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O Governo impossível

O novo Governo espanhol, liderado por Pedro Sánchez, será irremediavelmente transitório, mas é também a oportunidade para o PSOE se projectar de novo como partido no poder, depois do fraco resultado obtido nas legislativas de Junho de 2016.

Na altura, o PSOE manteve o estatuto de segunda força política, mas acossado pelo Podemos, tendo os dois partidos ficado separados por pouco mais de 1%. Nas sondagens mais recentes surge no terceiro posto, ultrapassado pelo Ciudadanos.

A nomeação de Sánchez, mais do que mérito próprio, resulta do cansaço que existia em relação à governação de Mariano Rajoy, visível até entre a corrente de opinadores ideologicamente mais próxima do PP. Rajoy passou à história, e os casos de corrupção fizeram uma sombra determinante aos méritos do seu governo, sobretudo em matéria económica.

Sánchez chegou ao poder através de uma coligação negativa cujos interesses são inconciliáveis. Aliás, basta atentar na escolha do líder do PSOE para ministro dos Negócios Estrangeiros  para ter a certeza de que assim será. Sánchez optou por Josep Borrell, um catalão que sempre se manifestou contra a independência da região, sendo que chegou a chefe do Governo também com o apoio de dois partidos da Catalunha que a professam, a ERC e o PDeCAT.

Esta experiência governativa servirá para Pedro Sánchez ganhar traquejo e, em paralelo, resgatar o PSOE da subalternidade em que se encontra no que respeita à intenção de voto. Um dado que joga a seu favor é o facto de o PP ir entrar agora num processo de descoberta de um novo presidente na sequência da demissão de Mariano Rajoy. Isto é, para Sánchez será mais fácil impor-se e conquistar espaço mediático enquanto o PP se encontrar numa crise de liderança.

O novo primeiro-ministro espanhol tem tudo a seu favor. Se tudo correr bem, pode reclamar para si os méritos. Se as coisas derem para o torto, terá sempre a hipótese de apontar o dedo a terceiros, até porque não será difícil encontrar culpados entre os muitos partidos que votaram favoravelmente a moção de censura. Este Governo será impossível e de curta duração. Mas abre também a possibilidade de Pedro Sánchez ter legítimas ambições a vencer as próximas eleições, possivelmente em 2019, transformando-se num primeiro-ministro com poder efectivo e uma legitimidade inquestionável.

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