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Investimento sustentável é de muito longo prazo

A aposta na neutralidade carbónica e na economia circular implica uma transformação que abarca todos os setores de atividade e obriga as empresas e as instituições financeiras a alterarem os modelos de negócio, alerta o governador Mário Centeno.

19 de Abril de 2022 às 12:00
Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, abriu o segundo dia da Grande Conferência. Miguel Baltazar
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A aposta na neutralidade carbónica e numa economia circular implica uma transformação que abarca todos os setores de atividade e obriga as empresas e as instituições financeiras a alterarem os modelos de negócio. "É inquestionável que a transição para uma economia mais sustentável afeta o mandato dos bancos centrais, em particular na salvaguarda da estabilidade financeira, mas também na política monetária. Desde logo, porque as alterações climáticas são uma importante fonte de risco para as instituições financeiras", referiu Mário Centeno, governador do Banco de Portugal na abertura da Grande Conferência da segunda edição do Prémio Nacional de Sustentabilidade.

A existência de catástrofes naturais mais intensas e a transição para um novo modelo económico provocam a desvalorização de ativos financiados pela banca, admite Mário Centeno. Por isso "enquanto responsáveis pela salvaguarda da estabilidade financeira e supervisores bancários, compete-nos promover a resiliência do setor também ao longo do processo de transição climática", o que levou o Banco de Portugal a estudar "os riscos financeiros decorrentes das alterações climáticas e a avaliar a exposição do sistema bancário português a estes riscos". Nesse sentido, e no quadro Mecanismo Único de Supervisão, vai realizar-se este ano um teste de esforço climático às instituições de maior dimensão na área do euro.

Nesta tarefa de reconversão da economia "as políticas públicas têm um papel determinante a desempenhar neste processo, como facilitadoras, indutoras e catalisadoras da transição", porque se trata de "falhas de mercado" e é o "poder político quem, em primeira linha, tem a legitimidade e os instrumentos mais eficazes para agir", frisou o governador

Tipologias de investimento

A iniciativa dos agentes privados, tal como o setor financeiro, a quem cabe um papel determinante, são cruciais nesta transição. Mário Centeno referiu que o Banco Europeu de Investimento estimou que, para atingir o objetivo de reduzir em 55% as emissões de CO2 até 2030, a UE vai necessitar de investimentos adicionais equivalentes a 2,1% do PIB por ano. "Perante valores desta ordem de grandeza, há uma conclusão incontroversa: o investimento público terá necessariamente de ser acompanhado por um volume ainda maior de investimento privado", destacou.

O governador de Portugal vê duas implicações para as instituições financeiras. A primeira é que as tipologias de investimento terão de ser ajustadas. "Os projetos de investimento sustentável envolvem tecnologias inovadoras, acarretam custos consideráveis em investigação, incorporam uma forte intensidade de capital e têm horizontes de concretização muito longos, medidos em décadas. Estas características requerem instrumentos de capital, quase-capital, capital de risco e outras modalidades menos comuns, além dos tradicionais mercados de crédito bancário", frisou.

A segunda implicação tem que ver com a qualidade da informação subjacente a estes investimentos. "A boa avaliação dos riscos e das oportunidades relacionados com a sustentabilidade ambiental exige que a informação esteja disponível, seja de boa qualidade e comparável e não comporte custos excessivos", concluiu Mário Centeno.

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