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O problema das embalagens não é algo novo. Segundo dados da Comissão Europeia, em média, cada pessoa que reside na União Europeia (UE) gerou 189 kg de resíduos de embalagens em 2021. Em dez anos, a sua quantidade total aumentou mais de 20%. No caso português os números indicam que produziram-se 177 kg de resíduos de embalagem por pessoa em 2021, sendo que esse valor foi de 145 kg em 2012.
Só em 2021, a UE gerou um total de 84,3 milhões de toneladas de resíduos de embalagens, o que significa 4,8 milhões de toneladas mais do que no ano precedente. A maior parte dos resíduos era de papel e papelão (40,3%), seguido do plástico (19%), o vidro (18,5%), a madeira (17,1%) e o metal (4,9%).
Números que levaram, este ano, o Parlamento Europeu a aprovar o relatório que constitui o mandato do Parlamento para as negociações com os governos da UE. O objetivo é o de reduzir as embalagens, restringir formatos de utilização única e proibir a utilização de "produtos químicos eternos". Na prática, e como explica o Parlamento, os eurodeputados querem proibir a venda de sacos de plástico muito leves (espessura inferior a 15 micrómetros), a menos que tal seja exigido por razões de higiene ou fornecido como embalagem primária para alimentos a granel, para ajudar a evitar o desperdício de alimentos. Adicionalmente, as novas regras exigem que todas as embalagens sejam recicláveis.
Uma medida que, na opinião de Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, é muito importante para fazer os sistemas de reciclagem evoluírem. "A harmonização de critérios ao nível europeu de ecomodulação das prestações financeiras no âmbito da Responsabilidade Alargada do Produtor, prevista neste novo regulamento, afigura-se como uma ferramenta muito importante para promover a sustentabilidade das embalagens rumo a uma economia circular", afirma a executiva, acrescentando que ao fixar o valor da prestação financeira em função da presença ou ausência de elementos disruptivos para os processos de triagem e reciclagem, alavanca a inovação no setor para que as embalagens tenham um menor impacto ambiental.
E aqui entra a palavra mágica. Inovação. A par, acrescenta Ana Trigo de Morais, da investigação e desenvolvimento para encontrar soluções para a integração de materiais recicláveis nas embalagens, com menor recurso a matérias-primas e mais utilização de matérias-primas secundárias, através de ferramentas como o ecodesign e a colaboração, como é estratégia e tem vindo a ser defendido pela Sociedade Ponto Verde.
A última embalagem anunciada pela Tetra Pak e a Lactogal é um bom exemplo disso mesmo. Porquê? Porque é 90% renovável e está disponível apenas em Portugal. Trata-se de uma embalagem com uma barreira alternativa de papel, feita com, aproximadamente, 80% de cartão. O conteúdo renovável é de 90%, o que permite reduzir a sua pegada de carbono em um terço (33%).
Consumidores procuram soluções sustentáveis
A Tetra Pak explica que existe uma preocupação crescente dos consumidores por soluções sustentáveis de embalagens. Por outro lado, afirma Ingrid Falcão, "sustainability manager" da Tetra Pak Iberia, a nível europeu, têm sido introduzidas regras que regulam o tipo de embalagens que podem ser colocadas no mercado, associadas igualmente à gestão dos resíduos. "Hoje, todas as embalagens colocadas no mercado da União Europeia têm de cumprir requisitos essenciais relacionados com o seu fabrico, composição e natureza reutilizável ou renovável", acrescenta a executiva, que aponta que hoje as embalagens produzidas pela Tetra Pak são produzidas, na sua maioria, a partir de matérias-primas renováveis, como o cartão proveniente de madeira de florestas com certificação FSC (Forest Stewardship Council) e outras fontes controladas. Adicionalmente, e como parte da estratégia de utilizar meios alternativos a empresa está a introduzir plásticos de origem vegetal, provenientes da cana-de-açúcar, com o selo Bonsucro, em substituição dos plásticos de origem fóssil. Segundo Ingrid Falcão, a utilização destes polímeros permite aumentar a percentagem de materiais renováveis nas embalagens da Tetra Pak, contribuindo para reduzir a pegada de carbono ao longo do ciclo de vida do produto, com certificação Carbon Trust.
As embalagens do futuro
Quer o documento do Parlamento Europeu, quer as estratégias de investigação e desenvolvimento, levadas a cabo por diversas entidades, como por exemplo a Tetra Pak, têm como objetivo criar a embalagem para alimentos e bebidas mais sustentável do mundo, uma embalagem produzida exclusivamente com materiais renováveis ou reciclados, de origem responsável, totalmente reciclável, neutra em carbono e sem que isso comprometa a segurança alimentar. No caso da empresa, e segundo Ingrid Falcão, uma das áreas onde trabalha na questão da sustentabilidade é precisamente a questão do fornecimento das matérias-primas. "Aquilo que estamos a fazer é colaborar com a nossa cadeia de abastecimento para melhorar a rastreabilidade e a transparência do fornecimento, através da utilização de fontes controladas e certificadas", explica a responsável, que acrescenta que "as metas definidas até 2030 incluem zero emissões de GEE e eletricidade 100% renovável nas nossas operações", e que foram vendidas 11,9 mil milhões de tampas e mais de 8,8 mil milhões de embalagens com plástico de origem vegetal a nível mundial - destas últimas, 2 mil milhões correspondem à península Ibérica. "O compromisso com a utilização de materiais de origem vegetal resultou numa poupança de 131 quilotoneladas de CO2", aponta.
A Sociedade Ponto Verde, por outro lado, tem, nos últimos anos, desenvolvido projetos como o Ponto Verde Lab. Como explica Ana Trigo de Morais, trata-se de uma plataforma que coloca os diversos agentes da cadeia de valor das embalagens a colaborarem entre si para atingirem estes objetivos, numa abordagem assente na inovação, tecnologia, inovação e desenvolvimento. "Destaco, por exemplo, o trabalho desenvolvido pela equipa de investigação do IBET - Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica da Universidade Nova de Lisboa para o fabrico de uma película aderente vegan a partir de pele de tomate e de casca de grão de milho", exemplifica, acrescentando que "este é apenas um dos 46 projetos de investigação e desenvolvimento que já apoiamos no âmbito do Ponto Verde Lab envolvendo um total de 87 entidades".
E este é precisamente, para a CEO da Sociedade Ponto Verde, o caminho: investigação e desenvolvimento, aliados à tecnologia e digitalização. "A investigação permite inovar no desenvolvimento de embalagens mais circulares, isto é, que incorporem menos materiais desnecessários, com menor recurso a matérias-primas virgens e mais matérias-primas secundárias, garantindo toda a segurança dos produtos que transportam para o consumidor. Permite também, inovar na recolha e tratamento de resíduos que resultem na melhoria do serviço prestado ao cidadão e, com isso, no aumento dos níveis de reciclagem", afirma.
Indústria deve ser mais eficiente no uso da água
Em Portugal as embalagens são o único fluxo urbano a cumprir com as suas metas de reciclagem. Mas o que pode parecer um ponto positivo, ao na analisar a questão verifica-se que não é bem assim. Como aponta Ana Trigo de Morais, dentro de um ano o país tem de estar a reciclar 65% das embalagens colocadas no mercado, e atualmente essa taxa mantém-se nos 60% (dados de 2023).
E aqui, tanto Ana Trigo de Morais como Ingrid Falcão concordam que os desafios de sustentabilidade estão todos interligados e que só com o esforço de todos os números são alterados. Há que apostar na circularidade das embalagens e infraestruturas de recolha, triagem e reciclagem adequadas. Mas só isso não chega. A executiva da Tetra Pak aponta um outro desafio: "a descarbonização dos sistemas alimentares e a resiliência destes, para aumentarmos o acesso a alimentos de forma segura e reduzir o desperdício". Que tem, obrigatoriamente, de ser complementado com a proteção e restauração da biodiversidade. "A indústria deve ter cadeias de fornecimento responsáveis e fazer uma utilização eficiente de recursos como a água, de forma a minimizar os danos nos ecossistemas", afirma Ingrid Falcão.
Só em 2021, a UE gerou um total de 84,3 milhões de toneladas de resíduos de embalagens, o que significa 4,8 milhões de toneladas mais do que no ano precedente. A maior parte dos resíduos era de papel e papelão (40,3%), seguido do plástico (19%), o vidro (18,5%), a madeira (17,1%) e o metal (4,9%).
Números que levaram, este ano, o Parlamento Europeu a aprovar o relatório que constitui o mandato do Parlamento para as negociações com os governos da UE. O objetivo é o de reduzir as embalagens, restringir formatos de utilização única e proibir a utilização de "produtos químicos eternos". Na prática, e como explica o Parlamento, os eurodeputados querem proibir a venda de sacos de plástico muito leves (espessura inferior a 15 micrómetros), a menos que tal seja exigido por razões de higiene ou fornecido como embalagem primária para alimentos a granel, para ajudar a evitar o desperdício de alimentos. Adicionalmente, as novas regras exigem que todas as embalagens sejam recicláveis.
Uma medida que, na opinião de Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, é muito importante para fazer os sistemas de reciclagem evoluírem. "A harmonização de critérios ao nível europeu de ecomodulação das prestações financeiras no âmbito da Responsabilidade Alargada do Produtor, prevista neste novo regulamento, afigura-se como uma ferramenta muito importante para promover a sustentabilidade das embalagens rumo a uma economia circular", afirma a executiva, acrescentando que ao fixar o valor da prestação financeira em função da presença ou ausência de elementos disruptivos para os processos de triagem e reciclagem, alavanca a inovação no setor para que as embalagens tenham um menor impacto ambiental.
E aqui entra a palavra mágica. Inovação. A par, acrescenta Ana Trigo de Morais, da investigação e desenvolvimento para encontrar soluções para a integração de materiais recicláveis nas embalagens, com menor recurso a matérias-primas e mais utilização de matérias-primas secundárias, através de ferramentas como o ecodesign e a colaboração, como é estratégia e tem vindo a ser defendido pela Sociedade Ponto Verde.
A última embalagem anunciada pela Tetra Pak e a Lactogal é um bom exemplo disso mesmo. Porquê? Porque é 90% renovável e está disponível apenas em Portugal. Trata-se de uma embalagem com uma barreira alternativa de papel, feita com, aproximadamente, 80% de cartão. O conteúdo renovável é de 90%, o que permite reduzir a sua pegada de carbono em um terço (33%).
Consumidores procuram soluções sustentáveis
A Tetra Pak explica que existe uma preocupação crescente dos consumidores por soluções sustentáveis de embalagens. Por outro lado, afirma Ingrid Falcão, "sustainability manager" da Tetra Pak Iberia, a nível europeu, têm sido introduzidas regras que regulam o tipo de embalagens que podem ser colocadas no mercado, associadas igualmente à gestão dos resíduos. "Hoje, todas as embalagens colocadas no mercado da União Europeia têm de cumprir requisitos essenciais relacionados com o seu fabrico, composição e natureza reutilizável ou renovável", acrescenta a executiva, que aponta que hoje as embalagens produzidas pela Tetra Pak são produzidas, na sua maioria, a partir de matérias-primas renováveis, como o cartão proveniente de madeira de florestas com certificação FSC (Forest Stewardship Council) e outras fontes controladas. Adicionalmente, e como parte da estratégia de utilizar meios alternativos a empresa está a introduzir plásticos de origem vegetal, provenientes da cana-de-açúcar, com o selo Bonsucro, em substituição dos plásticos de origem fóssil. Segundo Ingrid Falcão, a utilização destes polímeros permite aumentar a percentagem de materiais renováveis nas embalagens da Tetra Pak, contribuindo para reduzir a pegada de carbono ao longo do ciclo de vida do produto, com certificação Carbon Trust.
As embalagens do futuro
Quer o documento do Parlamento Europeu, quer as estratégias de investigação e desenvolvimento, levadas a cabo por diversas entidades, como por exemplo a Tetra Pak, têm como objetivo criar a embalagem para alimentos e bebidas mais sustentável do mundo, uma embalagem produzida exclusivamente com materiais renováveis ou reciclados, de origem responsável, totalmente reciclável, neutra em carbono e sem que isso comprometa a segurança alimentar. No caso da empresa, e segundo Ingrid Falcão, uma das áreas onde trabalha na questão da sustentabilidade é precisamente a questão do fornecimento das matérias-primas. "Aquilo que estamos a fazer é colaborar com a nossa cadeia de abastecimento para melhorar a rastreabilidade e a transparência do fornecimento, através da utilização de fontes controladas e certificadas", explica a responsável, que acrescenta que "as metas definidas até 2030 incluem zero emissões de GEE e eletricidade 100% renovável nas nossas operações", e que foram vendidas 11,9 mil milhões de tampas e mais de 8,8 mil milhões de embalagens com plástico de origem vegetal a nível mundial - destas últimas, 2 mil milhões correspondem à península Ibérica. "O compromisso com a utilização de materiais de origem vegetal resultou numa poupança de 131 quilotoneladas de CO2", aponta.
A Sociedade Ponto Verde, por outro lado, tem, nos últimos anos, desenvolvido projetos como o Ponto Verde Lab. Como explica Ana Trigo de Morais, trata-se de uma plataforma que coloca os diversos agentes da cadeia de valor das embalagens a colaborarem entre si para atingirem estes objetivos, numa abordagem assente na inovação, tecnologia, inovação e desenvolvimento. "Destaco, por exemplo, o trabalho desenvolvido pela equipa de investigação do IBET - Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica da Universidade Nova de Lisboa para o fabrico de uma película aderente vegan a partir de pele de tomate e de casca de grão de milho", exemplifica, acrescentando que "este é apenas um dos 46 projetos de investigação e desenvolvimento que já apoiamos no âmbito do Ponto Verde Lab envolvendo um total de 87 entidades".
E este é precisamente, para a CEO da Sociedade Ponto Verde, o caminho: investigação e desenvolvimento, aliados à tecnologia e digitalização. "A investigação permite inovar no desenvolvimento de embalagens mais circulares, isto é, que incorporem menos materiais desnecessários, com menor recurso a matérias-primas virgens e mais matérias-primas secundárias, garantindo toda a segurança dos produtos que transportam para o consumidor. Permite também, inovar na recolha e tratamento de resíduos que resultem na melhoria do serviço prestado ao cidadão e, com isso, no aumento dos níveis de reciclagem", afirma.
Indústria deve ser mais eficiente no uso da água
Em Portugal as embalagens são o único fluxo urbano a cumprir com as suas metas de reciclagem. Mas o que pode parecer um ponto positivo, ao na analisar a questão verifica-se que não é bem assim. Como aponta Ana Trigo de Morais, dentro de um ano o país tem de estar a reciclar 65% das embalagens colocadas no mercado, e atualmente essa taxa mantém-se nos 60% (dados de 2023).
E aqui, tanto Ana Trigo de Morais como Ingrid Falcão concordam que os desafios de sustentabilidade estão todos interligados e que só com o esforço de todos os números são alterados. Há que apostar na circularidade das embalagens e infraestruturas de recolha, triagem e reciclagem adequadas. Mas só isso não chega. A executiva da Tetra Pak aponta um outro desafio: "a descarbonização dos sistemas alimentares e a resiliência destes, para aumentarmos o acesso a alimentos de forma segura e reduzir o desperdício". Que tem, obrigatoriamente, de ser complementado com a proteção e restauração da biodiversidade. "A indústria deve ter cadeias de fornecimento responsáveis e fazer uma utilização eficiente de recursos como a água, de forma a minimizar os danos nos ecossistemas", afirma Ingrid Falcão.