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Energia nuclear, o elefante no meio da sala

Não sei se a energia nuclear é a solução para a descarbonização da economia. Porém, dados os atrasos no cumprimento dos objetivos dos Acordos de Paris, não nos podemos dar ao luxo de excluir qualquer possível solução.

Bruno Proença 27 de Março de 2024 às 14:00
Bruno Proença, Consultor de Sustentabilidade
Bruno Proença, Consultor de Sustentabilidade
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Para garantirmos a descarbonização da economia, um facto é certo: necessitamos de mudar o paradigma energético que sustenta o tecido produtivo das nossas sociedades. Temos de colocar um ponto final no domínio das fontes de energia fósseis (carvão, petróleo e gás) e garantir maiores níveis de eletrificação da economia suportados em outras fontes de energia, principalmente renováveis. E qual é o ponto de situação neste processo de transformação? Estamos numa encruzilhada. Os dados são paradoxais.

Por um lado, as energias renováveis, particularmente hídricas, solares e eólicas, começam a ter um peso relevante na produção de eletricidade. Por exemplo, em Portugal, no ano passado, as fontes renováveis foram responsáveis por cerca de dois terços da energia elétrica, atingindo-se um recorde. Porém, nem tudo é positivo. Por outro lado, a nível global, atingiu-se igualmente um novo recorde nas emissões de gases com efeitos de estufa associadas à produção de energia.

Confrontando estes dois movimentos, qual prevalece? O negativo. Os últimos estudos da Agência Internacional de Energia e do painel das Nações Unidas para as alterações climáticas mostram que as reduções das emissões de gases com efeitos de estufa são insuficientes para garantirmos o limite de 1,5 ºC no aquecimento global, que vem dos Acordos de Paris.

Perante isto, devemos acelerar a transformação do paradigma energético. O debate entre os especialistas reside precisamente em qual será o novo paradigma? As energias renováveis são importantes, mas incapazes de garantir a segurança energética que as nossas economias e sociedades exigem. Em alguns setores, por exemplo a aviação comercial, ainda não há verdadeira alternativa aos combustíveis fósseis. Está-se a trabalhar em combustíveis verdes, contudo são ainda muito caros. O hidrogénio verde é outra aposta forte, ainda assim, neste momento, com poucas aplicações práticas, maduras e de fácil comercialização. Resumindo, o novo paradigma energético será um mix de diversas fontes, umas mais verdes, outras nem tanto.

No meio desta discussão, parece haver um tabu: a energia nuclear. Para alguns especialistas, é impossível garantir a descarbonização da economia sem incluir a energia nuclear no novo mix. O nuclear permite forte produção de energia elétrica, de forma continua e praticamente sem emissões de gases com efeitos de estufa. Obviamente que todos conhecemos os argumentos contra: o que fazer aos resíduos nucleares e o perigo de acidentes devastadores. Foi depois da catástrofe de Fukushima, no Japão em 2011, que a Alemanha decidiu encerrar as suas centrais nucleares.

Mesmo assim, parece difícil que qualquer debate sério sobre acelerar o ritmo de descarbonização da economia possa excluir a energia nuclear da equação. Na semana transata, em Bruxelas, realizou-se uma cimeira sobre o nuclear, que juntou políticos e empresas, para discutir o papel deste tipo de energia na redução dos combustíveis fósseis. Na última reunião da COP (COP28 no Dubai), a energia nuclear foi classificada como fonte com baixas emissões de carbono. Neste momento, há uma agenda de investigação na área do nuclear que procura encontrar soluções viáveis em termos de reatores mais seguros e flexíveis.

Não sei se a energia nuclear é a solução para a descarbonização. Porém, dados os atrasos no cumprimento dos objetivos dos Acordos de Paris, não nos podemos dar ao luxo de excluir qualquer possível solução.

Ciências e factos União EuropeiaEm Bruxelas, os Estados-membros da União Europeia estão a debater uma proposta avançada pela França, Dinamarca e Suécia que pretende levantar fortes restrições às exportações, para fora do espaço comunitário, dos desperdícios da indústria têxtil. Com estas medidas, pretende-se mudar os incentivos que favorecem atualmente a "fast fashion" - a compra de muita roupa, barata, que vai rapidamente para o lixo. Isto poderá levar a mudanças no modelo de negócios das empresas têxteis.

FinanciamentoUm estudo recente da CDP e da consultora Oliver Wyman sublinha que a descarbonização das empresas europeias está a ser prejudicada por falta de financiamento. Mais de metade das empresas europeias com níveis elevados de emissões de gases com efeitos de estufa refere que o acesso a capital é o principal obstáculo à adoção de energias renováveis. Em causa está uma falta de capital de 285 mil milhões de euros.
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