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Shell reduz objetivos climáticos e mantém crescimento de combustíveis fósseis

Apesar de se dizer comprometida com a neutralidade carbónica em 2050, a petrolífera alega que o mundo ainda precisa de energia proveniente do petróleo e do gás durante muitos anos.

Sónia Santos Dias 15 de Março de 2024 às 11:03
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A Shell recuou nos objetivos que havia traçado de cortar em 20% na intensidade líquida de carbono dos seus produtos energéticos até 2030, apresentando como nova meta uma redução de 15-20%.

De acordo com a nova estratégia de transição energética, apresentada nesta quinta-feira, a petrolífera vai continuar a apostar em projetos de margens mais elevadas, a produção estável de petróleo e crescimento na produção de gás natural, a fim de aumentar os retornos.

"O mundo necessitará de energia proveniente do petróleo e do gás durante muitos anos. Pouco mais de dois terços das nossas despesas de capital em 2023 destinaram-se à manutenção do abastecimento da energia vital de que o mundo necessita. Isto inclui o gás natural liquefeito, que esperamos que continue a ser uma parte crítica do cabaz energético durante muitos anos, fornecendo energia segura, substituindo o carvão na indústria e proporcionando estabilidade à rede elétrica", pode ler-se no documento divulgado.

Naquela que é a primeira atualização da transição energética da empresa desde 2021, a Shell disse ainda continuar empenhada na transição energética, mantendo o objetivo de atingir a neutralidade carbónica em 2050.

"A nossa atualização da transição energética mostra como estamos a cumprir as nossas metas climáticas", divulga a petrolífera, acrescentando que são "um investidor significativo na transição energética, investindo 10-15 mil milhões de dólares entre 2023 e o final de 2025 em soluções energéticas de baixo carbono. Estes investimentos incluem o carregamento de veículos elétricos, biocombustíveis, energia renovável, hidrogénio e captura e armazenamento de carbono".

As mudanças nos objetivos da Shell são um pilar central na reformulação da estratégia do CEO da Shell, Wael Sawan, que espera que as vendas de energia renovável sejam inferiores às previstas anteriormente. Por isso, a empresa também eliminou uma meta anterior intermédia de reduzir a intensidade de carbono em 45% até 2035.

As alterações refletem os planos de Wael Sawan de manter a produção de petróleo estável e expandir as vendas de gás natural liquefeito, ao mesmo tempo que se torna mais seletivo quanto aos tipos de produtos energéticos com baixo teor de carbono que vende.

Sawan afirmou que as alterações tornam "mais, e não menos, provável" que a Shell atinja os seus objetivos, mas é provável que as revisões provoquem algumas críticas, sobretudo de grupos que já consideravam que a empresa não estava a fazer o suficiente para reduzir o seu impacto ambiental.

"Não se trata de tentar mudar uma trajetória, estamos empenhados nessa trajetória", disse Sawan ao Financial Times. O CEO acrescentou que, nos últimos três anos, a empresa aprendeu que "a forma da transição energética e o ritmo da evolução em diferentes países são incertos".

Wael Sawan considera ainda "perigoso" para a Shell estabelecer metas de redução de emissões para 2035, porque "há muita incerteza no momento na trajetória de transição energética".

A empresa afirmou que planeia reduzir "gradualmente" as vendas de produtos como a gasolina e o gasóleo, mas que continuará a aumentar as suas vendas de GNL, que descreveu como um "combustível crítico na transição energética".

Mark van Baal, fundador do grupo de activistas Follow This, que tem apresentado regularmente moções aos acionistas da Shell pedindo à empresa que reduza as emissões mais rapidamente, criticou imediatamente as mudanças. Ao Financial Times declarou que "este recuo elimina qualquer dúvida sobre as intenções da Shell: a empresa quer manter-se nos combustíveis fósseis o máximo de tempo possível".

De salientar ainda que, antes das alterações, um tribunal holandês tinha decidido que os objetivos originais da Shell não eram suficientemente ambiciosos, instruindo a empresa a reduzir todas as suas emissões em 45%, em termos absolutos, até 2030. A Shell recorreu da decisão e esse recurso será ouvido no próximo mês.

A decisão de continuar a investir em combustíveis fósseis vai contra o conselho de especialistas em clima que afirmaram que não pode haver novos desenvolvimentos de petróleo ou gás se o mundo espera evitar uma crise climática.

Segundo o Financial Times, as emissões totais da Shell no ano passado foram de 1,1 mil milhões de toneladas de CO2, contra 1,3 milhões de toneladas em 2021.

De salientar que a intensidade líquida de carbono é uma medida que avalia a quantidade de dióxido de carbono (CO2) emitido por uma determinada atividade, processo ou produto, levando em consideração tanto as emissões diretas quanto as emissões evitadas ou compensadas.

 

 

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