Opinião
O sal, o sol, o sul
António Santos tem o nome mais banal do mundo. Não o conheço, nunca o vi, é meu amigo no Facebook.
Quando ontem lá perguntei "Como é que se escreve um Editorial antidepressivo, manda-se a cabeça emigrar durante duas horas?", recebi muitas respostas. Incluindo esta: "Pede-se a uma criança". Era a resposta do António Santos.
Foi o que fizemos nesta edição: ouvir crianças e velhos, homens e mulheres, famosos e anónimos. No dia em que celebramos o oitavo aniversário da edição diária do Negócios (dos quase 14 anos desde que lançámos o sítio na Internet) fomos falar com portugueses. Preferimos os eleitores aos eleitos. E perguntámos-lhes: de que se orgulham em Portugal?
Esta edição não exclui a realidade: sim, a troika aterrou ontem, há eleições no domingo e não se sabe como a Grécia se vai safar e se Portugal escapa à enxurrada. Mas alargámos os limites. Procurar o "Portugal Positivo" é fechar um dos olhos; fixar-nos no "Portugal negativo" é ter os dois olhos no chão.
Não é preciso mudar de assunto para respirarmos melhor. Mas é preciso escolher, para que não seja o assunto a mudar de "nós". É com economia e política que se regenerará a economia e a política. Nesta edição falamos de empresas, de inovação, de exportações, de economia, do que conquistámos. E falámos com gente anónima, incluindo a gente anónima que há nas personalidades públicas. "Todas as grandes personagens começaram por ser crianças, mas poucas se recordam disso", escreveu Antoine de Saint-Exupéry.
Orgulhamo-nos de Portugal? De que nos orgulhamos em Portugal? Quem tem medo, ou vergonha, de ter orgulho? Respostas dos 8 aos 80, de gente como Catarina, a mais nova, e de Henrique, o mais velho. E de outro Henrique, de 67 anos, que sabe que "quando tudo já parece irremediavelmente perdido, num golpe de asa não se sabe de onde e sem saber bem como, Portugal ressuscita".
Ao longo desta edição, encontrará 73 testemunhos desse orgulho. As paisagens, as praias, o sol, a costa alentejana, o fim da tarde na Serra de Sintra, o fim da noite no Cabo da Roca, Belém "para andar de bicicleta" - a rua de Alfama onde cada um de nós já se desmoronou. A História, a independência de Timor-Leste, os monumentos, o Castelo de Guimarães. A gastronomia, o cozido à portuguesa, o vinho do Porto, o melhor peixe do mundo, o sabor do nosso pão - a "cultura de café", a amizade -, a hospitalidade, a tolerância, a generosidade, a luminosidade. A emigração. A imigração. O universalismo. Nós. O Instituto Pedro Nunes, a Faculdade de Economia da Nova. O desporto, o futebol, o Futebol Clube do Porto, o Benfica, o surf. A fé, Nossa Senhora de Fátima, os heróis, Rosa Mota, o Tiago "Saca" Pires, os cientistas, os profissionais de saúde. A Filomena, mãe de Rui Pedro. A Língua Portuguesa, a literatura, Fernando Pessoa, Jorge de Sena, os livros de Eça, as letras do Carlos Tê, esta frase, dita pelo João Pedro, de 19 anos: "Orgulho-me de Portugal, por ser o rectângulo com mais vértices do mundo". O fado. Um poema de Alexandre O'Neill, Portugal, "se fosses só o sal, o sol, o sul", que se espelha noutro poema, "Sul", de Ruy Duarte de Carvalho, frenética aliteração que o Nicolau Santos (que escreve todas as semanas que "Portugal Vale a Pena") diz sempre que diz poesia. Portugal não está perdido, precisa de achar-se.
Fui ver: segundo o Facebook, António Santos é de Montemor-o-Novo, "sabe french, língua castelhana, english, língua portuguesa". É emigrante. Vive em Cork, na Irlanda. Na Irlanda. É português.
Nenhuma destas 73 respostas é a minha, mas todas elas são nossas. Qual é a sua? Quer ajudar Portugal? Orgulhe-se de si mesmo.
Foi o que fizemos nesta edição: ouvir crianças e velhos, homens e mulheres, famosos e anónimos. No dia em que celebramos o oitavo aniversário da edição diária do Negócios (dos quase 14 anos desde que lançámos o sítio na Internet) fomos falar com portugueses. Preferimos os eleitores aos eleitos. E perguntámos-lhes: de que se orgulham em Portugal?
Não é preciso mudar de assunto para respirarmos melhor. Mas é preciso escolher, para que não seja o assunto a mudar de "nós". É com economia e política que se regenerará a economia e a política. Nesta edição falamos de empresas, de inovação, de exportações, de economia, do que conquistámos. E falámos com gente anónima, incluindo a gente anónima que há nas personalidades públicas. "Todas as grandes personagens começaram por ser crianças, mas poucas se recordam disso", escreveu Antoine de Saint-Exupéry.
Orgulhamo-nos de Portugal? De que nos orgulhamos em Portugal? Quem tem medo, ou vergonha, de ter orgulho? Respostas dos 8 aos 80, de gente como Catarina, a mais nova, e de Henrique, o mais velho. E de outro Henrique, de 67 anos, que sabe que "quando tudo já parece irremediavelmente perdido, num golpe de asa não se sabe de onde e sem saber bem como, Portugal ressuscita".
Ao longo desta edição, encontrará 73 testemunhos desse orgulho. As paisagens, as praias, o sol, a costa alentejana, o fim da tarde na Serra de Sintra, o fim da noite no Cabo da Roca, Belém "para andar de bicicleta" - a rua de Alfama onde cada um de nós já se desmoronou. A História, a independência de Timor-Leste, os monumentos, o Castelo de Guimarães. A gastronomia, o cozido à portuguesa, o vinho do Porto, o melhor peixe do mundo, o sabor do nosso pão - a "cultura de café", a amizade -, a hospitalidade, a tolerância, a generosidade, a luminosidade. A emigração. A imigração. O universalismo. Nós. O Instituto Pedro Nunes, a Faculdade de Economia da Nova. O desporto, o futebol, o Futebol Clube do Porto, o Benfica, o surf. A fé, Nossa Senhora de Fátima, os heróis, Rosa Mota, o Tiago "Saca" Pires, os cientistas, os profissionais de saúde. A Filomena, mãe de Rui Pedro. A Língua Portuguesa, a literatura, Fernando Pessoa, Jorge de Sena, os livros de Eça, as letras do Carlos Tê, esta frase, dita pelo João Pedro, de 19 anos: "Orgulho-me de Portugal, por ser o rectângulo com mais vértices do mundo". O fado. Um poema de Alexandre O'Neill, Portugal, "se fosses só o sal, o sol, o sul", que se espelha noutro poema, "Sul", de Ruy Duarte de Carvalho, frenética aliteração que o Nicolau Santos (que escreve todas as semanas que "Portugal Vale a Pena") diz sempre que diz poesia. Portugal não está perdido, precisa de achar-se.
Fui ver: segundo o Facebook, António Santos é de Montemor-o-Novo, "sabe french, língua castelhana, english, língua portuguesa". É emigrante. Vive em Cork, na Irlanda. Na Irlanda. É português.
Nenhuma destas 73 respostas é a minha, mas todas elas são nossas. Qual é a sua? Quer ajudar Portugal? Orgulhe-se de si mesmo.
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