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Novo reporte de ESG pressiona PME exportadoras

Num mercado internacional altamente concorrencial, as PME exportadoras olham como uma desafio para as novas regulamentações de sustentabilidade que vão ter de aplicar a partir de 2027. Duas empresas contam como estão a enfrentar as novas exigências.

18 de Outubro de 2023 às 12:00
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A Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativa (CSRD, sigla em inglês), aprovada pela Comissão Europeia em dezembro de 2022, obriga a novas regras de apresentação de relatórios de sustentabilidade pelas grandes empresas, empresas cotadas e PME cotadas.

O calendário de aplicação inicia-se em janeiro de 2024 para o setor financeiro e grandes empresas. Para as PME cotadas em bolsa, o reporte será feito a partir de 2027 com base em informação de 2026, o que significa que as PME que constem da cadeia de valor de grandes empresas deverão preparar-se desde logo, uma vez que "o reporte ESG [sigla para ambiental, social e governação] será uma condição de acesso ao mercado internacional e cadeias de valor mundiais", avisa Bernardo Ivo Cruz, secretário de Estado da Internacionalização, ao Negócios.

As novas regras vão incutir nestas empresas mais responsabilidade pelo seu impacto na sociedade e orientá-las para uma economia que beneficie as pessoas e o ambiente. Em termos práticos, as empresas estarão obrigadas a comunicar informações sobre o seu impacto em questões de sustentabilidade. Ou seja, terão de ter o seu modelo de negócio alinhado com a neutralidade carbónica, identificar a sua pegada de gases com efeito de estufa, explicitar os impactos ao longo da cadeia de valor, determinar os riscos climáticos na sua gestão de riscos.

Para Bernardo Ivo Cruz, chegou-se "a um momento em que a adoção de novos modelos de gestão, com preocupações sociais, de boa governança e ambientalmente sustentáveis, não é apenas uma simpatia ou um ‘nice to have’. O cumprimento das obrigações ESG é uma realidade incontornável que vai condicionar o acesso aos mercados interno e internacionais, o acesso a financiamento e será, acima de tudo, um fator determinante na reputação e valor das organizações". Por isso, acrescenta, "trata-se de um desenvolvimento imprescindível para a competitividade e, a prazo, para a própria sobrevivência empresarial no quadro de uma economia globalizada".

É neste ambiente que surge a Estratégia Nacional ESG para as PME exportadoras, uma iniciativa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, lançada no passado mês de setembro, em parceria com o Ministério da Economia e do Mar, autoridades regionais e locais, universidades e organizações da sociedade civil. O objetivo é apoiar as empresas no seu caminho para modelos de governação assentes em boas práticas de sustentabilidade.


Para o secretário de Estado, o sucesso da estratégia tem por base uma "colaboração estreita" entre todos estes intervenientes, comiserando-a "uma via verde para as PME percorrerem o caminho da sustentabilidade ambiental, da responsabilidade social e da boa governação".

O pulsar das empresas

O país é feito de diversidade de empresas, pelo que apurar o nível de evolução das PME exportadoras portuguesas nesta transição só será possível no final de 2024, quando serão conhecidos os padrões por setores, revela o secretário de Estado. Até lá, questionámos duas PME exportadoras para perceber como estão a vivenciar todos os desafios que as novas práticas de sustentabilidade acarretam.

Ana Vale, diretora de Sustentabilidade da Introsys, conta que, por atuar no setor automóvel, "a implementação de uma estratégia de sustentabilidade em linha com os pilares ESG faz parte dos requisitos que somos obrigados a respeitar para trabalhar com os grandes OEM [fabricante de equipamento original na sigla em inglês]". Por essa razão já criaram um Comité de Sustentabilidade responsável por definir e implementar uma estratégia para o futuro.

Apesar de a CSRD não se aplicar ainda à sua realidade, o relatório de contas anual desta PME já contempla um capítulo dedicado à sustentabilidade. A empresa também adotou as normas do Global Reporting Iniciative (GRI) como ferramenta de reporte e desenvolveu um plano de ação de iniciativas. Paralelamente, subscreveram a carta de princípios do Business Council for Sustainable Developmente (BCSD).

Uma das dificuldades que apontam é o apuramento de gases com efeito de estufa (GEE) da sua cadeia de valor. "Atualmente, a Introsys faz a avaliação das emissões diretas e indiretas de CO2 e de Gases Fluorados de forma manual. Temos presente, e é uma preocupação da empresa, apurar com exatidão a totalidade dos GEE que produzimos, estando a procurar mecanismos mais eficientes para o fazer", conta Ana Vale.

Inês Santos, diretora de Sustentabilidade da ForTeamsLab, reconhece também que "os critérios ESG são condição fundamental para trabalhar com certos clientes, sobretudo com organizações mais desenvolvidas". Reconhecendo os inúmeros desafios que a implementação das diretivas CSRD vai trazer à sua operação, Inês Santos destaca que "é expectável que essa implementação traga custos financeiros e alocação de tempo e recursos, nomeadamente aquando da escrita dos relatórios que, por imposição regulamentar, necessitam de ser detalhados e suportados por informação estruturada". Outra questão prende-se com a reputação, pois "a divulgação dos relatórios irá expor-nos à crítica e escrutínio externo, podendo comprometer ou valorizar a nossa relação com as diferentes partes interessadas", sublinha.

O apuramento dos GEE é também das suas maiores dificuldades. A empresa fez um estudo que identificou que 92,4% das suas emissões estão associadas à cadeia de valor (Scope 3), nomeadamente pelas matérias-primas provenientes da Turquia. Com esta noção, percebeu que tem de substituir este fornecimento, uma vez que o objetivo da empresa é ser neutra em carbono em 2030.

Embora não tenha obrigatoriedade de cumprir a Diretiva, a empresa escolheu de forma voluntária seguir as suas diretrizes, implementando medidas nas várias áreas da organização.
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