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Crescer acima das suas possibilidades

A economia está a crescer acima do seu potencial e a taxa de desemprego prepara-se para descer abaixo do nível "natural". É o que nos dizem os modelos mas as economias teimam em mover-se e em pregar partidas aos economistas.

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Antes da crise, eram os portugueses que viviam acima das suas possibilidades. Agora, diz o Banco de Portugal, é a economia que está a crescer acima das suas possibilidades.

Nas projecções para a economia portuguesa para o período 2018-2020, divulgadas ontem, o banco central escreve que a actividade económica terá "um crescimento superior ao potencial". Isso mesmo já terá acontecido no ano passado. Isto quer dizer que a economia está a crescer a um ritmo insustentável face aos recursos disponíveis (força de trabalho e stock de capital), mas também a tecnologia disponível ou o enquadramento legal e institucional.

Em causa está o famoso produto potencial, um conceito abstracto para o qual não há um número porque os economistas não se entendem sobre a melhor forma de o calcular. Em Dezembro, o Banco de Portugal estimava que andasse entre zero e 2% em Portugal, mas reconhecia também que a "a utilização do produto potencial enquanto ferramenta de análise exige um cuidado especial".

O problema é que esse cuidado não existe na prescrição de políticas que é feita a partir desse conceito. Muita coisa gira hoje à volta do produto potencial. Serve para medir a sustentabilidade do crescimento económico, mas também para aferir a sustentabilidade das contas públicas. Quanto menor o crescimento potencial, maior é a necessidade de reduzir os gastos do Estado e maior a ênfase posta na defesa de reformas estruturais, designadamente no mercado de trabalho e do produto.

No mercado de trabalho, o produto potencial encontra tradução na chamada taxa natural de desemprego que, segundo cálculos recentes, andará entre 6% e 7%. Ou seja, esta é a taxa de desemprego abaixo da qual o mercado laboral entra em desequilíbrio, gerando um crescimento indesejável de salários e, consequentemente, de preços.

Acontece que a realidade parece estar a desafiar este enquadramento teórico. Países como os Estados Unidos, mas também o Reino Unido ou a Alemanha, estão quase em pleno emprego há anos sem que isso se reflicta na tão temida escalada dos salários e da inflação. O mesmo parece passar-se em Portugal. E há razões para isso. A concorrência à escala global, o enfraquecimento do movimento sindical e o efeito das reforma dos mercado do trabalho têm travado a valorização salarial.

Como disse Galileu sobre o movimento da terra, também hoje se pode afirmar sobre o PIB potencial ou a taxa de desemprego natural: "e pur si muove".

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