não podemos simplesmente reproduzir os modelos dos últimos anos. Temos de nos aproximar do consumidor”, o que exige uma “maior aposta em soluções de produção de energia descentralizadas” por oposição às grandes centrais solares fotovoltaicas.

Para o CEO da Greenvolt, as empresas podem fazer mais e ir mais longe nos esforços de descarbonização, sendo que também o Estado “pode fazer muito mais para acelerar uma mudança inevitável, valorizando o seu próprio património”. Aqui, o gestor deu o exemplo do solar descentralizado, uma das áreas onde “a tecnologia está pronta, os ganhos são conhecidos e os apoios ao investimento diversos, mas o ritmo de adoção continua baixo, porque as pessoas estão focadas no que é urgente e não no que é importante”.

Defendeu ainda que os fundos do PRR acabaram mesmo por ter um “efeito negativo ao adiar investimentos que ficaram parados à espera de apoios” para avançar no terreno. No setor público, o Estado “é o grande proprietário deste país” e está a aproveitar pouco este potencial de transformação para criar valor com os ativos que tem. “Uma escola pode produzir energia e abastecer-se a si e vender aos vizinhos”, ilustrou. “Isto da descarbonização não têm de ser só custos, também há oportunidades e esta é uma delas”.

No mesmo painel, Filipa Pantaleão, secretária-geral do BCSD Portugal, garantiu que as grandes empresas estão comprometidas com as metas da transição energética. No entanto, continuam a valorizar demasiado o “ganhos imediatos” e não as metas de médio e longo prazo. “Faltam estratégias de transformação do negócio que olhem para este tema como algo que veio para ficar. É esta transformação do negócio que é necessária”, disse. No mesmo debate esteve também Gonçalo Nascimento, responsável da L’Oréal Portugal, marca que começou a olhar para o tema da sustentabilidade em 2009. A gigante cosmética está a trabalhar em várias frentes, onde se incluem repensar o design ou aumentar para 95% os ingredientes biológicos ou de origem sustentável nos seus produto, uma meta para 2030.

 

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