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Empresas portuguesas querem ser vistas na “montra verde” da COP29

Umas são veteranas nas conferências da ONU sobre o Clima, mas outras estrearam-se este ano na COP29, no Azerbaijão. Na mala trazem relatos do que andam a fazer e quanto gastam para descarbonizar os negócios.

Rafiq Maqbool
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Segundo a organização, a COP29 recebeu mais de 70 mil participantes nas duas semanas do evento em Baku.

Da energia aos seguros, da banca à advocacia, da consultoria às indústrias química e do papel. Este ano foram muitas as empresas nacionais que marcaram presença no Pavilhão de Portugal na 29.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP29), que se realiza até esta sexta-feira em Baku, capital do Azerbaijão.

No caso da EDP, esta é uma aposta que já vem de longe e começou em 2015, em Paris, ano em que foi assinado o célebre acordo para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius. Ao Negócios, Rui Teixeira, CFO da elétrica, diz que durante estas conferências a EDP "procura sempre contribuir para discussões e iniciativas de combate às alterações climáticas, ligadas à transição dos combustíveis fósseis para fontes renováveis na produção de energia, ao lado de outras empresas, parceiros, decisores e instituições globais".

No fundo, ver e ser visto, ouvir e ser ouvido. Claro que ser "reconhecida como a elétrica mais sustentável do mundo pelo índice Dow Jones" pode ajudar a "ter uma voz ativa em fóruns globais como a COP", explica, defendendo que "é importante manter esta voz ativa do setor privado nos fóruns internacionais". Para a elétrica, a sustentabilidade é "responsabilidade e compromisso", mas também "um diferencial competitivo que gera valor e oportunidades de crescimento económico".

A EDP procura sempre contribuir para discussões e iniciativas de combate às alterações climáticas, ligadas à transição dos combustíveis fósseis para fontes renováveis na produção de energia. Rui Teixeira
CFO da EDP 

A transição climática e energética é urgente, mas para as empresas é também uma enorme oportunidade de negócio. Que o diga Bianca Dragomir, diretora da Cleantech for Iberia, uma coligação de empresas, investidores, bancos e universidades, que quer transformar a Península Ibérica num "hub" de energia limpas. Nesta COP vieram alertar, sobretudo, para aquilo que chama um "gap" de investimento: Portugal e Espanha têm 20% dos projetos de hidrogénio verde do mundo, mas "as startups dos dois países recebem menos 70% de investimento do que as de França e da Alemanha, alertou.

No palco privilegiado da COP, Bianca tentou "levantar a voz" sobre estes temas: "Temos a tecnologia, temos metas ambiciosas, mas precisamos de alavancar o investimento e as parcerias público-privadas, para chegar a 150 mil milhões de euros para energia limpa em Espanha e Portugal".

Para Sofia Jorge, administradora executiva da Altri, esta é a primeira COP de sempre em que a gestora e a empresa marcam presença. Ao Azerbaijão quiseram vir "observar e reafirmar o compromisso com a sustentabilidade, fazer o chamado "networking", conhecer empresas e ONG, e perceber o que é que os outros andam a fazer". Apesar de ter o carimbo de uma das "indústrias mais poluentes", a Altri diz que já evoluiu muito em termos de gestão do uso da água e de energia no processo industrial, usando a biomassa que resulta do fabrico da pasta do papel e preparando-se em 2025 para investir num novo forno preparado para funcionar com gases renováveis (em vez de gás natural). No entanto, falta ainda que Portugal consiga produzir biometano e hidrogénio verde.

Do lado de quem produz os gases renováveis que vão descarbonizar a indústria nacional, a Rega Energy, pela voz do seu responsável João Rosa Santos, foi a Baku pedir mais "apoio" do Estado para conseguir investir os "bem mais de 100 milhões de euros" que tem destinados para 10 projetos de biometano e três de hidrogénio verde no país. O gestor aproveitou para deixar alguns recados à ministra do Ambiente e garantiu que "faz todo o sentido participar" no evento, assumindo: "Tudo nesta vida é uma oportunidade e as empresas têm de o encarar dessa forma".

Pedro Ávila, diretor de Sustentabilidade Operacional da REN, já marca presença há três anos na COP. "É o maior evento mundial nesta área e para nós a participação tem sido muito rica", diz o responsável, admitindo o facto de Portugal ter um pavilhão próprio "facilita a presença das empresas nacionais e o contacto com outras nacionalidades".

A par de empresas como o Montepio, Bondalti, Helexia, Vieira de Almeida, EY, entre outras, a Fidelidade também apostou forte em 2024 na sua estreia numa COP.

João Mestre, diretor de Sustentabilidade da seguradora, lembra "que se as empresas não gerarem lucro, não vão ser sustentáveis financeira e ambientalmente". E frisou que "na Europa, só um terço dos custos de eventos climáticos estão cobertos por seguros", sendo que em Portugal é ainda menos (5 a 20%). Com o dinheiro dos seguros, a Fidelidade quer fazer cada vez mais "investimentos verdes" e reduzir em cerca de 40% as emissões poluentes do seu portefólio até 2030.

*A jornalista na COP29, em Baku viajou no âmbito do projeto Sustentabilidade 20|30

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