Opinião
Lisboa como o algodão
É redutor analisar as autárquicas à luz dos resultados de Lisboa? É. Mas – há sempre uma adversativa – a realidade é que tem sido a partir de Lisboa que emanam os cenários políticos futuros. Depois de Krus Abecasis, que foi presidente da Câmara entre 1978 e 1989 (com o apoio do seu partido, o CDS, e do PSD), Lisboa traçou sempre a rampa de lançamento para outros voos políticos.
Jorge Sampaio, que em 1989 ganhou a Câmara com uma aliança então inédita entre o PS e o PCP, saiu dos Paços do Concelho para se candidatar a Presidente da República e ganhou as eleições em 1995. Em Lisboa, venceu Marcelo Rebelo de Sousa, forçado a fazer uma travessia no deserto político. Nas presidenciais, derrotou Aníbal Cavaco Silva, que teve de esperar por melhores dias.
Sampaio deixou João Soares como sucessor em Lisboa. Em 2002, Soares filho enfrenta Pedro Santana Lopes nas urnas e perde. O candidato do PSD, e também vice-presidente do partido, transforma-se em presidente da Câmara e dois anos depois chega a primeiro-ministro, na sequência do convite endereçado a Durão Barroso (que então ocupava o lugar) para presidir à Comissão Europeia.
Em 2007, António Costa, que tinha sido ministro da Administração Interna de José Sócrates, aceita o desafio do também secretário-geral do partido e concorre à Câmara de Lisboa. Nas urnas, derrota Carmona Rodrigues e fica a aguardar o seu momento político. Em 2015, renunciou ao mandato e chega a secretário-geral do PS, substituindo António José Seguro, e em Novembro do mesmo ano ascende a primeiro-ministro.
Ou seja, o valor de uma vitória ou de uma derrota em Lisboa extravasa a geografia do concelho. A vitória de Fernando Medina na capital é o primeiro passo de uma carreira que fará paragem numa pasta importante do Governo, da mesma forma que o segundo lugar de Assunção Cristas legitima de forma enfática a sua liderança do CDS/PP e empresta ao partido uma nova vitalidade.
Por isso, a derrota de Teresa Leal Coelho não é apenas um problema da própria. É um falhanço de Pedro Passos Coelho e o epílogo de um ciclo político no PSD. Passos desvalorizou a natureza crucial do resultado em Lisboa e foi vexado pela sua anterior colega de governo, Assunção Cristas. É um exagero considerar Lisboa como o centro do mundo político? Claro que é. Mas as evidências mostram que a capital funciona como tal, desprezando estes putativos estados de alma. Lisboa é como o algodão, não engana.
Sampaio deixou João Soares como sucessor em Lisboa. Em 2002, Soares filho enfrenta Pedro Santana Lopes nas urnas e perde. O candidato do PSD, e também vice-presidente do partido, transforma-se em presidente da Câmara e dois anos depois chega a primeiro-ministro, na sequência do convite endereçado a Durão Barroso (que então ocupava o lugar) para presidir à Comissão Europeia.
Ou seja, o valor de uma vitória ou de uma derrota em Lisboa extravasa a geografia do concelho. A vitória de Fernando Medina na capital é o primeiro passo de uma carreira que fará paragem numa pasta importante do Governo, da mesma forma que o segundo lugar de Assunção Cristas legitima de forma enfática a sua liderança do CDS/PP e empresta ao partido uma nova vitalidade.
Por isso, a derrota de Teresa Leal Coelho não é apenas um problema da própria. É um falhanço de Pedro Passos Coelho e o epílogo de um ciclo político no PSD. Passos desvalorizou a natureza crucial do resultado em Lisboa e foi vexado pela sua anterior colega de governo, Assunção Cristas. É um exagero considerar Lisboa como o centro do mundo político? Claro que é. Mas as evidências mostram que a capital funciona como tal, desprezando estes putativos estados de alma. Lisboa é como o algodão, não engana.
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