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Conflitos armados travam ambição de triplicar energia nuclear até 2050

Para atingir as ambiciosas metas nucleares já traçadas, as economias mundiais terão de instalar 800 gigawatts (GW) de capacidade adicional nos próximos 25 anos, o que equivale a cerca de 30 grandes novos reatores nucleares a entrarem em produção anualmente até meados do século.

Berlim quer encerrar todas as centrais nucleares até ao final deste ano.
Focke Strangmann/Lusa
Negócios jng@negocios.pt 27 de Abril de 2024 às 19:00
O potencial do nuclear como fonte de energia limpa para ajudar a travar as alterações climáticas está cada vez mais em risco. O aviso é feito por investigadores da universidade norte-americana George Washington University apontando para novos dados, que sugerem agora que o crescimento da energia nuclear no mundo pode ser ameaçado pelo aumento da instabilidade geopolítica e de cada vez mais focos de conflitos armados, avançou a Bloomberg na sexta-feira. 

Soma-se o facto de as instituições bancárias mundiais não aceitarem pagar o "preço" já calculado de cinco mil milhões de dólares para triplicar a produção de energia nuclear até 2050. A universidade George Washington alerta que a deterioração das condições de segurança nos principais mercados em crescimento pode também ameaçar a próxima vaga de renascimento da energia nuclear, antes mesmo dela começar.

"É difícil pensar como podemos triplicar a energia nuclear no mundo sem exacerbar o risco de proliferação, terrorismo, sabotagem, coerção e armamento", disse a ex-diplomata do Departamento de Estado dos EUA, Sharon Squassoni, que liderou o estudo. E acrescentou ainda: "As abordagens para reduzir as emissões poluentes devem ter em conta as implicações para a segurança nacional."

Para atingir as ambiciosas metas nucleares já traçadas, as economias mundiais terão de instalar 800 gigawatts (GW) de capacidade adicional nos próximos 25 anos, o que equivale a cerca de 30 grandes novos reatores nucleares a entrarem em produção anualmente até meados do século. E se gigantes como a China e a Rússia estão a apostar no nuclear à escala de GW, muitas economias ocidentais e emergentes reduziram as suas ambições.

Para contornar este problema estão já a ser projetados os chamados pequenos reatores modulares, capazes de gerar um terço ou menos da eletricidade produzida por uma unidade tradicional. O seu desenvolvimento e produção, a uma menor escala e em grande quantidade, poderá potenciar o surgimento de "milhares de novas fábricas adicionais", refere o mesmo estudo.

No entanto, "a introdução em larga escala de pequenos reatores nucleares poderia aumentar os riscos", disse a investigadora. O perigo mais evidente é que os países que estão neste momento em guerra visem diretamente instalações nucleares, como a Rússia fez na Ucrânia quando atacou a central nuclear de Zaporizhzhia, ou Israel contemplou fazer para perturbar o enriquecimento de urânio do Irão. 

Os dados mostram que mais de três quartos dos 54 países que mostraram interesse na construção de minirreatores enfrentam instabilidade política moderada a grave.

Questionado sobre estes riscos, Rafael Mariano Grossi, da  Agência Internacional de Energia Nuclear, disse à Bloomberg que embora os perigos sejam reais, é melhor promover a responsabilidade e segurança do que proibir ou travar o nuclear. "A questão não é instalar mais potência nuclear. É o processo de tomada de decisão dos homens e mulheres que decidem que vão atacar uma instalação nuclear", rematou.
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