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Clara Raposo: “Maior risco da transição energética está na inação dos governos”

A vice-governadora do Banco de Portugal elegeu os riscos mais relevantes da transição energética e as oportunidades mais relevantes para uma economia bem posicionada como a portuguesa.

Negócios jng@negocios.pt 07 de Maio de 2024 às 18:05
Clara Raposo, vice-governadora do Banco de Portugal, na Grande Conferência Negócios Sustentabilidade 20!30.
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A transição energética acarreta riscos em várias áreas, mas o mais sério é o risco de inação defendeu esta tarde na Grande Conferência Negócios Sustentabilidade 20|30 a vice-governadora do Banco de Portugal. "O mais importante risco com que nos confrontamos é o risco de inação – inação dos governos e autoridades de política económica, e, claro, também das empresas". 

 

A manutenção das políticas atuais conduzirá a um aumento de 4% das emissões globais em 2030 ou à ultrapassagem em 2035 do objetivo estipulado no Acordo de Paris de limitar a 1,5°C o aumento da temperatura média global desde o início da era industrial, lembrou Clara Raposo, citando dados do FMI.

 

Entre os riscos a vencer no processo de transição, a responsável destacou os "riscos de políticas públicas insuficientes ou desajustadas, nos domínios da regulação, tributação, subsídios, investimento público" e outros. Considerou que a melhor forma de combatê-los passa por reconhecer que desta transição "decorrem grandes oportunidades" para criar valor nas mais diversas áreas.

 

Portugal está bem posicionado para aproveitar muitas destas oportunidades. "Nos quatro primeiros meses deste ano, mais de 90% do nosso consumo de eletricidade teve origem em fontes renováveis". Esta posição de destaque na Europa resulta de "investimentos públicos e privados e de políticas promotoras da transição energética", que resultam em benefícios climáticos e económicos, "como a redução do preço grossista da eletricidade face à União Europeia", destacou Clara Raposo.

 

Esta potencial vantagem competitiva pode contribuir para acelerar a descarbonização da indústria nacional e atrair novas indústrias. Cabe às empresas explorar esse potencial investindo em inovação, novos produtos e novos processos, procurando novos mercados e ganhos de eficiência. 

 

O FMI estima que para alcançar os níveis de descarbonização necessários é preciso multiplicar por cinco o investimento anual na mitigação das alterações climáticas, até aos 5 biliões de dólares. 

 

A vice-governadora do Banco de Portugal sublinha que este será um investimento maioritariamente assegurado pelo setor privado, mas também destaca que "cabe às autoridades – europeias e nacionais - desenvolverem políticas públicas que criem condições favoráveis ao investimento e, em particular, ao investimento sustentável". 

 

Isso passará pela disponibilidade de instrumentos orçamentais, como a tributação do carbono, ou o investimento público em infraestruturas "verdes"; por um quadro de regras de reporte de sustentabilidade que ajude as empresas a tomarem decisões de investimento mais sustentadas e pela criação de um mercado de capitais europeu integrado.

 

O Banco de Portugal reserva-se um papel nesta missão, com várias frentes, uma das destacadas foi a avaliação contínua da "exposição e resiliência do sistema bancário aos riscos climáticos, físicos ou de transição" e adaptação de políticas e práticas de supervisão, com o intuito de incentivar os bancos a gerirem adequadamente esses riscos climáticos.

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