Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

O cartão de visita

O tema polémico dos horários das grandes superfícies comerciais regressa hoje ao debate na Assembleia da República. Um antigo confronto de abordagens vai ser reeditado. Bloco de Esquerda e PCP querem mais restrições, em nome da defesa do pequeno comércio

  • ...

Nos tempos mais recentes, a avaliar pelas tendências na actividade das empresas imobiliárias, o investimento em espaços situados fora dos grandes centros comerciais tem vindo a crescer. Os projectos de grande dimensão parecem ter chegado a um ponto de esgotamento e o regresso às lojas “com porta aberta para a rua” são um negócio em crescimento para quem vive da transacção de imóveis.

Se a tendência é esta, pelo menos nos grandes centros urbanos há sinais de que os hábitos dos consumidores estão novamente em mudança. Desta vez, para ameaçar a viabilidade dos espaços comerciais de maior porte e beneficiar as lojas de menor dimensão, muito provavelmente aquelas que foram capazes de se adaptar às exigências e necessidades dos consumidores.

Nesta discussão, os argumentos contra a liberalização dos horários padecem de paternalismo e visam subtrair à esfera privada dos cidadãos a decisão sobre onde e quando fazer compras. Ignoram as dificuldades que, nos centros mais populosos, as famílias enfrentam para conseguir compatibilizar o cumprimento dos seus horários laborais e escolares, bem como as solicitações da vida familiar, com a gestão do tempo disponível para adquirirem os bens e serviços de que necessitam.

Chega a sugerir-se que a proibição de abertura das grandes superfícies ao domingo é uma forma de garantir o tradicional dia de lazer, confundido o regime de horários das grandes superfícies com aquilo que as leis laborais devem estatuir a respeito do descanso. De caminho, cai-se no alçapão do controlo do Estado sobre aspectos da vida das famílias em que não deve ser tido, nem achado. Um país em que o Governo ou o Parlamento discutem e decidem em que dia da semana devem as famílias gozar os tempos livres não mostra um cartão de visita recomendável em matéria de liberdade.

PS - As estatísticas divulgadas pelo Ministério das Finanças sobre os prazos médios de pagamento das administrações públicas aos respectivos fornecedores são elucidativas. Revelam como o sector público, para além da pressão que exerce na absorção de recursos das famílias e das empresas, é um elemento de distorção de um funcionamento saudável do mercado. Forçando a uma gestão de tesouraria altamente penalizadora, sobretudo das empresas de menor dimensão, as administrações públicas pagam, em média, a 96 dias, contribuindo para contaminar a economia com atrasos na liquidação de facturas. O Estado é uma erva daninha.

Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio