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Bom rumo, mau rumo

As estimativas para o desempenho da economia portuguesa durante o primeiro trimestre deste ano, divulgadas ontem, incluem duas boas notícias.
Os bancos apresentam resultados demasiado elevados. O desabafo é relativa

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As estimativas para o desempenho da economia portuguesa durante o primeiro trimestre deste ano, divulgadas ontem, incluem duas boas notícias. A actividade acelerou 2,1% em comparação com os três primeiros meses de 2006, ritmo que já não se verificava há seis anos. E o Instituto Nacional de Estatística divulgou os números dentro do prazo de 45 dias após o final do período analisado, o que aproxima o país das boas práticas seguidas pelos seus parceiros europeus mais exigentes. Posto isto, há razões consistentes para José Sócrates ter rejubilado com aquilo que considera serem os sinais de uma "recuperação clara"?

As exportações portuguesas sustentaram aquela taxa de crescimento da economia, o que, sendo saudável, revela que o "motor" de arranque está a ser fornecido pelos grandes mercados europeus. Sobram duas dúvidas. Ainda ninguém explicou qual a sustentabilidade daquele comportamento que, com alguma credulidade, poderia configurar uma espécie de "milagre da competitividade". E os dados anunciados não detalharam o que se terá passado com o investimento, um alicerce indispensável para consolidar um cenário mais optimista. É certo que o número de desempregados recuou 10% em Abril passado, podendo evidenciar que estará a ressuscitar. Mas a prova dos nove só surgirá com a revisão das estimativas.

Até lá, devem poupar-se os foguetes. E mesmo nessa altura, convém que o primeiro-ministro não esqueça que uma melhoria conjuntural ajuda a disfarçar, mas não chega para resolver debilidades estruturais. Se o Governo tem um rumo, como Sócrates gosta de afirmar, será necessário mantê-lo.


Os bancos apresentam resultados demasiado elevados.

O desabafo é relativamente comum em Portugal.

E as motivações são diversas. Há quem acuse o sector de pagar uma baixa taxa efectiva de imposto sobre o rendimento, considerando a situação como um "escândalo". Há, também, quem aponte o dedo às instituições financeiras por razões ideológicas. Lucros e ganância são considerados sinónimos.

E quando os primeiros crescem a um ritmo acelerado, em contraste com o andamento da economia, é porque se está perante uma inequívoca prova de que o capitalismo é uma expressão da natureza humana no seu pior.

Tudo isto é discutível. Mas o que mais surpreende é que raramente alguém atribua o sucesso da banca portuguesa a um simples facto que explica muita coisa, quando se trata de analisar os motivos por que os lucros dos bancos superam recorde atrás de recorde. É que os clientes são, em geral, muito pouco habilidosos na gestão dos seus interesses, embora sejam excelentes, ainda que de forma involuntária, a gerir os interesses das instituições financeiras. Subscrevem produtos caros e pouco rentáveis, aplicam um boa parte do seu dinheiro em depósitos mal remunerados e, para completar o quadro, endividam-se por tudo e por nada.

Entre a irresponsabilidade e a iliteracia dos devedores, as empresas de crédito ao consumo até já conseguem captar quase um terço dos seus novos clientes através de uma simples mensagem sms enviada para os telemóveis. Os lucros da banca são elevados? Sem dúvida. E a culpa é dos consumidores.

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