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08 de Maio de 2006 às 13:59

Contra a corrente

O presidente da Renova, Paulo Pereira da Silva, recebeu o prémio de dirigente do ano do sector não alimentar em Espanha, que lhe foi atribuído pelos seus pares (do Clube de Dirigentes da Indústria) para distinguir a «trajectória de excelência» da Renova n

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Um físico quântico que assumiu a improvável função de presidente da empresa familiar e que, fazendo jus ao espírito científico da sua formação, tem feito da Renova uma das mais inovadoras empresas portuguesas. O verdadeiro prémio que tem recebido tem sido a penetração em mercados tão difíceis e exigentes como Espanha e França, não abdicando da marca própria e de impor produtos que se distinguem sem ser pelo preço.

A Brisa também continua a dar-nos alegrias, se nem sempre como consumidores, pelo menos como portugueses. Com a Via Verde inovou a nível mundial com o sistema electrónico de cobrança de portagens. Foi há 15 anos mas não ficou a dormir sobre os louros e hoje Portugal é o país com maior taxa de penetração do sistema electrónico a nível europeu, uma liderança destacada à frente dos números dois e três, a Itália e a França, segundo dados da Associação Europeia de Concessionárias de Auto-Estradas. E continua a não querer ficar por aqui e prepara-se para começar no próximo ano a substituir as actuais praças de portagem pelos novos pórticos sem barreiras físicas e para avançar com a interoperabilidade de sistemas de cobranças de portagens a nível comunitário, ou seja, que os diferentes sistemas nacionais e de diferentes concessionários sejam compatíveis entre si, à semelhança do que acontece com grande número de cartões bancários de pagamento.

Estes casos dão que pensar. São conseguidos em sectores diversos, com diferentes níveis de intensidade tecnológica e de concorrência, mas percebem que para crescer e ter sucesso não é possível pensar apenas no mercado português. A Renova já vende fora de Portugal mais de 50% dos produtos para higiene pessoal e o seu sucesso em Espanha faz torcer o nariz às eternas queixas de que os portugueses são sempre vítimas do proteccionismo do país vizinho.

Num tempo em que imperam as más notícias, o panorama nacional está mais cinzento do que nunca. É o défice orçamental, é a ruptura da segurança social, é a crise da economia que não descola e o desemprego que não abranda.

Não é de estranhar que os portugueses apareçam como os mais pessimistas da Europa. O facto de termos o fado onde outros têm o samba deve querer dizer alguma coisa. Por feitio, já somos propensos à depressão,  mas a verdade é que não temos tido grandes razões para sorrir. Se até Cavaco Silva reconhece que a situação económica do país está «condenada» até 2010, não sendo sequer certo que melhore nos anos seguintes, quem pode duvidar? A notícia da confidência do PR era tão explosiva que até o «Expresso», que deu a notícia, lhe dedicou apenas uma discreta breve na primeira página.

Para afogar as mágoas, os portugueses continuam a gastar o que podem e o que não podem e a queixar-se do Estado e dos políticos. Pela minha parte, prefiro acreditar que não temos nada da estruturalmente errado, tirando características que não nos distinguem de outros povos do Sul da Europa, como a dependência da autoridade e a aversão pelo risco, e o cortejo de vícios associados. É um mal nacional mas não é uma fatalidade. Como  provam os exemplos da Renova e da Brisa.

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