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Planeta perdeu 69% da vida selvagem desde 1970

Portugal contribui particularmente para a diminuição mundial das populações de tubarões e raias, segundo o novo Relatório Planeta Vivo.

13 de Outubro de 2022 às 08:58
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A vida selvagem teve uma queda média de 69% desde 1970, de acordo com o Relatório Planeta Vivo (RPV) 2022 da WWF, que monitorizou mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes. O relatório alerta para o estado grave da natureza e aponta para a urgência de implementar ações transformadoras por parte de governos, empresas e cidadãos, de modo a reverter a destruição da biodiversidade.

Portugal contribui particularmente para a diminuição mundial das populações de tubarões e raias e continua também a consumir em excesso, sendo necessários os recursos de 2,88 planetas para fazer face ao consumo dos portugueses, um aumento face ao relatório anterior, publicado em 2020 (2,52 planetas no último relatório).

A abundância destas espécies diminuiu 71% ao longo dos últimos 50 anos, sendo Portugal o 2.º país a nível mundial com maiores exportações conhecidas de carne de tubarão e o 6.º maior importador de carne de raia em termos de volume. Implementar medidas para a proteção dos tubarões e raias em Portugal teria, assim, o poder de impactar toda a rede comercial global no caminho de proteção destas espécies, o que justifica a criação de um Plano de Ação Nacional para a Gestão e Conservação dos Tubarões e Raias, refere a WWF.

"A vida selvagem continua a decair de forma alarmante, o que traz graves consequências para a nossa própria saúde e subsistência, e Portugal não está isento de responsabilidades. Apelamos ao Governo e empresas do nosso país para que não ignorem os sinais de urgência enviados pelo nosso planeta, pois é dele que toda a humanidade depende", afirma Ângela Morgado, diretora executiva da ANP|WWF, acrescentando que "as tendências atuais indicam que esta emergência dupla das alterações climáticas e da perda de biodiversidade pode ser invertida, mas precisamos de acelerar as mudanças transformacionais com políticas e ações assertivas".


Apresentando o maior conjunto de dados trabalhados até aos dias de hoje, com quase 32 mil populações de 5.230 espécies em monitorização, o Índice Planeta Vivo (IPV), fornecido no relatório da Zoological Society of London (ZSL), mostra que é nas regiões tropicais que as populações de vertebrados monitorizados estão a cair a um ritmo alucinante. Este é, segundo a WWF, um motivo de particular preocupação, uma vez que várias dessas áreas geográficas são das mais biodiversas do mundo. Em particular, os dados do IPV revelam que, entre 1970 e 2018, as populações de animais selvagens monitoradas na região da América Latina e do Caraíbas caíram, em média, 94%.

Em menos de uma vida humana, as populações de água doce monitorizadas caíram em média 83%, o maior declínio de qualquer grupo de espécies. A perda de habitat e as barreiras às rotas de migração (nomeadamente barragens e outras barreiras fluviais) são responsáveis por cerca de metade das ameaças às espécies de peixes migratórios monitorizados.

"Enfrentamos duas emergências: as alterações climáticas provocadas pelos seres humanos e a perda de biodiversidade, que ameaça o bem-estar das gerações atuais e futuras. Estamos deveras preocupados com estes novos dados, que mostram uma queda devastadora nas populações de animais selvagens, em particular nas regiões tropicais que são das paisagens mais biodiversas do mundo", afirma em comunicado Marco Lambertini, diretor-geral da WWF Internacional.

Em dezembro, os líderes mundiais vão reunir-se na 15.ª «Conferência das Partes (COP15) da Convenção sobre Diversidade Biológica e terão uma oportunidade única de reverter esta realidade, para o bem das pessoas e do planeta, destaca a WWF. A associação defende que os líderes devem comprometer-se com um acordo "ao estilo de Paris", capaz de reverter a perda de biodiversidade, para garantir um mundo positivo para a natureza até 2030.

"Na COP15, os líderes têm a oportunidade de redefinir a nossa relação com a natureza e garantir um futuro mais saudável e sustentável para todos, assinando um acordo para a biodiversidade que seja global, ambicioso e positivo para a natureza", destaca Marco Lambertini. "Perante esta crescente crise da natureza, é essencial que este acordo garanta ações imediatas no terreno, inclusive por meio de uma transformação dos setores que impulsionam a perda da natureza e apoio financeiro aos países emergentes."

A escalada de crises globais como as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e o aumento da fome têm aumentado a urgência da transformação dos sistemas alimentares. A WWF sustenta que a forma como produzimos os alimentos está a colocar o planeta em risco e, por isso, e em paralelo com o RPV, lança hoje o "The Great Food Puzzle", onde são identificadas 20 alavancas para a transformação dos sistemas alimentares. "Este é um ponto de partida para os governos tomarem medidas a nível nacional sobre a produção, consumo, perda e desperdício de alimentos. É urgente acelerar a transição para sistemas alimentares sustentáveis através de políticas a nível nacional que sejam integradas com metas climáticas e de biodiversidade", destaca a associação ambientalista.

Os dados hoje apresentados reforçam que os principais fatores do declínio da população da vida selvagem em todo o mundo são a degradação e perda de habitat, exploração, introdução de espécies invasoras, poluição, mudanças climáticas e doenças. Vários desses fatores desempenharam um papel na queda de 66% das populações de animais selvagens em África durante este período, bem como na queda geral de 55% na Ásia-Pacífico. No caminho de reversão deste declínio, garantir um futuro positivo para a natureza não será possível sem reconhecer e respeitar os direitos, governança e liderança de conservação dos povos indígenas e comunidades locais em todo o mundo, refere a WWF. 

 

 

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