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Um terço dos alimentos continua a ser desperdiçado

O desperdício alimentar continua a gerar enormes impactos ambientais, económicos e sociais. Filipa Pantaleão, Paula Amaral e Pedro Santos falam no podcast “Sustentabilidade em Ação” de iniciativas concretas para reduzir o desperdício na cadeia de abastecimento alimentar.

07 de Abril de 2025 às 11:18
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      Segundo as Nações Unidas, cerca de um terço de todos os alimentos produzidos no mundo são perdidos ou desperdiçados em algum ponto da cadeia de abastecimento alimentar. Mais perto de nós, na União Europeia, desperdiçam-se quase 59 milhões de toneladas de alimentos todos os anos (Eurostat; 2022). Este nível de desperdício tem enormes consequências negativas para o ambiente, sendo responsável por 16% das emissões de gases com efeito de estufa do sistema alimentar europeu. Do lado da economia, as perdas são estimadas em cerca de 132 mil milhões de euros anualmente.

      Além das implicações ambientais e económicas, o desperdício alimentar tem também um impacto social considerável num mundo onde milhares de milhões de pessoas ainda enfrentam a insegurança alimentar. Foi a partir desta realidade que se desenvolveu a conversa no âmbito do primeiro episódio do podcasts "Sustentabilidade em Ação". Estes podcasts são conversas entre especialistas sobre diversos temas no âmbito da  iniciativa Negócios Sustentabilidade 20|30, e que tem como propósito promover e incentivar práticas sustentáveis em Portugal.

      Sustentabilidade em ação

      Os protagonistas deste primeiro episódio foram  Filipa Pantaleão, secretária-geral do BCSD Portugal, uma associação empresarial sem fins lucrativos que agrega e apoia mais de 200 empresas na sua jornada para a sustentabilidade e presidente do júri do Prémio Nacional de Sustentabilidade na categoria Economia Circular; Paula Amaral, responsável pela Sustentabilidade e Comunicação da Bel Portugal, uma das empresas mais importantes da indústria alimentar (nomeadamente, nos laticínios), e Pedro Santos, diretor de Operações, Investigação e Desenvolvimento e Inovação da Sonae MC.

      Filipa Pantaleão, secretária-geral do BCSD Portugal e presidente do júri
      do Prémio Nacional de Sustentabilidade na categoria Economia Circular.

      Para estes especialistas, o desperdício alimentar é um problema complexo que exige uma abordagem integrada e colaborativa, envolvendo não apenas os consumidores, mas toda a cadeia de abastecimento, desde a produção agrícola até ao consumidor final. Porque o desperdício de alimentos é, também, um reflexo das ineficiências que permeiam a cadeia de abastecimento.

      Ir à origem combater o desperdício

      Para Paula Amaral, da Bel Portugal, de modo a combater o desperdício é necessário começar pela origem da cadeia alimentar, ou seja, pela produção alimentar. Neste contexto, e além de uma especial atenção ao desenvolvimento de soluções mais sustentáveis e eficientes para o consumo e distribuição dos seus produtos, com a redução da utilização do plástico e a diversificação das porções, a Bel Portugal aposta na sustentabilidade da agricultura regenerativa como uma forma de evitar desperdício desde o início do processo.

      Para esta responsável, "quando se fala em desperdício alimentar, normalmente pensamos nos consumidores, mas para nós é importante considerar o desperdício na origem. E a origem é a agricultura e a produção de alimentos", explica. Um exemplo dessa abordagem mais sustentável do Grupo Bel é o programa "Leite de Vacas Felizes", implementado nos Açores, e que promove práticas agrícolas mais sustentáveis, com maior preocupação com a saúde do solo, com a manutenção da pastagem e com o bem-estar animal.

      Paula Amaral, responsável pela Sustentabilidade e Comunicação da Bel Portugal.

      Uma estratégia do campo à loja

      Já para Pedro Santos, da Sonae MC, o primeiro passo no combate ao desperdício no retalho alimentar foi o reconhecer do problema, e o segundo foi agir para mudar processos, sistemas  e comportamentos. Na Sonae MC, afirma, "este combate tem sido levado a sério, pelo que já conseguimos reduzir em 30% o desperdício alimentar entre 2020 e 2023". No líder do retalho alimentar em Portugal, a estratégia de redução do desperdício alimentar "passa por uma abordagem integrada, desde o campo até à loja", explica.

      No campo, iniciativas como o Clube de Produtores, a reutilização de produtos agrícolas, ou a transformação de excedentes de carne em novos produtos são soluções úteis. Já no ponto de venda, "medidas como a gama Zero Desperdício, de cabazes a preços reduzidos, e a utilização de etiquetas rosa para assinalar o fim do prazo de validade ajudam a evitar o desperdício", conta Pedro Santos. Além disso, explica o responsável, "há 28 anos que temos uma política de doações que no primeiro semestre de 2024 permitiu doar cerca de 14 milhões de euros de produtos alimentares, salvando quatro milhões de refeições", conclui.

      Tecnologia é aliada na redução do desperdício

      Um ponto comum das estratégias de sustentabilidade das duas empresas é uma aposta forte no conhecimento e na tecnologia, acreditando que a inovação e a eficiência são essenciais para garantir um futuro mais sustentável. A Bel Portugal desenvolveu a ferramenta informática Below Carbon, "acessível a todos os colaboradores, que permite medir a pegada de carbono de cada produto, do início ao fim da cadeia de produção", conta Paula Amaral. Também para Pedro Santos,  "a eficiência e a adoção de tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, podem desempenhar um papel crucial na redução do desperdício". Neste contexto, a  Sonae MC está a fazer um projeto-piloto para usar tecnologia para avaliar o nível de maturação de produtos frescos, ajudando a identificar o ponto ótimo de consumo de cada produto e a otimizar a distribuição, para evitar desperdícios.

      Pedro Santos, diretor de Operações, Investigação e Desenvolvimento e Inovação da Sonae MC.

      A chave é a educação

      A inovação tecnológica e as mudanças nos processos de produção não são suficientes por si só. Para o desperdício alimentar ser eficazmente combatido, é essencial haver um esforço significativo na educação e sensibilização dos consumidores. Como enfatizou Filipa Pantaleão, a educação sobre o valor dos alimentos e a forma correta de os utilizar nos lares é fundamental para reduzir os desperdícios, sugerindo que as empresas e as instituições públicas devem investir mais em campanhas educativas sobre o consumo responsável.

      No entanto, e à medida que a tecnologia avança e as práticas sustentáveis se tornam cada vez mais integradas na produção e consumo de alimentos, a esperança é de que, com o tempo, as gerações futuras vivam num mundo onde o desperdício alimentar seja algo do passado. Para Filipa Pantaleão, "a transição para uma economia circular, combinada com soluções inovadoras e comportamentos mais responsáveis por parte dos consumidores, pode ser a chave para um futuro mais sustentável para todos".

      59MILHÕES
      de toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente na União Europeia.
      16%
      das emissões de gases com efeito de estufa do sistema alimentar europeu são originadas pelo desperdício alimentar.
      132MIL MILHÕES
      de euros de perdas económicas todos os anos na União Europeia devido ao desperdício alimentar.
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