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09 de Fevereiro de 2017 às 00:01

O BPI já não é o BPI

8 de Fevereiro de 2017 ficará para a história da banca nacional como o dia em que o BPI deixou de ser o BPI.

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A OPA lançada pelo CaixaBank, que a partir de ontem passou a deter 84,5% do capital, significa que o BPI tem o seu destino traçado, o de ser uma sucursal dos hegemónicos donos espanhóis. Uma conclusão reforçada pelo facto de Fernando Ulrich, líder histórico do banco, ser substituído por um gestor espanhol, Pablo Forero. A matriz do BPI, que assentava na dupla Ulrich/Santos Silva, desaparece.

O próprio Artur Santos Silva, até agora "chairman" do BPI, no decurso da conferência de imprensa pós-OPA, declarou que o banco ia entrar numa "nova era", mas logo depois desabafou: "Não me preocupa nada ser sucursal de um banco espanhol." Enquanto isso, diplomaticamente, o presidente do CaixaBank, Gonzalo Gortázar, lá foi dizendo que mesmo com um espanhol à sua frente o BPI terá "o centro de decisão em Portugal". Alguém acredita?

É um facto que o banco vai entrar numa "nova era". Só que esta nova era, além da transferência de poder para Barcelona, a sede do CaixaBank, vai traduzir-se na inevitável saída do banco que o próprio criou do índice PSI-20. Isto porque somadas as participações do CaixaBank (84,5%) com a da Allianz (8,3%), facilmente se conclui que o BPI ficaria com um "free-float" ligeiramente superior a 8%, muito pouco para justificar a presença do banco no mercado de capitais, depauperando ainda mais a principal montra da bolsa de Lisboa.

Uma dúvida que terá resposta nos tempos mais próximos é a da forma como o novo BPI se relacionará com os seus clientes empresariais, tendo em consideração expectáveis ajustamentos na sua política creditícia, para se colocar em linha com as práticas creditícias da casa-mãe.

A história que se foi escrevendo para chegar até aqui ainda tem muitas pontas soltas. A começar pelas exigências do Banco Central Europeu (BCE), que conduziram à ruptura com Isabel dos Santos, passando pelo posicionamento de Fernando Ulrich e Artur Santos Silva, e terminando na forma como o CaixaBank geriu todo o processo. O conhecimento do passado não serve para mudar nada, mas clarificaria de forma definitiva as motivações de todos os protagonistas neste processo.

Já agora, à luz desta realidade, também seria bom conhecer as opiniões de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa, que, em Abril de 2016, manifestaram ao presidente do BCE, Mario Draghi, preocupação pela excessiva espanholização do sistema financeiro nacional. 

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