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22 de Fevereiro de 2017 às 00:01

Vamos reflectir sobre a reflexão

Três economistas, João Salgueiro, José António Girão e Manuel Pinto Barbosa, assinaram ontem no Diário de Notícias um artigo de opinião no qual defendem que deve haver um "escrutínio público e a análise criteriosa das propostas vinculativas a serem apresentadas" para o Novo Banco, de forma que este não se venha a transformar "em mais um pesadelo para o erário público e para os contribuintes nacionais".

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Até aqui tudo bem. Os portugueses estão escaldados com a banca e olham para o sector com profunda desconfiança. O mais inquietante vem depois, quando os três economistas, fundadores do grupo de reflexão sobre a "Reconfiguração da banca em Portugal", escrevem: "Da reflexão que tem sido possível fazer sobre esta problemática , e em particular tendo presentes os contactos havidos (...), resulta claro que se justifica, agora com acrescida urgência, o prolongamento da reflexão, por forma a tornar possível estimular a resolução do problema central do investimento produtivo."

Este tem sido, de facto, um problema estrutural em Portugal. Depois de uma reflexão prolonga-se a reflexão e, concluída esta, entra-se num segundo estádio de reflexão, o qual permitirá, porventura, atingir o zénite da reflexão. Entretanto, no meio de tanta reflexão, o Banif já foi parar a mãos espanholas, e o BPI seguiu o mesmo caminho. Enquanto isso, na Caixa Geral de Depósitos, tenta-se esconder do "escrutínio público" as causas que levaram o banco público a necessitar de uma injecção de capital de quatro mil milhões de euros, agitando com o fantasma de esta opção ter "consequências gravíssimas". Pelo caminho existem umas carnavalescas SMS que mascaram o essencial, a averiguação das razões que conduziram a Caixa ao buraco.

Acresce que para os empresários a nacionalidade dos donos dos bancos não atemoriza. Antes pelo contrário. Associações empresárias ouvidas pelo Negócios, logo após a conclusão da OPA do CaixaBank sobre o BPI, aplaudiram esta transferência do controlo da instituição, argumentando que os bancos espanhóis são mais sensíveis à concessão de crédito às empresas.

Portugal é estupendo a fazer reflexões e imbatível nos diagnósticos. O problema é que quando chega a conclusões ou pretende avançar para a execução de decisões, a realidade sobre a qual reflectiu aturadamente já não existe. O caso do Novo Banco e, de forma mais lata, do sistema financeiro nacional, não escapa a este triste fado. 
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