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Elétricos e novas formas de deslocação revolucionam mobilidade

O setor dos transportes diz-se comprometido com a descarbonização e redução de pegada ambiental ao mesmo tempo que se está a adaptar às novas preferências dos consumidores.

Sónia Santos Dias 31 de Outubro de 2022 às 18:00
Elétricos e novas formas de deslocação revolucionam mobilidade
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Como uns dois principais emissores de gases de efeito de estufa (GEE), o setor dos transportes está a braços com uma profunda revolução para ir ao encontro dos critérios ambientais postulados pela transição sustentável. Por outro lado, a área da mobilidade está também a ser transformada pelas preferências emergentes dos consumidores, nomeadamente em termos de microbilidade e car-sharing. Estas foram as ideias-base em debate no painel "Mobilidade em Revolução", na conferência ESG do Negócios Sustentabilidade 20|30 dedicada ao ambiente, que decorreu a 20 de outubro, na Estufa Real, em Lisboa, e que contou com a moderação de Susana Castelo, CEO da TIS e júri do Prémio Nacional de Sustentabilidade na categoria Mobilidade.

O setor está agora orientado não só para o impacto do próprio carro, mas a tentar também compensar a pegada ambiental de toda a sua cadeia de valor. Rodolfo Florit Schmid
managing director da SIVA
Cerca de um quinto das emissões globais de GEE está no setor dos transportes, pelo que a sua descarbonização é vital para as metas da sustentabilidade. Um desafio a larga escala, mas Rodolfo Florit Schmid, managing director da SIVA, começou por salientar que "a indústria automóvel sempre foi pioneira em termos de inovação e tecnologia e tem vindo a investir milhões nos últimos anos para melhorar a eficiência dos seus produtos". Porém, o responsável considera que agora se está a registar uma mudança muito mais abrangente, exemplificando que o grupo Volkswagen tem um programa assente em quatro pilares, que inclui produzir carros elétricos, mas também ter um processo de produção e logística mais amigos do ambiente, ser inovador na criação de novas energias renováveis e apostar na reciclagem, sobretudo de baterias. "O setor está agora orientado não só para o impacto do próprio carro, mas a tentar também compensar a pegada ambiental de toda a sua cadeia de valor", acrescentou Florit Schmid.

Por outro lado, o responsável da SIVA destacou que é preciso incentivar ao abate de veículos antigos, pois em Portugal o parque automóvel tem uma idade média de cerca de 13 anos, para substituir por veículos elétricos. A micromobilidade e o car-sharing, evidenciou, estarão também cada vez mais presentes no mix de mobilidade.

O setor tem uma dívida perante a sociedade por ser muito poluente. José Luís Barbajosa
CEO da Norauto Portugal
Tendo em conta a lógica da circularidade, a área da reparação automóvel desempenha um papel cada vez mais relevante, na medida em que uma correta manutenção permite poupar cerca de 10% das emissões e consumos energéticos. José Luís Barbajosa, CEO da Norauto Portugal, começou por assumir que "o setor tem uma dívida perante a sociedade por ser muito poluente", pelo que é fundamental trabalhar para melhorar a sua pegada ambiental. "Estamos conscientes desta revolução e estamos empenhados em reduzir o nosso impacto ambiental". Assim, a Norauto tem apostado na formação e consciencialização contínuas, para melhor tratar os resíduos. "Atualmente temos 20 canais de reciclagem, de resíduos perigosos e não perigosos, extraídos nas próprias oficinas e posteriormente enviados para centros de reciclagem para a sua valorização e transformação", explicou o CEO. Outra medida tomada é a produção e venda de pneus recauchutados e, na área das baterias, "fomos pioneiros em 2005 a começar a recuperação e posterior reciclagem de baterias. Hoje, temos uma taxa de 85% a 90% de recuperação das baterias que vendemos", referiu.

Tendo em conta a mudança de comportamentos na mobilidade, o responsável da Norauto sublinhou que a empresa está a adaptar-se e vai também lançar novos conceitos para fazer a manutenção destes veículos dentro das cidades.

Como é que os armadores podem decidir sobre investimentos quando os ciclos ambientais estão indefinidos? Pedro Amaral Frazão
administrador e CSO do Grupo Sousa
Apesar de o transporte rodoviário ser mais visível, é o transporte marítimo que tem o maior peso (90%) na entrega de produtos que diariamente são consumidos em todo o mundo, pelo que a sua descarbonização é essencial para se atingirem as metas necessárias. Pedro Amaral Frazão, administrador e CSO do Grupo Sousa, referiu que a área do shipping tem "desafios colossais". "A questão no shipping não se resume à redução das emissões para a atmosfera", na medida em que o setor, por via das convenções e regulações internacionais, "tem vindo a ser apertado para que faça investimentos em novas construções, procedimentos e reporting para que os navios sejam menos poluentes para o ambiente marinho e para a atmosfera". Assim, "os navios hoje poluem menos", sublinhou. Porém, nesta rota da descarbonização, existem outros grandes desafios: "São precisos novos combustíveis que ainda não estão disponíveis, em quantidade e nos portos, para que os navios possam abastecer, e têm de existir infraestruturas portuárias capacitadas para que esses combustíveis sejam fornecidos". Assim, tendo em conta que os navios são plataformas com longos períodos de amortização, entre 25 e 30 anos, "como é que os armadores podem decidir sobre investimentos quando os ciclos ambientais estão indefinidos?", questionou o responsável. Portanto, "enquanto esta equação não estiver resolvida pela regulação e seja universal, é impossível os armadores tomarem decisões de investimento", afirmou. Neste sentido, considerou que as metas políticas estão um pouco fora da realidade e deveriam ser revistas.
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