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Mais incentivos à gestão do capital natural

“Os grandes gestores de capital natural deveriam ter um incentivo pela remoção do carbono da atmosfera e do carbono dos seus produtos”, defendeu José Pina, CEO da Altri, sobre a remuneração dos serviços dos ecossistemas.

07 de Abril de 2022 às 15:08
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"Quando falamos de capital natural estamos a falar de água de qualidade para fazer funcionar os ecossistemas, os solos férteis onde se possam produzir alimentos, o ar de qualidade e 13 milhões de pessoas morrem no mundo pela poluição", referiu Nuno Banza, presidente do Conselho Diretivo do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, na abertura do painel "Preservar o Capital Natural: Como protegem as empresas a sua matéria-prima?" no âmbito da conferência Sustentabilidade 20/30, iniciativa do Jornal de Negócios que está a decorrer no Pestana Cidadela Cascais.

 

"Somos gestores de uma carteira de ativos, o solo, a água, o ar, os sistemas ecológicos e temos de garantir que esse capital não perde valor e continua a remunerar o acionista. Essa remuneração é os serviços dos ecossistemas, a capacidade que a terra continuar a suportar a vida humana, animal e o funcionamento dos ecossistemas" afirmou Nuno Banza.

 

"Os grandes gestores de capital natural deveriam ter um incentivo pela remoção do carbono da atmosfera e do carbono dos seus produtos", defendeu José Pina, CEO da Altri, sobre a remuneração dos serviços dos ecossistemas, questão levantada por Francisco Ferreira, presidente da Associação Zero, que fez a moderação da mesa redonda.

 

José Pina perguntou como "é que bons gestores de capital natural podem ver os mais reconhecidos e diferenciados os seus produtos junto dos seus clientes e dos vários ativos na cadeia de valor em relação a outros que não o fazem a gestão do capital natural". O CEO da Altri revelou que as faturas ambientais passaram a incluir dados como a indicação sobre as emissões de carbono, consumo de água e quantidade de energia renovável que utilizam, "para que haja capacidade de comparação porque o nosso output é o input dos nossos clientes".

 

Florestas geridas ardem menos

Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), recordou uma experiência piloto desenvolvida pelo Fundo Português de Carbono, que foi um serviço de ecossistema com pagamento direto às chamadas pastagens biodiversas. "São pastagens de montado, que tem pecuária e preservação do próprio habitat, contribui para a diversidade e capturam carbono, foi uma contribuição adicional ao agricultor ao abrigo deste princípio. Esta prática está disseminada na PAC, mas numa escala muito superior", disse Nuno Lacasta.

 

Sobre a forma como as empresas fazem a gestão de ativos biológicos, José Pina salientou que no caso da Altri além da floresta, a água é muito importante para as suas atividades. Esta empresa é um dos maiores gestores de floresta nacional com 88 mil hectares de floresta.

 

"Para nós é importante uma floresta diversa, saudável, produtiva, resiliente e dentro dos 88 mil temos identificadas 9 espécies ameaçadas, temos mais de 4 mil hectares de habitats classificados, temos mais de 8 mil hectares de áreas de conservação. É uma responsabilidade fazer a gestão da melhor forma". Adiantou José Pina ainda que a Altri pretende duplicar, nos próximos dez anos, a área de conservação, para mais de 16 mil hectares. José Pina disse ainda que "a floresta gerida é a que menos arde em Portugal, e se olharmos para as médias, as florestas geridas ardem menos 50% do que as restantes florestas".

 

Maior turbina de água potável

"A gestão do capital natural é uma responsabilidade de todos, ambiental, social, económica, não é apenas água, solo, ar, é energia, inovação, são pessoas. No setor urbano da água, abastecimento, saneamento e reutilização, diferenciamo-nos na proteção do nosso recurso porque somos dos poucos que incentivamos os nossos clientes a consumir menos", disse José Manuel Leitão Sardinha, presidente do conselho de administração da EPAL.

 

Referindo-se à governança do setor da água salientou que a proteção e a vigilância da qualidade da água são feitas em conjunto com ONG, associações ambientalistas, os municípios, e com a APA, neste caso numa articulação quase semanal. Ressaltou ainda a importância do controlo das perdas de água e admitiu que tem clientes que têm perdas de 80% da água que compram, "a quem oferecemos os nossos serviços para aumentar a sua eficiência, reduzir essas perdas e comprarem menos água".

 

O grupo Águas de Portugal tem um projeto para produzir a sua energia elétrica, através de energias renováveis como a fotovoltaica, o solar, o biogás, e hídrica. José Manuel Leitão Sardinha anunciou ainda que a maior turbina de água potável no país para abastecer três milhões de portugueses em 35 municípios na zona da Grande Lisboa, que está a ser instalada, vai passar a ser autossustentável em energia.

 

As duas dimensões do capital natural que as políticas públicas de ambiente têm em conta e procuram fazer a conciliação, são a preservação e proteção a que se juntam dimensões mais modernas como a valorização e a promoção o capital natural, considerou Nuno Lacasta, presidente da APA.

 

Na sua opinião, a gestão do capital natural "passa pelo fomento de uma atividade económica como uma componente de proteção". Assim preservar e proteger ativos naturais com a promoção do turismo, de visitação, nas florestas manter a base industrial que é muito forte, por exemplo, na captura de carbono que é vital para Portugal atingir a neutralidade carbónica em 2050. Sublinhou que "nesta lógica de fomento não devemos ter menos de olhar para uma reindustrialização como a que se registou na pandemia em setores como a saúde". Como concluiu Francisco Ferreira, "capital natural não tem só ver com o que existe mas com o que é necessário criar".

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