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Esqueça Tsipras e fique atento a Draghi

No primeiro semestre deste ano, as notícias nos mercados financeiros foram dominadas pela crise grega, que foi ganhando perspectivas cada vez mais dramáticas.

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No primeiro semestre deste ano, as notícias nos mercados financeiros foram dominadas pela crise grega, que foi ganhando perspectivas cada vez mais dramáticas. Mas olhando para o balanço das variações dos principais índices accionistas mundiais nos primeiros seis meses deste ano, quase todos atingiram máximos históricos ou de muitos anos. A 30 de Junho, precisamente no dia em que pela primeira vez um país do euro falhou um pagamento ao FMI, quase todos os índices accionistas europeus acumulavam ganhos anuais de dois dígitos.

Como se justifica então que as bolsas europeias apresentem este desempenho num ano em que a Zona Euro enfrenta uma das mais graves crises de sempre e muitos questionem o futuro da moeda única? Os preços das acções das empresas cotadas, tal como da grande maioria de todos os produtos e serviços em todo o mundo, são determinados pela relação entre a procura e a oferta. E a verdade é que os investidores, como poucas vezes aconteceu, não encontram fora do mercado accionista alternativas reais e atractivas de investimento. Ao tiro de partida dado pela Fed em 2008 seguiu-se em todo o mundo um movimento de descida agressiva das taxas de juro. Uma política monetária generalizada de juros zero que empurrou os investidores para as acções numa altura em que a liquidez, também devido à acção dos bancos centrais, está em níveis elevados.

É verdade que a Grécia é um grave problema que a Europa tem (e continuará a ter) em mãos, mas a sua dimensão, como o FMI deixou preto no branco a semana passada, é há muito conhecida. O país precisa de uma reforma profunda e uma reestruturação de dívida para ter um futuro de esperança. Mas este diagnóstico já é velho e não serve por isso de justificação para o comportamento das bolsas em 2015.

Se fizermos a contabilidade do dia-a-dia, as variações de grande parte das sessões bolsistas deste ano foi justificada com a Grécia. Se as acções subiram foi porque ganhou força a expectativa de um acordo entre Atenas e os credores, se desvalorizaram foi porque a possibilidade de acordo ficou mais distante.

Mas no final do ano, quando se fizer o balanço do desempenho das bolsas em 2015, a crise da Grécia (a não ser que os desenvolvimentos se agravem de forma dramática) merecerá pouco mais do que uma nota de rodapé. Já os bancos centrais continuarão a merecer o título principal dos relatórios dos bancos de investimento. Por isso, se é um investidor que altera a sua carteira diariamente, é bom com que continue muito atento aos tweets de Alexis Tsipras e de todos os outros actores da crise grega. Mas se está no mercado com uma perspectiva de longo prazo, basta que fique atento ao que diz Janet Yellen e Mario Draghi.

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