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23 de Maio de 2007 às 13:59

O emprego da demagogia

Um coro de protestos levantou-se ante a notícia de que a TAP se prepara para despedir 350 trabalhadores da Portugália Airlines, metade deles, depois de consumar a sua aquisição. A notícia é chocante. A reacção também.

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Vindo dos sindicatos, o protesto é legítimo. Do PCP, é programático. Do PSD e do PP é demagógico. A lógica das críticas é a seguinte: uma empresa pública como a TAP não pode comprar uma outra empresa para criar desemprego. E vai daí, requere-se ao ministro da tutela que explique à Assembleia da República as motivações do negócio. Até para Mário Lino esta é fácil de explicar: é a economia, estúpido.

Os trabalhadores da Portugália têm razões para estarem chocados. Tem até razões para se sentirem enteados na relação parental que vão ter de estabelecer com os seus futuros colegas da TAP: têm menos regalias, ganham menos dinheiro e vão continuar a ser pior pagos.

Mas o que os deputados contestam é um "nonsense". Porque estão a considerar que é o Governo quem manda fazer ou desfazer os negócios da TAP. Mas se é assim, as perguntas que os deputados devem fazer são outras.

Há várias motivações para uma empresa comprar outra. A Sonaecom quis comprar a PT para deixar de ser pequenina e porque via muito valor desperdiçado. O BCP tentou adquirir o BPI porque precisava de balanço para crescer a Leste. A Controlinvest, a Cofina, a Cabovisão querem lançar-se à PT Multimedia porque vêem nela complementaridade de negócio. Mas em todos estes casos há sempre uma palavra mágica: sinergias. A difícil equação de 1 + 1 = 3. E sinergias quer dizer ter mais receitas e menos custos. E qual é o primeiro custo que está invariavelmente no topo da lista? O pessoal. O BCP, por exemplo, ia mandar para casa três mil funcionários do BPI. A lei dos negócios é dura, mas é a lei dos negócios.

Portugal vive com a taxa de desemprego mais elevada dos últimos 20 anos. No primeiro trimestre deste ano, quase não criou emprego. Como diz Eduardo Catroga a páginas 20 e 21 desta edição, há 470 mil desempregados a que acrescem 108 mil que já desistiram de procurar emprego. Mas como bem lembra o próprio economista, numa entrevista aliás completamente desassombrada, só investimento saudável cria emprego saudável. Cabe aos gestores e empresários fazê-lo. E cabe aos Governos não cair em tentações populistas tais como mandar fazer obras só para criar bolsas esporádicas de emprego; ou contratar no próprio Estado, como Guterres fez criando uma alquimia negra; ou prometer criar 150 mil postos de trabalho.

O que os deputados da Nação defendem é que o dinheiro dos impostos mantenha empregos artificiais. Mas a verdade é que este negócio é melhor para quem vende, o Grupo Espírito Santo, do que para quem compra, uma empresa pública. Por mais sinergias que Fernando Pinto invoque para justificar uma aquisição que no passado frontalmente rejeitou; por mais mérito que se reconheça à capacidade inovadora, concorrencial e persistente com que a PGA encara o negócio da aviação (onde há casos indignos como o da Air Luxor), fica claro que a TAP compra uma empresa que nunca teve lucros, tem uma frota relativamente antiquada, não publica contas há dois anos e está a pique. É isso que vai ter de ser explicado. Mas já agora, que o não seja pelo ministro. Fernando Pinto sabe mais de números.

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