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“A sustentabilidade não é só um encargo mas uma oportunidade de negócio”

Para Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga, há a ligação umbilical entre a sustentabilidade e o desenvolvimento económico e, para concretizar os objetivos, “tem de se mobilizar todos os agentes da sociedade civil.

24 de Maio de 2022 às 21:09
D.R.
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"O tecido empresarial é o grande pilar do crescimento e desenvolvimento em Braga porque não há qualidade de vida sem emprego e boas condições de trabalho", afirmou Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Brada e InvestBraga, durante o segundo dia da 5.ª edição da Semana da Economia, com o seu Fórum Económico, subordinado ao tema "Economia e Sustentabilidade". O Fórum Económico, que se realiza entre os dias 23 e 27 de maio, no Altice Forum Braga, é uma organização da InvestBraga e que não se realizava desde 2019 por causa da pandemia de Covid-19.

Para Ricardo Rio há a ligação umbilical entre a sustentabilidade e o desenvolvimento económico e, para concretizar os objetivos, "tem de se mobilizar todos os agentes da sociedade civil. É não só um encargo mas uma oportunidade de negócio e de criar novos projetos e iniciativas empresariais. E deu exemplo da construção sustentável entre outros projetos como a eficiência energética e de novas formas de energia".


O presidente da Câmara de Braga aproveitou para apresentar contas tanto da Câmara de Braga como da atividade empresarial no concelho que instituições criadas em 2014 como a Invest Braga, Startup e do Altice Forum têm realizado e que vão desde atrair investimento e dinamizar a economia e o empreendedorismo, o turismo de negócios e I&D. Tinham sido definidos como objetivos ser um centro de inovação com conhecimentos e talento com Estar no topo 10 e criar 500 empregos por anos, "e temos superado estes objetivos", sublinhou Ricardo Rio.


Entre 2020-2021, o espaço do investidor apoiou mais 300 projetos, 80 dos quais investimentos externos, as start-ups captaram 302 milhões de euros, e foram criados mais de 500 empregos criados e que teve o primeiro unicórnio, a Sword Health com 260 milhões de euros captados, e o Altice Arena albergou mais de 300 eventos e teve mais de 500 mil visitantes. Ricardo Rio sublinhou o papel de Braga nas exportações que ultrapassam os 2 mil milhões, sendo o quarto concelho mais exportador de Portugal e tendo sido criados de mais de 2 mil empregos por ano desde 2014.


 "Sem petróleo morreríamos todos e esse é o grande paradoxo pois todos dependemos da energia e dos combustíveis fósseis", afirmou António Coutinho, presidente do Conselho de Administração da EDP Inovação na Ted Talk sobre energia e sustentabilidade os caminhos para um novo paradigma energético. Mas se permitiu um grande desenvolvimento teve efeitos sobre o clima muito grandes e tem de se mudar a forma de trabalhar e de tornar um mundo mais sustentável. Porém, o objetivo da neutralidade carbónica ainda está longe de poder ser atingido. "Mas já se tem feito muito porque deixou de crescer e hoje inverteu-se a curva", considera António Coutinho.


Disse que 83% das emissões de carbono vêm da energia e a transição energética implica alterações em todos os setores e "temos de mudar as formas e os consumos de energia porque tem de acabar com os combustíveis fósseis. As empresas vão ter de defrontar-se com emprego e com o financiamento sobretudo as que produzem mais de CO2"

 

Fechar o carvão e mais renováveis

Fechar o carvão e a aumentar as renováveis mas ainda há questões problemáticas em termos de tecnologia na adoção, mas só 35% das tecnologias não são ainda uma tecnologia madura. Na mobilidade defendeu que um carro elétrico consome três vezes menos energia e a eletrificação começa ser estendida para o transporte marítimo e o aéreo, tal como se esta a  evoluir na eficiência energética.


Em 2050, 90% de energia tem de ser produzida pelas eólicas e solar e a eletrificação hoje está ainda em 22% e as energias renováveis tornaram-se mais competitivas que as convencionais térmicas em termos de preços e nos próximos dez anos vai ser cair ainda mais. Mas entre a produção e a eletrificação há o custo da mão-de-obra. Estas questões também vão criar instabilidade e volatilidade de preços nos mercados do petróleo e do gás, porque são energias ainda necessárias, que implicam grandes investimentos mas "sabendo que tem um prazo de validade". Às empresas António Coutinho aconselhou um investimento claro na eficiência energética e na descarbonização porque a pegada de carbono e energética vão ter impacto nos financiamentos dados pelos bancos e nos clientes.


"A sucessão de eventos que tem atingido o Mundo e a Europa são desafiantes mas a economia tem demonstrado que nesse caminho se vão encontrar soluções e novas oportunidades", afirmou Fernando Alexandre, professor associado da Universidade do Minho, que abriu o debate sobre "O desenvolvimento sustentável de um ecossistema empresarial", que foi moderado por Rui Neves do Jornal de Negócios.

 

Aceleração da descarbonização

Mas na sua opinião tudo isto "é um acelerador e não um travão e se havia medidas em que havia resistência todo este contexto pode remover alguns obstáculos", e acrescenta que "o embargo do petróleo e da energia à Rússia pode ser um acelerador em termos de transição energética". Salientou que a questão da soberania industrial e o encurtamento das cadeias de valor já estavam em documentos da Comissão Europeia em 2018 e que agora são mais aceites. "Isto acontece nas questões da Defesa ou da energia. As empresas não lideram a mudança que vem da sociedade", disse Fernando Alexandre.


O professor da Universidade do Minho salientou que a inflação começou a ser gerada à cerca de um ano por causa do volume de investimentos na transição energética que são colossais. As energias renováveis consomem mais minérios, a eficiência energética também contribuíram com a inflação há cerca do ano e vai continuar pelos próximos dez anos. É o mundo todo a mover-se para o mesmo sentido.


Mesmo sem a guerra da Ucrânia, a transição energética teria custos "porque estamos a mudar o paradigma de fornecimento de energia em todo o mundo e isso tem impacto e se não sugerirem inovações com rapidez. Mexe com tudo e é avassalador e vai retirar investimentos de outros lados. Com uma aceleração de inovação tecnológica pode ser que seja mais rápida.


Mas as alterações tecnológicas e como os combustíveis fósseis estão nas mãos dos ditadores tem levado a estas mudanças. Devíamos ter em casa uma estratégia para diminuir em 5% os custos de energia", conclui Fernando Alexandre.

 

"Nada vai ser igual"

"O mundo está diferente e não vai ser igual, tanto por causa das disrupções como a descarbonização, e os objetivos para combater as alterações climáticos estão na lei da Clima na Europa e em Portugal", sublinhou José Gomes Mendes, presidente da Fundação mestre Casais.


Pensar que as empresas vão pagar mais por produtos com menos custos térmicos não é evidente, segundo José Mendes, por isso terá de haver incentivos e alterações de comportamento com o financiamento e a regulação. "Já há mecanismos que levam a que hoje um projeto de grande intensidade energética tenha algumas dificuldades para obter financiamento por causa da chamada taxinomia verde para as instituições financeiras". Falou ainda no mercado carbono em que está a abranger mais atividades com o pagamento de licenças de emissão e as licenças gratuitas estão a abaixar a possibilidade de emissões de carbono e a taxa de carbono para evitar que se coloquem atividades de grande intensidade carbónica em países fora da Europa vai ser muito difícil.


Se a descarbonização é vista com um problema complexo, José Gomes Mendes, deu o exemplo de um estudo da McKinsey em que os gestores de empresas diziam que teriam de ter mais de 400 dias para uma estratégia de teletrabalho, depois de pandemia os valores eram de 11 dias, por isso a descarbonização pode vir a sofrer um grande avanço.

 

Descarbonização da agricultura

"Temos reduzidos investimentos nas renováveis, deficiente regulação financeira, que foi atendido pelo Green Taxonomia, e do mercado energético com a produção próprio e o armazenamento de energia, a produção de hidrogénio, como revelaram os últimos acontecimentos como a pandemia de Covid-19, a volatilidade do mercado energético, a guerra na Europa", referiu Teresa Ponce de Leão, presidente do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG).


Entretanto, o LNEG produziu um Atlas de Hidrogénio. Sem o gás renovável não conseguimos fazer a descarbonização. Têm projetos também para o biometano para descarbonizar a agricultura e contribuir para uma produção de gás natural. Mas toda esta transição será muito crítica no consumo de matérias-primas e portanto tem de se estudar novos materiais. Referiu ainda as potencialidades da economia circular com mais eficiência nos processos produtivos e na utilização das matérias-primas. Salientou o projeto Circo feito com a Holanda que faz um mapeamento de vários setores e formas de economia circular.


A importância da mobilidade para as partes interessadas e a consciência das emissões de carbono e os efeitos destas externalidades são dois guias para ação de Sandra Cerqueira, administradora executiva da TUB. Entre 2013 e 2019 transportaram mais 21% de pessoas, mais de 2 milhões, e com 38 novos autocarros elétricos. "Agora temos mais 30 elétricas ou com baixas emissões que entraram em operação em 2023 e assim 60% das viaturas já são descarbonizadas. Foram investidos 31 milhões de euros e 58% é suportado pela Câmara", referiu Sandra Cerqueira.


A smart city é um local onde a utilização dos recursos e dos serviços de uma forma mais eficientes pela digitalização, através da contabilização dos dados e dos indicadores, mas também através da gestão inteligente da iluminação pública, tal como a gestão de resíduos", disse Rita Sousa, professora na Escola Economia e Gestão Universidade do Minho. Acrescentou que "existem estas tecnologias e aplicações digitais mas falta uma interligação para poderem ser mais eficientes, exige uma gestão dinâmica dos gastos elétricos que se traduzem em menos emissões de carbono".


O atual modelo de desenvolvimento "desperdiça recursos, que transforma recursos em lixo a uma grande velocidade e ainda por cima gera desigualdades", considerou António Costa e Silva, ministro da Economia e do Mar, que encerrou a conferência. Salientou que 670 mil milhões de euros é o potencial da economia circular e "se tratarmos este lixo pode recuperado 30% das matérias-primas críticas para Europa". Sublinhou que tem de se mudar as políticas nas cidades que representam 2% da superfície, 55% dos habitantes mas consome 75% da energia por isso o novo paradigma das cidades sustentáveis, inteligentes, partilhadas, é tão fundamental. Afirmou ainda que "Braga é uma inspiração, é uma exportadora que cresce acima da média de Portugal e de Espanha".

 

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