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Em 2030 o planeta vai ter mais um país, do tamanho da Argentina, só por causa da inteligência artificial. Criar uma imagem com inteligência artificial num serviço como Midjourney, consome tanta energia como carregar a bateria de um telemóvel. Os dois exemplos são de Paulo Dimas e ilustram os desafios que a inteligência artificial gerativa, com os grandes modelos de linguagem e a gigantesca capacidade de processo que requerem, trouxeram ao mundo.
O CEO do Centro para a Inteligência Artificial Responsável deixou o alerta na Grande Conferência Negócios Sustentabilidade 20|30, no debate "Transição digital e IA – Os novos desafios ambientais e sociais", mas também deixou pistas para outros caminhos que a inovação em torno da tecnologia deve seguir nos próximos anos, que podem reduzir este impacto e manter em aberto uma via larga para a inovação.
No futuro espera-se que modelos mais pequenos com dados de maior qualidade ganhem destaque e possam contribuir para manter o potencial da IA em aberto, controlando até alguns dos riscos que hoje minam a confiança nos LLM, como a qualidade dos dados.
"Vamos evoluir para modelos mais pequenos, cada organização vai ter o seu" e controlar completamente a evolução desses modelos, antecipou.
Enquanto a tecnologia e a inovação avançam, a Europa deve posicionar-se. É ponto assente que a região está em desvantagem face aos Estados Unidos, onde estão as Big Tech e todo o seu poder de investimento.
"A nível europeu temos de ter também uma estratégia nesta área, que não deve ser apenas despejar dinheiro na capacidade de processar dados", defendeu Paulo Dimas. Apostar na qualidade dos dados e potenciar o valor da IA em áreas como a saúde é um dos caminhos que o responsável aponta, sem deixar de valorizar a questão das infraestruturas, a nível europeu e nacional.
"Nas tecnologias da linguagem temos claramente massa crítica em Portugal, temos boas equipas mas temos de avançar rápido, porque isto é quase uma questão geopolítica. Cada país tem de ter soberania em relação à sua língua e por isso é importante que haja investimento em infraestruturas". Isso faz-se com uma estratégia nacional que deve dar às startups espaço para a produtização de inovações nesta área, acrescentou ainda Paulo Dimas.
Olhando para o mercado empresarial, José Tavares, COO e diretor de inovação e soluções da SAP Portugal antecipou no mesmo debate que "tudo o que puder ser automatizado vai ser automatizado", no processo de transição digital que os negócios atravessam. A IA vem acrescentar ganhos de produtividade imensos a estes sistemas automatizados. Vem trazer capacidade de prever, agilizar a análise e compilação de informação e tomar melhores decisões, mas "há um enorme problema de qualidade de dados nas organizações" que é preciso resolver, para que a IA faça o seu trabalho e tenha base para dar resultados fiáveis.
A confiança nos modelos é um elemento chave para a evolução da tecnologia e do papel que assumirá na sociedade e nas empresas, lembrou, e as empresas de tecnologia têm um poisção central nesta matéria, criando soluções com capacidade para não fazer perdurar as falhas do mundo real, sem BIAS, sem discriminação.
Voltando ao enquadramento europeu Inês Sequeira Mendes, managing partner da Abreu Advogados, defendeu que a regulação tem um papel central no enquadramento da IA. É necessário marcar fronteiras claras e perceber até onde estamos dispostos a ir, frisou. "A Europa assumiu aí um papel importante que deve manter". Decidiu estabelecer standards, que acabarão por ser seguidos por outras regiões do globo. "Não será um caminho fácil mas é essencial" e quem está na Europa tem a vantagem da proximidade cultural com as regras que podem vir a inspirar a regulação em todo o mundo.
Para a responsável, o grande desafio do futuro da IA está nas pessoas, em assegurar que a tecnologia se desenvolve para as beneficiar e em fazê-las aderir e ver a bondade. Nestas como noutras áreas, "as questões que se levantam [em torno da IA] são muitas e ainda estamos no início". Portugal segue a par e passo com o resto da Europa e não está atrasado na adaptação à nova realidade de um mercado acelerado por IA em todas as áreas, acredita Inês Mendes.
A formação e a requalificação de recursos humanos são vistos pelos oradores como prioridades máximas que os países devem assumir na transição digital em curso.