Outros sites Medialivre
Notícia

Universidades continuam a formar mais para combustíveis fósseis do que para energias renováveis

Estudo mostra que as universidades não estão a acompanhar as necessidades da transição energética. 68% dos diplomas do ensino da energia a nível mundial centram-se nos combustíveis fósseis e apenas 32% nas energias renováveis.

11 de Março de 2024 às 10:19
  • Partilhar artigo
  • ...

Universidades de todo o mundo continuam a formar mais profissionais para áreas que exploram combustíveis fósseis do que para as indústrias de energias renováveis, conclui um novo estudo do Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais baseado em dados de 18400 universidades que ministram formação específica no domínio da energia em 196 países.

Segundo o estudo "O fracasso da descarbonização do sistema global de ensino no domínio da energia", que compara a prevalência de programas educativos orientados para os combustíveis fósseis e para as energias renováveis, 68% dos diplomas do ensino da energia a nível mundial centram-se nos combustíveis fósseis e apenas 32% nas energias renováveis. Segundo a análise, 546 universidades têm faculdades e/ou cursos dedicados aos combustíveis fósseis, enquanto apenas 247 universidades têm faculdades e/ou cursos no domínio das energias renováveis.

"Isto significa que as universidades não estão a conseguir dar resposta à crescente procura de mão de obra no domínio das energias limpas. Ao ritmo atual de mudança, os diplomas universitários centrados na energia seriam 100% dedicados às energias renováveis apenas no ano 2107. Uma vez que uma carreira pode durar 30-40 anos, isto cria um risco de aprisionamento de carbono a longo prazo e de conjuntos de competências irrecuperáveis devido a uma (má) educação", alertam os analistas.

O trabalho, assinado pelos pesquisadores Roman Vakulchuk e Indra Overland, indica, no entanto, que este fosso está a diminuir, embora não seja suficientemente rápido, tendo em conta a necessidade crescente de trabalhadores qualificados no domínio das energias limpas.

A transição energética implica a transformação das profissões e dos mercados de trabalho, que, por sua vez, dependem da disponibilidade de uma mão de obra com a educação e as competências adequadas. Porém, "os resultados mostram que a rápida adoção das energias renováveis em todo o mundo não é acompanhada por mudanças no ensino superior, uma vez que as universidades continuam a dar prioridade aos estudos sobre carvão e petróleo", escrevem os analistas.

Os resultados mostram também que os países em desenvolvimento estão mais atrasados em relação aos países desenvolvidos neste domínio, embora a necessidade de profissionais com formação em energias renováveis seja maior nos países em desenvolvimento.

A análise compara ainda universidades públicas e privadas. A quota global de programas de licenciatura em energias renováveis nas universidades públicas aumentou de 16% em 1999 para 34% em 2019 e foi inferior à das universidades privadas, que registaram um aumento de 21% em 1999 para 39% em 2019. Assim, as universidades privadas têm sido "ligeiramente mais ativas" do que as universidades públicas na transição para o ensino das energias renováveis.

Tendo em conta que se toda a eletricidade for produzida a partir de energias renováveis em 2050 serão criados quase 35 milhões de novos empregos em todo o mundo ou, como indicam outras estimativas, um abastecimento de eletricidade totalmente renovável criará 52 milhões de empregos a tempo inteiro em 139 países até 2050, é clara a necessidade de mão de obra especializada.

"Durante 2010-2023, registou-se uma escassez crescente de mão de obra qualificada para os sistemas de energias renováveis em todo o mundo e prevê-se uma escassez ainda mais grave no futuro. Estas estimativas divergem devido a diferentes dados de entrada e pressupostos, mas todas elas mostram a mesma tendência geral: com a expansão da produção de energias renováveis, o mundo necessitará de uma grande força de trabalho dedicada às energias renováveis", ressalta o relatório.

Assim, os autores recomendam que as universidades e os decisores políticos canalizem financiamento público e privado que atualmente se destina a apoiar a educação em combustíveis fósseis para as energias renováveis.

 

 

 

 

Mais notícias