Outros sites Medialivre
Notícia

Águas quer ser o primeiro grupo neutro em energia

Os desafios são mais exigentes para além do que a mera devolução da água ao meio hídrico. Por isso, a Águas de Portugal aposta para os próximos anos em projetos de reutilização de água.

23 de Outubro de 2020 às 15:30
João Neves referiu a importância de reduzir as perdas de água.
  • Partilhar artigo
  • ...
"Há números que apontam para que mais de 50% de água se perca no conjunto de todos os sistemas, mas as perdas são mais significativas nos sistemas em baixa do que nos sistemas em alta onde a Águas de Portugal se insere", diz João Neves, administrador da comissão executiva da AdP - Águas de Portugal.

Afirma que, nos sistemas em alta, as perdas não ultrapassam os 5%, mas têm o compromisso de trabalhar com os municípios, que gerem os sistemas em baixa, no sentido de os ajudar a reduzir essas perdas. É que só com esta redução é que a Águas de Portugal poderá conseguir um objetivo importante "que é ser o primeiro grupo a nível mundial neutro em termos energéticos. Uma forma de reduzir o consumo de energia associado ao setor da água é reduzir o nível de perdas e, portanto, é também um tema que temos na nossa agenda", acentua João Neves.

Sublinha que "a circularidade no setor das águas já acontece há alguns anos. Captamos a água, utilizamos e depois de utilizar rejeitamo-la nos rios e nos oceanos de forma a ter condições de integrar o ciclo da água".

Mas, como considera João Neves, os desafios são mais exigentes do que a mera devolução da água ao meio hídrico. Por isso, para os próximos anos, a Águas de Portugal aposta em projetos de reutilização de água. "Depois de tratar a água, queremos aperfeiçoá-la de modo que possa ser utilizada nos usos agrícolas, turísticos, como a rega de campos de golfe, urbanos, como a rega de espaços verdes e a lavagem de pavimentos, ou usos industriais, como a refrigeração de equipamentos" diz João Neves.

As lamas e a energia

Outras áreas que podem contribuir para uma utilização mais sustentável dos recursos naturais passam, por exemplo, pelo tratamento das lamas das ETAR com um plano para reduzir em 50% a quantidade de lamas que são produzidas nos processos de tratamento das águas residuais. "Essa redução será feita pela redução do teor de humidade das lamas e terá como consequência direta a redução dos custos de transporte e a redução da pegada de CO2 que está associada a esses custos", explica João Neves.

Este gestor refere ainda que à necessidade de reduzir as perdas de água e melhorar os processos de tratamento de águas, se junta a necessidade de redução dos consumos, o que pode ser feito por via de uma maior eficiência hídrica, "que está também nos nossos planos nos próximos anos".

"Continuamos a ter zonas do país com elevada escassez hídrica, em que os consumos per capita são muito mais elevados do que em zonas mais urbanas. Precisamos de reciclar a água e, apesar de termos uma taxa de cobertura de abastecimento de água bastante elevada, ainda há zonas do país onde o saneamento não chegou e não há esta reciclagem de água", adverte João Neves. Mas alerta que "existem também zonas do país onde se utiliza água potável para lavar pavimentos ou para regar jardins. É preciso encontrar alternativas a estes desperdícios de água que acontecem todos os dias no nosso país".

Adianta ainda que "o fenómeno das alterações climáticas não traz boas notícias para Portugal. As zonas de escassez e de carência no nosso país são cada vez maiores, portanto, usar a água das fontes que temos utilizado, ir às albufeiras, aos aquíferos, estas medidas não são suficientes para produzirmos. Temos de reciclar e poupar água".
Mais notícias